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Greve derruba venda de TVs para a Copa

Márcia De Chiara

São Paulo

14/06/2018 07h20

Às vésperas da estreia do Brasil na Copa do Mundo, o comércio aposta todas as fichas no bom desempenho da seleção nos jogos da primeira fase do torneio para tentar reverter totalmente a queda que houve nas vendas de TVs por causa da greve dos caminhoneiros.

Com a paralisação e a mudança no humor do consumidor, pressionado pelo desemprego elevado e pelo endividamento, o varejo deixou de vender cerca R$ 245 milhões em TVs entre o Dia das Mães e a primeira semana da greve, iniciada no dia 21 de maio, aponta um estudo da consultoria GFK, que monitora as vendas online e nas lojas físicas. Os cálculos foram feitos comparando as vendas realizadas nesse período deste ano com as de 2014, quando houve Copa.

"Analisamos a tendência de venda de TVs em anos de Copa e notamos crescimento nos períodos mais próximos do início do evento", diz a diretora da consultoria, Gisela Pougy. O pico de vendas de TVs para Copa geralmente ocorre na segunda quinzena de maio. Neste ano, a terceira semana de maio coincidiu com a primeira semana de greve e as vendas de TVs recuaram 24% em comparação com a semana anterior, mostra o estudo. Na última semana de maio, que foi a segunda de greve, houve um avanço de 18% no faturamento com TVs ante o período imediatamente anterior. Apesar da reação, as perdas não foram totalmente cobertas.

"Tem muito estoque de TVs e o maior volume está no varejo", afirma José Jorge do Nascimento Jr., presidente da Eletros, associação que reúne a indústria. Só no primeiro trimestre, as vendas de TVs da indústria para o comércio cresceram 46,5% em unidades em comparação com igual período de 2017. Foram entregues 3,7 milhões de aparelhos. Para o ano, a perspectiva inicial era produzir 12,5 milhões de TVs, um pouco acima do ano passado (11,3 milhões), mas muito abaixo de 2014, quando houve Copa e foram fabricados 14,9 milhões de TVs. "Projetamos 12,5 milhões de TVs para este ano, mas o viés é de baixa", admite o presidente da Eletros.

Paulo Naliato, diretor da Via Varejo, dona das redes Ponto Frio e Casas Bahia, diz, por meio de nota, que "as vendas estão dentro da expectativa da companhia". A rede Extra informa, também por meio de nota, que definiu uma meta elevada para o período e, até o momento, as vendas de TVs estão acima das expectativas.

No entanto, segundo fontes do mercado varejista, até o momento as vendas de TVs por conta da Copa estão bem abaixo das expectativas. "O volume de vendas é hoje entre 30% e 40% da meta", diz o executivo de uma grande rede que prefere o anonimato. O fraco desempenho até o momento ocorre por causa da greve dos caminhoneiros que tirou o impulso do consumidor para as compras, que já não era tão forte devido ao endividamento e ao desemprego elevados.

Apesar de torcer para que o mercado "vire" com o bom desempenho da seleção nessa primeira fase do campeonato, o executivo não acredita que essa recuperação nas vendas seja factível. Esse prognóstico é contrário ao da diretora da GFK. "A venda deve se recuperar com o fim da greve e a demanda natural da Copa", diz Gisela.

Liquidação

Se as vendas não se recuperarem totalmente nos próximos dias, aumentam as chances de o varejo começar a liquidar TVs nas próximas semanas. Com isso, o preço das TVs que já caiu 12,07% neste ano até maio, segundo o IBGE, pode recuar ainda mais. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".