Maia se diz 'perplexo' com a demissão de Levy
A participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, no processo de "fritura" de Joaquim Levy antes do seu pedido de demissão da presidência do BNDES deixou o Congresso com a impressão de que a equipe econômica continua participando da "usina de crises". O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que ficou "perplexo" pela forma como o ministro tratou o subordinado.
Para ele, Levy era um quadro de qualidade que tinha muito a acrescentar para garantir as reformas que o país precisa neste momento.
O presidente da comissão especial da reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), também criticou a demissão. "O presidente Bolsonaro não entendeu que alguns quadros são suprapartidários. Eles não contribuem com um ou outro governo. Contribuem com o país", disse. "É uma pena. No fim das contas, quem perde é o Brasil."
Já o líder do Podemos, José Nelto (GO), levantou dúvidas sobre o real motivo da demissão. "Estou preparando para que ele seja convocado na Comissão Parlamentar de Inquérito [CPI] do BNDES. Ele terá de ir lá explicar o motivo da demissão dele. Se foi por um motivo político ou se foi porque ele não quis abrir a 'caixa-preta' do BNDES. Porque ele não mostrou os empréstimos internacionais, para países da América e da África, e para a JBS também", disse.
A Câmara criou em março uma CPI para examinar operações do banco de 2003 a 2015, com foco no financiamento à internacionalização de empresas. Em abril, o banco chegou a criar um Grupo de Trabalho fornecer informações e documentos solicitados pelos deputados.
Um pedido para Levy se explicar no Congresso já tinha sido aprovado em abril. O presidente da CPI, o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), disse ao "Estado" que vai decidir nesta segunda (17) com os colegas da comissão a data da ida de Levy ao colegiado.
Até agora, Guedes era um dos poucos ministros do presidente Jair Bolsonaro que não tinha batido de frente com o Legislativo. Em um momento delicado para a tramitação da Previdência, a nova onda de crises incitou algumas lideranças a buscarem ainda mais o protagonismo das reformas econômicas.
Uma possível consequência aos ataques de Guedes, segundo uma fonte, seria o Congresso assumir totalmente o protagonismo da próxima grande reforma, que é a tributária, deixando o Executivo de fora. A proposta do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), prevê a unificação de cinco tributos --IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS-- num único Imposto sobre Operações com Bens e Serviços.
Previdência
A equipe econômica, porém, trabalha para reatar a relação com o Congresso, com o principal objetivo de fazer ajustes no parecer da reforma da Previdência apresentado pelo deputado Samuel Moreira (PSDB).
"A equipe econômica começa a tumultuar a parte política", afirmou o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO). "O Congresso tem sido parceiro do Brasil e vai tocar todas as reformas. Temos de assumir o protagonismo", afirmou. "O governo tem sido inconstante. Muda as coisas omo quem muda de camisa. Ninguém pode ensinar o governo a governar", critica o líder do PL (antigo PR), Wellington Roberto (PB).
Para o cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marco Antonio Carvalho Teixeira, o governo tende a perder protagonismo em questões como a reforma da Previdência. "Não sabemos o futuro do governo desse jeito. O governo perdeu capacidade de articulação, e a impressão que tenho é que o protagonismo em relação à reforma da Previdência vai sair do Congresso e não do governo", afirmou.
Os líderes são praticamente unânimes ao negar que as críticas de Guedes ao Congresso possam atrapalhar a aprovação da Previdência. "A reforma da Previdência é do Brasil", diz Wellington Roberto.
Sem comentar a crise, o presidente do PRB, deputado Marcos Pereira (SP), reafirmou neste domingo pelo Twitter, seu apoio à proposta. "Não é de hoje que a reforma da Previdência é essencial para a recuperação econômica do Brasil, por isso eu sou favorável."
Procurado pela reportagem, Guedes não respondeu.
As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
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