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BC reafirma que estímulo começará a ser removido gradualmente se cenário piorar

Fabrício de Castro e Fernando Nakagawa

Brasília

27/09/2018 10h27

O Banco Central usou o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), publicado nesta quinta-feira, 27, para reforçar série de mensagens a respeito da política monetária, que já constavam na ata mais recente do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada na terça-feira, 25. Uma das principais é a de que a Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 6,50% ao ano, começará a subir gradualmente se o cenário e o balanço de riscos piorarem.

Assim como nos documentos anteriores, o BC não cita diretamente as incertezas em torno da corrida eleitoral, mas lembra da importância de continuidade das reformas econômicas para a manutenção da Selic em níveis baixos.

"A continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia", diz o BC. "O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes."

Ao mesmo tempo, a instituição lembra que a evolução do cenário prescreve a manutenção da Selic no atual nível, ressaltando que as próximas decisões dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

"O Copom entende que deve pautar sua atuação com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica", diz o RTI. "Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva (isto é, na propagação a preços da economia não diretamente afetados pelo choque)."

Conforme o BC, é por meio dos efeitos secundários que os choques podem afetar a inflação e alterar o balanço de risco. "Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária", disse o BC, retomando ideia já presente em outras comunicações.

Greve dos caminhoneiros

O Banco Central avaliou no RTI que "o impacto da paralisação no setor de transporte de cargas sobre os preços dos alimentos mostrou-se mais expressivo que antecipado". De acordo com o BC, a greve respondeu por parcela significativa da "surpresa inflacionária" com o IPCA de junho e julho.

Em junho, o BC esperava inflação de 1,06%, mas a taxa efetiva foi de 1,26% (surpresa inflacionária de 0,20 ponto porcentual). No caso de julho, a expectativa era de 0,27%, mas o IPCA ficou em 0,33% (surpresa de 0,06 ponto porcentual).

"Em contrapartida, a inflação de agosto situou-se abaixo do que fora projetado (-0,09% ante 0,20%), devolvendo a surpresa inicial, em linha com a avaliação de que a paralisação representou um choque de caráter temporário", disse o BC. A instituição destacou ainda a evolução mais favorável que o esperado, em agosto, dos preços do etanol, das passagens aéreas e dos alimentos.

No RTI, o BC ainda publicou dois boxes especificamente sobre os efeitos da greve dos caminhoneiros: um tratando dos impactos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) e outro sobre as consequências para a inflação.

Entre as conclusões do BC está a de que a greve dos caminhoneiros impactou negativamente, de forma relevante, a atividade no segundo trimestre do ano e as expectativas para o restante de 2018. "Embora as projeções para a evolução do PIB no terceiro trimestre tenham permanecido relativamente estáveis no pós-greve, indicando crescimento expressivo, a trajetória é consistente com a percepção de que a evolução mensal da atividade econômica nesse período se mostra mais moderada relativamente à dinâmica implícita nas expectativas que eram observadas no período anterior à paralisação", pontuou o BC.

No caso da inflação, a conclusão é de que os efeitos altistas da greve foram transitórios. "Essa perspectiva é reforçada pelas expectativas de mercado, que logo após a greve mostraram revisões de alta da inflação esperada dos meses de junho e julho, e de baixa da inflação prevista de agosto até dezembro", acrescentou o BC.