Se embaixada mudar, pode haver boicote árabe, diz Khaled Hanafi
Representante das indústrias e de empresários da Liga Árabe, Hanafi veio ao Brasil depois de, na semana passada, a Arábia Saudita ter vetado a importação de frango de cinco frigoríficos brasileiros. "As pessoas nos países árabes não se sentirão confortáveis com a mudança na embaixada, especialmente os consumidores, e isso pode prejudicar os negócios na região. Uma vez que eles recebam essas informações, ninguém poderá controlar a reação", disse.
Se em um primeiro momento o governo brasileiro tentou desvincular o veto aos frigoríficos brasileiros da questão diplomática, o discurso do presidente da entidade árabe demonstra o contrário. Ele disse que "até agora" o embargo aos produtos brasileiros é feito por questões técnicas e que não há problemas generalizados. "Temo que essas ações técnicas possam mudar a percepção e a atitude dos consumidores. Não estamos falando apenas de frango, mas de todos os produtos brasileiros."
A ideia da transferência da Embaixada do Brasil de Tel-Aviv para Jerusalém, levantada pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial, causou muita polêmica e preocupação, especialmente entre os exportadores de carnes brasileiros, que têm no mundo árabe um importante mercado. A mudança implica reconhecimento pelo Brasil de Jerusalém como capital de Israel. Porém, os palestinos já reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino.
Boicote. Para Hanafi, o simples anúncio de que a embaixada será transferida, mesmo que não concretizado, pode desencadear um boicote que, uma vez iniciado, dificilmente será contido. "Tivemos experiências com assuntos semelhantes e hoje, com as mídias sociais, isso pode levar as pessoas a reagirem. Alguns produtos foram retirados do mercado por causa de coisas como essa, mesmo produtos muito conhecidos", disse, evitando citar países e produtos. Já houve boicotes de países árabes a marcas como Coca-Cola e McDonalds no passado.
Nas reuniões com as autoridades brasileiras, os árabes acenaram com o aumento de investimento e do comércio bilateral. Hanafi levou ao governo brasileiro proposta de construir centros de estocagem e distribuição das exportações brasileiras em portos estratégicos em países árabes. A ideia é criar uma espécie de hub para a distribuição de produtos do Brasil entre esses países. Também há o intuito de manufaturar os produtos na região, como soja e cana-de-açúcar. "Temos de manter e aumentar os negócios entre o Brasil e os países árabes."
Hanafi disse que há um potencial grande de aumento do comércio entre os países árabes e o Brasil, assim como de investimentos e parcerias estratégicas. "A ideia de transferir a embaixada não afeta só os negócios existentes, mas também os em potencial. Estamos falando de bilhões de dólares e milhares de empregos no Brasil." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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