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'Fintechs podem virar uma grande bolha', diz Bernardo Parnes

Mônica Scaramuzzo

São Paulo

19/11/2019 12h02

Um dos principais executivos do mercado financeiro nacional, Bernardo Parnes está à frente da Investment One Partners, gestora de recursos de terceiros e de fortunas, com cerca de R$ 3 bilhões. Ele se diz "velho e rodado" para não desejar que a retomada da economia seja lenta e gradual. "Acho que a melhor coisa é um tijolinho após o outro", diz o executivo, que também foi presidente para América Latina do Deutsche Bank e liderou o Merrill Lynch no País.

Segundo Parnes, é preciso ter cuidado com o intenso movimento de fintechs. "Agora se fala muito das fintechs. Quando se analisa com mais calma, a gente vê que as empresas não existem, só business plan (planos de negócio)."

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia esse primeiro ano do governo Bolsonaro?

A gente tem alguns ‘Brasis’. Um Brasil político-executivo, que, na minha opinião, está errático e excessivamente volátil. Parece muito mais que a gente vai ter eleição no mês que vem do que já tivemos uma no ano passado. Esse Brasil político, que não é técnico, está criando uma volatilidade e um barulho grande e desnecessário. Também temos o Brasil técnico-público, que é a equipe que o presidente Bolsonaro trouxe, com bons ministros e outros nem tanto. Não dá para ter homogeneidade perfeita. Mas há movimentos interessantes com a apresentação de um pacote de reformas que não se via desde 1988. Quanto ao setor privado do Brasil, existe perspectiva muito boa, que em certas áreas já está se materializando.

Esse lado errático político-técnico pode afetar essa agenda de reformas de alguma maneira?

Estamos mais na expectativa de esperar e rezar. No fim do dia, pode. Mas, a cada dia que passa, o risco é menor. Teve muita boataria de que Paulo Guedes iria sair, que Salim Mattar sairia. Mas vemos uma parte da equipe fazendo um trabalho muito bom, como o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e da Agricultura, Tereza Cristina.

Começamos o ano com dois superministros: o juiz Sérgio Moro e o Paulo Guedes. Mas houve rumores de que eles perderam força ao longo do tempo. Como avalia esses movimentos?

Acho que o Guedes ainda tem uma aura. Não conheço o Bolsonaro para saber o que passa. Talvez, de novo, haja muita boataria sobre o Guedes e o Moro, provocada por "forças ocultas", que talvez coloquem mais lenha do que precisa. Lá dentro no círculo duro não sei se existe essa tensão. Não vejo nenhuma diminuição de força do Paulo Guedes. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, estão exercendo um papel primordial, de estadistas.

Como vê o pacote de privatizações do governo?

Assumindo que vão colocar os ativos corretos, com preços corretos, acredito que haverá interessados. Com essa liquidez no mundo, acho que o Brasil vai ter sucesso. Se os ativos forem bons, terão investidores.

Quais ativos são mais cobiçados? Fatias do BNDES?

BNDES, pelo que eles estão falando, agora vai virar um banco de fomento de realidade, mais estratégico sob o ponto de vista de investimento. A carteira do BNDESPar não é para se segurar por tanto tempo. Tem posições muito grandes, e não só de privatização.

Quais são os outros ativos?

Infraestrutura. Destravaria o Brasil. Para o Brasil crescer 3% para cima, ou você arruma a infraestrutura ou não vai. E fazer as licitações de forma correta. Há casos de licitações estaduais, federais em que o indivíduo dá um preço maior e depois fica colocando adendos. É o caso de Viracopos, que virou um imbróglio. É importante entender como serão os editais. Tem de trazer operador. Ou consórcios que tenham investidor financeiro, mas também estratégico.

Estamos pavimentando o caminho para a volta de investidores estrangeiros ao Brasil?

Estamos criando condições precedentes. Vai ser um caminho fácil? Não. Estávamos falando dos três ‘Brasis’. Estamos no caminho certo, mas poderia ser menos tortuoso.

O Brasil também está aprendendo a viver num cenário de juros baixos. Como isso pode melhorar o ambiente de negócios?

Em nenhuma geração a gente pegou esse cenário de juros. Isso vai fazer com que o investidor pense em coisas alternativas, vá para economia real. O reflexo mais imediato é Bolsa. Outro é mercado imobiliário. Mas esse movimento atual mostra que o comprador de imóvel está olhando o que pode pagar, diferentemente do passado, que tinha um movimento especulativo.

O sr. vê uma retomada mais lenta e gradual na economia?

Sinceramente, acho que estou muito velho e rodado para não querer mudanças graduais. A melhor coisa que a gente pode ter na economia é um tijolinho após o outro. Agora se fala no mundo de fintechs. Temos uma family office na Investment One Partners, em que a gente recebe muita proposta semanalmente. Quando se analisa com mais calma, a gente vê que as empresas não existem, são só business plan. Tudo é fintech. Impressionante.

O sr. vê esse movimento como uma bolha que pode ser criada?

Pode ter uma bolha. O Brasil está muito atrás, comparado com o mercado externo, na digitalização. Mas vieram alguns players aqui derramando dinheiro, fazendo due dilligences superficiais e tenho certeza de que vai dar confusão. É irreversível para onde a gente vai caminhar, mas tem de analisar os casos. Não tenho receio do mundo digital. Meu receio é a velocidade da valorização de ativos digitais, como as fintechs.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.