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Vale é 1ª empresa a recuperar grau de investimento das três agências de risco

Fernanda Guimarães

25/07/2018 07h10

Menos de três anos depois da tragédia da Samarco, em Mariana (MG), e da pressão de queda dos preços internacionais do minério de ferro, a mineradora Vale voltou a ter grau de investimento pelas três grandes agências de classificação de risco. A companhia é a primeira empresa nacional a obter os três selos - das agências Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s - depois de o Brasil ter perdido o grau de investimento e da piora da crise no país.

Enquanto a reconquista do selo de bom pagador pelo Brasil ainda não está no radar, a Vale recuperou a distinção da "trinca" de agências de classificação de risco na segunda-feira, após a Moody’s ter elevado a avaliação da empresa. Entre as vantagens da obtenção do grau de investimento, está a captação de recursos a taxas de juros mais baixas.

A avaliação da Vale mudou pouco mais de um ano depois da chegada de Fabio Schvartsman, executivo escolhido para presidir a companhia e torná-la mais previsível aos olhos do mercado financeiro.

A confiança renovada na empresa é percebida nas ações da companhia. No acumulado dos últimos 12 meses, a ação da mineradora registra alta de quase 80%. Neste ano, a valorização chega perto de 30%. Nessa terça-feira (24), os papéis ordinários da Vale subiram 3,45%, para R$ 51,31.

Perfil financeiro

A Moody’s, que havia retirado o grau de investimento da Vale no início de 2016, justificou, ao devolver a avaliação, que a empresa modificou o perfil de produção e conseguiu reduzir dívida.

"A conclusão do projeto S11D possibilitou um aumento substancial na produção de baixo custo, enquanto o aumento do foco na mistura de minério de ferro de melhor qualidade e maiores prêmios deram suporte à lucratividade", disse a agência, em comunicado.

Desde a chegada de Schvartsman à Vale, a companhia ampliou a meta de redução de endividamento, caminho que já vinha sendo trilhada na gestão anterior, de Murilo Ferreira. Ao fim do primeiro trimestre, a dívida líquida da Vale somava US$ 14,9 bilhões, uma redução de 35% desde março de 2017. A intenção é encerrar o ano com endividamento líquido de US$ 10 bilhões. A redução da dívida foi auxiliada por vendas de ativos. Agora, o movimento seguirá adiante com geração de caixa, segundo a companhia.

A decisão da Moody’s levou também em conta o acordo assinado mês passado entre Vale, a BHP Billiton (sua sócia na Samarco) e as autoridades brasileiras para diminuir os danos causados pelo rompimento da barragem, que incluíram não apenas impactos ambientais, mas resultaram também resultaram na morte de 19 pessoas.

No fim de 2017, outro movimento garantiu à companhia maior visibilidade do mercado: a migração das ações ao Novo Mercado, segmento de mais elevadas práticas de governança corporativa da B3.

No fim do ano passado, o diretor executivo de finanças e relações com investidores da Vale, Luciano Siani, havia dito que a recuperação do grau de investimento era uma meta da companhia. Com esse selo, a tendência é de custos mais baixos para captação de recursos.

O BTG Pactual, em relatório ao mercado, reiterou sua recomendação de compra para a ação da Vale, a despeito do bom desempenho recente do papel.

O banco de investimento destaca o prêmio de qualidade do minério de ferro da companhia, além de um bom momento da empresa para ganhos, assim como sua maior previsibilidade de gestão. "Com uma impressionante alocação de capital e com um jogo claro para os próximos anos, acreditamos que a história de ação foi materialmente arriscada", diz o BTG.

Balanço

A Vale divulga nesta quarta-feira (25) seu resultado referente ao segundo trimestre. Com um impulso do prêmio de qualidade de seu minério de ferro, a Vale deverá apresentar um desempenho financeiro robusto no período.

A geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado deverá crescer 43% na relação anual para US$ 3,9 bilhões, conforme a média das projeções de cinco instituições financeiras consultadas pelo Prévias Broadcast (BB-BI, BTG Pactual, Itaú BBA, Morgan Stanley e Safra). As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".