Fim da concessão de auxílios deve devolver 15 milhões à pobreza no próximo ano
Segundo o economista Marcelo Neri, que coordena o levantamento, "é cristalino" que esse contingente retornará à pobreza a partir de 31 de dezembro, quando termina a concessão do auxílio emergencial. "O retorno à pobreza dessas quinze milhões de pessoas é um cenário até conservador. O Brasil foi o país da América Latina que mais concedeu auxílio proporcionalmente ao seu PIB, mas não era o que estava em melhores condições", ressalta. "O País teve generosidade, mas não sei se teve sabedoria. Vamos saber daqui a um ano."
A faixa mais pobre da população é aquela que recebe até 1/2 salário mínimo por pessoa, montante inferior aos R$ 600 do auxílio emergencial concedido pelo governo federal em meio à pandemia. O valor do benefício já caiu pela metade, e será extinto até fim do ano.
"Nove meses de auxílio correspondem a nove anos de Bolsa Família. Agora virá o Renda Cidadã, mas não sabemos ainda em que patamares", cita Neri. "Há a retomada no mercado de trabalho, mas com muitas incertezas para o próximo ano. Não se sabe quando sai a vacina ou qual seria o impacto de uma segunda onda de covid."
Praticamente todos os estados tiveram queda no número de pobres, e o levantamento mostra que as regiões que registraram as maiores reduções foram a nordeste (-30,4%) e a norte (-27,5%) - as duas que tiveram as maiores parcelas do público-alvo do auxílio emergencial.
O Rio Grande do Sul foi o único estado que registrou aumento no número da população pobre (crescimento de 0,45% no contingente de pessoas que recebem até 1/2 salário), mas o aumento não chega a ser preocupante. "Lá a pobreza aumentou pouco. É um lugar que fez alguns ajustes, como na previdência, e está fazendo outros. É o segundo estado em número de idosos, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. O auxílio emergencial está pouco presente no Rio Grande do Sul, assim como na região sudeste", aponta o economista, dando um indicativo de que a população do estado do sul do País não deve ser muito afetada pelo fim da concessão dos auxílios federais.
Ainda segundo o estudo da FGV Social, o Benefício Emergencial (BEm), concedido aos trabalhadores com carteira assinada que tiveram redução salarial durante a pandemia, também ajudou a alavancar os números sobre a diminuição da pobreza este ano, mas não foi suficiente para evitar a queda de contingente em outro estrato da população, a que recebe mais de dois salários mínimos per capita. O levantamento aponta que 4,8 milhões de pessoas saíram desse grupo.
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