Commodities devem trazer de volta superávit nas contas externas após 14 anos
A conta de transações correntes no balanço de pagamentos engloba todos os negócios do Brasil com o exterior, incluindo o saldo comercial de mercadorias e serviços, as remessas de lucros e dividendos e os juros pagos pelas empresas, além das transferências pessoais.
A última vez em que o resultado ficou no azul foi no boom global das commodities do começo do século, quando o Brasil registrou superávits por cinco anos seguidos a partir de 2003. Até o fim de 2020, o BC previa um novo déficit de US$ 19 bilhões nas contas externas para este ano. Mas, com o aumento nos preços das commodities que o Brasil produz, o BC elevou a projeção de resultado para US$ 21 bilhões, o que resultará em saldo positivo de US$ 2 bilhões.
Com as estimativas para as contas de serviços e de renda primária praticamente estáveis, a grande diferença veio na projeção para a balança comercial, que passou de superávit de US$ 53 bilhões para US$ 70 bilhões. Se o valor se confirmar, será o maior da história para o saldo comercial medido pelo BC. Pelas contas da instituição, somente as exportações devem alcançar US$ 256 bilhões este ano, superando o recorde de US$ 253,185 bilhões de 2011.
"Apesar de terem começado o ano em nível deprimido, espera-se que as exportações aumentem a partir de março, impulsionadas pelo escoamento da boa safra de soja, pelo patamar elevado para preços de commodities e pela recuperação da demanda internacional", destaca o BC no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
O Ministério da Economia também espera um superávit comercial recorde em 2021, de US$ 89,4 bilhões, crescimento de 75% ante o saldo de US$ 50,9 bilhões no ano passado. Enquanto a pasta considera os valores de todos os contratos de exportações e importações, a métrica do BC inclui apenas os recursos que efetivamente saíram e entraram no País.
Alta. No mercado internacional, os preços das commodities subiram 50% no último ano, conforme o BC. No mercado brasileiro, em reais, os preços das tiveram alta de 66% no mesmo período. O impacto das commodities nas contas externas é cada vez maior porque o peso dos produtos básicos nas exportações brasileiras é crescente, passando de 53% do total embarcado em 2019 para 57% no ano passado.
O presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, destaca que o crescimento nas vendas desses produtos ocorre muito mais pelo preço do que pela quantidade produzida.
"Há um aumento generalizado nos preços de todos esses produtos que o Brasil já produz em grande volume, como soja, milho, minério e petróleo. Além do aumento na demanda por países que já começaram a sair da crise, há um gargalo de falta de navios e contêineres que ajuda a pressionar os custos", diz Castro.
Para ele, diferentemente do que ocorreu na primeira década deste século, a alta nos preços das commodities não deve continuar por muitos anos: "Ainda estamos no meio da pandemia e não consigo imaginar esse movimento como uma coisa duradoura. Pode até haver alguma expansão na produção de alimentos para atender a uma demanda conjuntural decorrente de auxílios de renda, mas na metalurgia não vejo investimentos para a ampliação da capacidade que não terá demanda no futuro."
Já o economista chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, projeta um ciclo mais extenso de valorização das commodities, pelo menos enquanto durarem os grandes pacotes fiscais lançados pelas principais economias avançadas.
"No meu cenário, o boom das commodities é algo que veio de maneira mais duradoura porque o ambiente é de liquidez (quantidade grande de recursos) e com uma perspectiva longa no tempo. A União Europeia, por exemplo, já anunciou que vai manter seu pacote até 2026", conclui Sanchez.
O economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, tem visão mais crítica sobre o superávit em conta corrente projetado para 2021. Para ele, apesar do desempenho das commodities, o resultado esperado faz parte de um diagnóstico ruim da economia. "É sinal de um quadro doméstico deteriorado, com câmbio fora do lugar e dificuldades para a população, o que reduz as importações", afirma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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