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Com preço em alta, carne e até boi vivo são alvos de criminosos

Patrik Camporez

Brasília

17/01/2020 07h03

Há pouco mais de uma semana, o vigilante Carlos Henrique Menoio de Carvalho, de 40 anos, foi morto durante uma tentativa de assalto a um caminhão no Rio de Janeiro. O crime aconteceu durante a madrugada, na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), na altura do km 164, em Jardim América.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os bandidos interceptaram o caminhão para roubar a carga. Houve confronto entre os criminosos e os responsáveis pela escolta do veículo. O vigilante foi baleado e não resistiu aos ferimentos. Os criminosos fizeram cerca de 20 disparos, sendo que um deles atingiu o pescoço de Menoio, quando ele corria pelo acostamento da Dutra. O alvo dos bandidos: uma carga de carne.

Levantamento feito pelo jornal "O Estado de São Paulo" aponta que no último mês, secretarias de 11 estados e do Distrito Federal registraram 23 ocorrências de roubos de carne bovina. Algumas tiveram relação com roubo de gado vivo, direto do pasto, mas foram casos isolados.

De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Segurança Privada (Contrasp), a situação de violência contra as transportadoras e frigoríficos colocou as empresas do setor de carnes diante de uma situação inédita: caminhões têm saído para a estrada acompanhados de escolta armada (o que aumenta ainda mais o custo do produto).

Com o aumento das exportações para a China, a oferta de carne no Brasil diminuiu e os preços subiram. A alta acumulada em 2019 foi de 32,4%. Um caminhão lotado de carne passou a valer entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão, o que atrai os bandidos.

O presidente da Contrasp, João Soares, afirma que as quadrilhas que têm roubado caminhões de carne são as mesmas que atuavam em ataque a empresas de transporte de valores.

Ele explica, com base em relatórios policiais, que os bandidos têm empregado as mesmas técnicas e lançado mão de armamentos pesados. No caso da morte do vigilante no Rio, o bando estava em dois carros, armado com fuzis calibre 556, para roubar a carga avaliada em R$ 1 milhão.

Em grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, já é possível observar caminhões de carne sendo escoltados até mesmo dentro das cidades, enquanto entregam as mercadorias nos supermercados, bares e açougues.

No sábado passado, funcionários de um frigorífico entregavam caixas de carne em um bar na Rua Pedro Álvares Cabral, esquina com a Marechal Deodoro, em São Vicente (SP). Os responsáveis pela entrega disseram que a escolta armada foi implantada em dezembro, por causa dos assaltos registrados nos últimos dias.

Surpreso com a cena, o dono do supermercado contou que foi a primeira vez que viu um caminhão de carne chegando ao estabelecimento escoltado por homens armados, algo que é comum acontecer com cargas de cigarro.

Valores

Com décadas de experiência no setor de segurança, Soares afirma que a escolta de cargas de carne em rodovias é uma demanda nova para o setor. A Contrasp estima que os roubos a caminhões de carne já superam o número de assaltos a carro-forte no país, apesar de ainda não ter os dados detalhados do mês dos crimes na área de valores.

"O crime organizado sempre dá um passo à frente. Sempre está se renovando. Como a carne subiu demais, agora as empresas estão contratando escolta porque não querem ter prejuízo. Os frigoríficos resolveram contratar escolta. É uma modalidade nova, desconhecida inclusive por nós, da área de segurança privada", afirma.

O representante dos vigilantes diz que os serviços de escolta para transporte de carne têm sido contratados para viagens mais longas, geralmente para o interior do país. Nas estradas sem policiamento, segundo ele, as ações dos bandidos costumam ser mais ousadas.

No último domingo, 12, policiais militares do 10º Batalhão do Distrito Federal localizaram um caminhão que tinha sido roubado em Goiás e recuperaram 16 toneladas de carne bovina. O carregamento, transportado num caminhão menor, era avaliado em R$ 300 mil. Um casal foi detido no setor industrial de Ceilândia, no Distrito Federal.

O caminhão saiu de Tocantins e tinha como destino o Rio Janeiro. Por volta das 23 horas de sábado, o veículo sumiu do radar antes de passar por Goiânia e só voltou a ser rastreado pela empresa de monitoramento nas proximidades de Brasília. Profissionais de segurança da transportadora foram até o 10º Batalhão e solicitaram o apoio dos policiais militares.

Por conta do tempo que ficou sem refrigeração, parte da carga recuperada não servia mais para consumo e foi incinerada. O motorista do caminhão foi deixado pelos bandidos em Cristalina, no interior de Goiás.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

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