'Mulheres não precisam ser perfeitas', diz ativista por computação feminina
Desde 2012, Reshma é a presidente executiva da organização sem fins lucrativos Girls Who Code (mulheres que programam, em inglês). A ONG ensina programação para meninas e mulheres nos EUA - com programas espalhados pelo país, a instituição já mudou a vida de 185 mil pessoas.
Para a advogada, a disparidade de gênero no setor tem diversas razões, desde a infância. "As Barbies transmitem a ideia de que matemática é chato e fazer compras no shopping é legal. As meninas acabam desistindo antes de tentar", disse ela ao Estado, em entrevista realizada durante a última Bienal do Livro do Rio de Janeiro, onde esteve para lançar seu livro Corajosa Sim, Perfeita Não - uma tese de que o perfeccionismo imposto às mulheres, desde cedo, é um obstáculo para seu sucesso no mercado de trabalho.
Por que há tão poucas mulheres na ciência da computação?
É uma questão de cultura. Se uma menina ligar a TV e assistir a um programa sobre engenheiros e cientistas da computação, verá homens. Com isso, estamos dizendo para as mulheres que essa indústria não é para elas - e elas estão escutando. Há ainda o sentimento de que programação é muito difícil e é preciso ser um "nerd" para ser bom na área. Não é verdade. Ensinamos as meninas a não desistir antes de tentar.
Como a ONG ajuda meninas a começar a programar?
Temos programas tanto para meninas que ainda estão na escola como para mulheres que já saíram dela. Uma das atividades da ONG é um curso de verão imersivo de duas semanas com aulas de programação para garotas entre 10 e 18 anos em várias cidades dos Estados Unidos, como Nova York, Boston e Seattle. Queremos despertar nas meninas o interesse pela ciência da computação, para elas considerarem a área como uma possível faculdade e uma carreira a ser seguida.
O que o setor de tecnologia ganha trazendo para o mercado cientistas da computação mulheres?
Se for perguntado para uma garota o que ela quer fazer quando crescer, provavelmente ela vai dizer que quer resolver algum problema complexo. Algo relacionado à educação, à mudança climática e até à cura do câncer. A presença de mulheres nesse setor pode conectar muitas tecnologias a transformações reais. Mas as empresas precisam ser receptivas às mulheres. Isso não envolve só a admissão, mas também dar o espaço para elas poderem ser promovidas. Não faz sentido contratar mulheres e fazer com que elas saiam da indústria um tempo depois.
O seu livro diz que o perfeccionismo está sufocando as mulheres no mercado de trabalho. Por que ele é um problema?
Escrevi o livro com base em conversas que tive com outras mulheres e também a partir de experiências com as meninas participantes dos programas da Girls Who Code. Muitas mulheres nem sequer tentam começar a programar porque acreditam que não são boas o suficiente. Até mesmo quando estão programando, não confiam no seu trabalho.
E de onde vem isso?
Desde crianças, elas são ensinadas a serem educadas e a não se machucarem, enquanto os meninos são incentivados a se sujar e a escalar brinquedos. Eles são ensinados a serem corajosos; elas, a serem perfeitas. Isso faz com que as mulheres tenham medo de falhar. É comum uma mulher não se candidatar para uma vaga de emprego porque não se sente qualificada para isso - mesmo quando ela é qualificada de fato.
Que conselho dá para uma menina do Brasil que quer aprender a programar?
Vá em frente, o mundo está esperando por você.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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