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'Não queremos afundar com o Mercosul', diz secretário especial de Comércio Exterior

O secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Roberto Fendt - Reprodução/Ministério da Economia
O secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Roberto Fendt Imagem: Reprodução/Ministério da Economia

Lorenna Rodrigues

Em Brasília

28/04/2021 13h00

"O Mercosul está afundando e nós não queremos afundar junto", disse ao Estadão/Broadcast o secretário especial de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Roberto Fendt.

Em entrevista dada um dia depois de reunião de ministros do bloco — que terminou sem acordo e incluiu trocas de farpas entre Brasil e Argentina —, Fendt disse que os brasileiros vão "fincar o pé" nas duas propostas apresentadas: redução da TEC (tarifa externa comum) e possibilidade de negociar acordos comerciais sem depender do Mercosul.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Houve relatos de trocas de farpas entre Brasil e Argentina na reunião de ministros na segunda-feira. Como foi essa reunião?

Foi uma reunião extremamente importante para cada país colocar na mesa o que entende em relação à modernização do Mercosul. Nossa posição, que o ministro (da Economia, Paulo Guedes) com serenidade, mas de maneira assertiva, colocou, é que queremos rebaixar a tarifa externa comum (TEC) e poder negociar unilateralmente acordos. Estamos dispostos a que cada país escolha se e quando (aderir às propostas de mudança). Nós vamos fincar pé nisso, não vamos abrir mão.

Pelo que o sr. fala, o Brasil quer liberdade do Mercosul para tocar a própria política?

É isso mesmo. Não só o Brasil, o Uruguai também. Queremos sair do imobilismo que a gente está. O Mercosul está afundando, nós não queremos que o Mercosul afunde. Se o Mercosul quer afundar, nós não queremos afundar junto.

Qual a proposta brasileira?

A proposta do Brasil é reduzir em 10% a TEC de imediato e ter uma segunda redução de 10% em dezembro. Isso é um movimento pequeno. A Argentina colocou na mesa uma proposta de reduzir em 10,5% a TEC, mas de forma seletiva, não incidiria sobre todos os itens, como quer o Brasil. Nós não queremos escolher setores. A segunda perna da nossa proposta é a possibilidade de os membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) negociarem acordos unilateralmente com outros países.

E como os outros países veem a proposta brasileira?

O Uruguai apoiou integralmente a proposta brasileira. O Paraguai disse que concordava com 96%, deixando de fora 4% dos produtos, o que é perfeitamente aceitável porque são produtos sensíveis para eles. E disse que não seria favorável a cada país poder negociar acordo em separado. A Argentina disse que não era favorável (aos dois pontos) e pronto.

A Argentina ficou isolada?

Não é que a Argentina foi isolada, a Argentina se isolou. Guedes repetidamente mencionou que nossa posição não é contra a Argentina, é de modernização do Mercosul, que vai beneficiar todos os sócios. Nós reconhecemos que é um direito deles fazer o que bem entenderem.

Ainda vale a pena para o Brasil fazer parte do Mercosul?

Vale a pena, sim. O Mercosul modernizado é um instrumento de negociação com outros países. Juntos, temos massa crítica.

Não estamos falando de um Brexit (como ficou conhecida a saída do Reino Unido da União Europeia) brasileiro então?

Não, de jeito nenhum. Todos os ministros insistiram que essas propostas não visam a pôr fim ao Mercosul, pelo contrário. Nossa ideia é de que um Mercosul modernizado vai nos dar muito mais força do que temos hoje.

Que instrumento de pressão o Brasil tem caso a Argentina não aceite as mudanças? O Brasil pode retaliar o país vizinho?

Retaliar a Argentina em hipótese alguma. O Brasil não vai pressionar a Argentina com nenhum instrumento. O Brasil está pela razão pedindo a Argentina que nos acompanhe porque estamos claramente convictos de que isso será bom para os quatro membros do Mercosul.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.