Brasil pode atrair mais investidores estrangeiros, diz presidente do BNP Paribas
Qual sua percepção em relação ao Brasil diante de um novo governo?
Vemos condições muito promissoras no Brasil e as incertezas cessaram com o fim do processo eleitoral, o que é positivo. Estive em encontros com nossos clientes e sempre fico impressionado com o nível de sofisticação e de conhecimento dos empresários com os quais me encontro enquanto estou no Brasil. As companhias estão se tornando cada vez mais internacionais, o que acredito ser um bom hedge, e nos mostram o quão vibrante, se bem organizada, essa economia pode ser.
Pode-se dizer que o sr. está otimista?
Sou um banqueiro, estou tentando ser pragmático e realista. O que vejo aqui é promissor. Este País tem muitos talentos e habilidade para inovar. Continuamos capitalizando a subsidiária do Brasil, fizemos isso em 2016, no meio da crise, numa decisão contracíclica. E diante do crescimento que prevemos, é provável que no início do ano que vem uma nova capitalização ocorra.
Que caminhos o Brasil tem de perseguir para atrair o investimento estrangeiro? Tivemos a Lava Jato, a economia desacelerou, tivemos muitos problemas aqui e os investidores ficaram mais afastados do País...
O mundo tem muito problemas, relacionados a questões políticas, sociais e econômicas. Tenho visto um cenário diferente aqui, onde, apesar dos problemas, os estrangeiros continuam a investir. Estamos em posição para fazer tal afirmação, porque fazemos a ponte entre as Américas, a Europa e a Ásia para o Brasil, vemos a entrada de recursos das empresas e dos países. Apesar, portanto, dos fatores que você descreveu, que são reais, temos visto esperança na economia do Brasil e em seu potencial. Se assumirmos que daqui em diante, com o novo governo, as métricas econômicas vão se mover na direção correta, proporcionando maior estabilidade, haverá uma maior atração de investidores estrangeiros.
Como o sr. vê o Brasil em relação aos outros países emergentes?
Quando se olha para esses países, percebe-se que são muito específicos, têm pontos fortes e desafios. O que vejo no Brasil é uma comunidade vibrante, domesticamente dedicada em alguns setores, e um excelente exportador. Uma indústria bancária muito forte, bem administrada, com um regulador muito responsável. Não vejo isso em qualquer lugar. Percebi nas conversas que tenho com as empresas uma habilidade de ligar os pontos com o mundo e interesse dos investidores em diversificar, não vejo isso em todo o lugar do mundo.
O País pode se beneficiar da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, como muitos dizem no mercado?
O Brasil tem uma relação e um fluxo comercial muito forte com a China e poderia provavelmente desempenhar um papel diferente nesse cenário, mas não acredito que precise ter um papel significante nas discussões comerciais. A guerra comercial parece ser mais um evento conjuntural e, efetivamente, o que vemos é a possibilidade de as exportações do Brasil para a China se tornarem mais competitivas, assim como os investimentos estratégicos da China no Brasil.
O sr. acredita que os Estados Unidos estão sob o risco de uma recessão?
A economia dos Estados Unidos viveu um dos mais longos períodos de crescimento forte, inflação e desemprego baixos, as empresas têm muito caixa e são pouco alavancadas e os bancos capitalizados e líquidos. O possível, com o que está acontecendo, é que tenhamos concluído um ciclo. A economia americana não deve entrar em colapso, mas desacelerar, e já há sinais práticos, como as projeções mais cautelosas das companhias e nos comentários do presidente do Fed (o banco central americano) sobre a velocidade da elevação do juro. Acreditamos que o Fed adotará uma postura mais cautelosas e gradual no ano que vem. Nossa projeção é de dois aumentos do juro americano ao longo de 2019, com a taxa chegando a 3%. Se o Fed desacelerar o processo de aperto monetário no ano que vem, os países que tiverem dívidas em dólar terão uma situação mais fácil.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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