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'O establishment não quer as privatizações', diz Salim Mattar

O empresário Salim Mattar foi secretário responsável pela condução das privatizações no Ministério da Economia - Antonio Cruz/Agência Brasil
O empresário Salim Mattar foi secretário responsável pela condução das privatizações no Ministério da Economia Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Adriana Fernandes

Em Brasília

26/01/2021 13h00

O empresário Salim Mattar, que deixou o cargo de secretário responsável pela condução das privatizações no Ministério da Economia, diz que a saída de Wilson Ferreira Júnior da Eletrobras é mais uma amostra de que o establishment (Executivo, Legislativo e Judiciário) trabalha contra a redução do "gigantismo" do Estado. Na visão dele, a sociedade está "consternada" com a não privatização da Eletrobras, o que vai obrigar que o tema seja discutido no Congresso, independentemente de quem vencer as eleições para os comandos do Senado e da Câmara. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Como o sr. avalia a saída do presidente da Eletrobras?

O Wilson (Ferreira Júnior) é um profissional muito competente e tinha como objetivo em sua carreira profissional conduzir o processo de capitalização da Eletrobras que seria a sua respectiva privatização. Ele trabalhou duro durante todo esse tempo. E existia, sim, no passado, uma perspectiva. Da mesma forma, quando eu vi que o processo de privatização estava fora do radar do governo, Legislativo e Judiciário, eu preferi deixar o governo. O que aconteceu com o Wilson é a mesma coisa. Ele pressentiu tendo em vista a declaração do Pacheco (candidato apoiado pelo Palácio do Planalto ao comando do Senado, Rodrigo Pacheco disse ao Estadão/Broadcast que a privatização da Eletrobras não é prioridade caso seja eleito) que não acontecerá a privatização da Eletrobras. Mas não pode culpar o Executivo pela não privatização. A privatização está nas mãos e depende da caneta do Congresso.

Por que depende só do Congresso já que há autoridades no Executivo que não querem apoiar a privatização?

Tem um projeto de lei caminhando no Congresso. Se ele caminhar e privatizar, o Executivo não pode fazer nada. Está na mão do Congresso. A responsabilidade de privatização da Eletrobras é única e exclusiva do Congresso.

De que forma a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado prejudica a privatização da Eletrobras?

Neste momento em que está acontecendo eleições, objetivando maioria de votos, buscaram o apoio da esquerda. E falando em política, claro que há uma contrapartida. Dizem que uma das contrapartidas seria a não realização de privatizações. Comenta-se muito no mercado, mas não posso afirmar que seja verdade. A responsabilidade de privatizar ou não é única e exclusiva do Congresso.

O presidente Bolsonaro que está apoiando Pacheco não tem responsabilidade também sobre a decisão?

Aí, não sei o que eles combinaram. É uma coisa que não posso afirmar. Mas reafirmo que a responsabilidade de privatizar ou não é do Congresso. O establishment não quer privatizações. Tudo é motivo para não privatizar. E establishment, vamos deixar bem claro, que é o Executivo, Legislativo e Judiciário, mais os oportunistas de momento. Podem ser sindicatos, pode ser imprensa, falsos empresários atrás de CNPJ. O modus pensante de 35 anos de social-democracia é manter o Estado grande, gigantesco. Onde já se viu o Estado entrar em meios de produção, fornecendo energia elétrica, produzir pólvora. É um atraso total.

A pauta liberal do governo fica enfraquecida já que as privatizações são ponto central nessa agenda?

O establishment se assustou com a pauta liberal. Lenta e gradualmente foram se opondo à pauta liberal.

Essa pauta acabou no governo Bolsonaro?

Não, ela ainda existe na cabeça do ministro Paulo Guedes. Existe, sim, a possibilidade (de avançar). Existem congressistas que são mais cuidadosos com a causa pública e entendem que alguns projetos têm de passar para resolver os problemas do País. A pauta liberal como um todo, não morreu. Muitos congressistas sabem da importância, por exemplo, da reforma administrativa (propõe reformular o RH do Estado, com novas regras para contratação, promoção e demissão de servidores públicos). O establishment trabalhou muito bem e ficou uma reforma muito fraca porque muitas coisas como estabilidade de emprego e redução de remuneração só daqui a 35 anos que vai funcionar. O establishment conseguiu se salvar e a sociedade brasileira precisa saber disso.

Qual a recomendação que o sr. daria para o ministro Guedes?

Ele está prestando um favor ao Brasil enquanto está lá. Pode estar certo que a gente não sabe o quanto de coisas erradas que ele não permitiu que fizessem. Às vezes, ele está sendo julgado por algumas coisas, é difícil fazer esse julgamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.