Com risco de nova crise energética, BC refaz cenários para definição da Selic
Ambas as possibilidades são levadas em conta para definir o rumo da taxa básica de juros, segundo apurou o Estadão/Broadcast. O BC iniciou em março o processo de alta da Selic (a taxa básica de juros) para segurar a inflação. Desde então, a taxa saltou de 2%, o menor nível histórico, para 4,25% ao ano.
A perspectiva de a bandeira vermelha nível 2, hoje em R$ 6,24 a cada 100 quilowatts-hora (kWh), ser reajustada para além de R$ 7,57 por 100 kWh pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estava fora do radar da instituição. Foi apenas na semana passada que o órgão regulador reconheceu que será necessário aumentar o valor além do proposto na consulta pública, que previa alta de 21%. Isso será incorporado pelo Banco Central a partir de agora.
Mesmo esse aumento adicional na bandeira é insuficiente para cobrir os custos das distribuidoras com a compra de energia. A parte que não é capturada pelas bandeiras ficará para os reajustes anuais em 2022, ano em que as tarifas também serão pressionadas em razão do início do repasse de valores para o pagamento do empréstimo de R$ 16 bilhões para as distribuidoras - alternativa encontrada para que as concessionárias enfrentassem os efeitos da pandemia de covid-19, que causaram queda no consumo e aumento da inadimplência.
Publicamente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu que a falta de chuva em volume necessário poderia causar impactos não apenas na energia, mas também no preço dos alimentos e, consequentemente, na definição da política monetária (ou seja, na calibragem dos juros para o controle da inflação). Ele manifestou esse entendimento em evento promovido pelo Bank for International Settlements (BIS) no início de junho.
Estudos
O Banco Central passou também a estudar os efeitos que um racionamento teria sobre a economia brasileira, a inflação e, consequentemente, os juros. Além do acionamento de todas as usinas térmicas, a crise hídrica levou o governo a preparar uma medida provisória que permite a criação de um "programa de racionalização compulsória do consumo de energia elétrica", como revelou o Estadão/Broadcast no dia 12.
Embora o Ministério de Minas e Energia (MME) tenha negado a possibilidade de um racionamento, a pasta reconheceu que explora "todas as medidas ao seu alcance" para atravessar a crise e não negou a existência da minuta da MP.
Também entrou no radar do BC a alternativa ao racionamento, prevista na minuta da MP. Chamada de resposta à demanda, a medida pretende mudar a produção industrial para horários menos visados, numa tentativa de evitar picos no início da tarde que possam levar a apagões. Para isso, as empresas seriam remuneradas com o pagamento de um encargo que também vai pressionar a conta de luz, já que a ideia é que o governo "compre" o direito de deslocar esse consumo.
Para aplacar a crise de duas décadas atrás, marcada por um apagão no Brasil, um racionamento de energia vigorou entre 1.º de julho de 2001 e 19 de fevereiro de 2002, período durante o qual a população foi obrigada a cortar o consumo em 20%. As indústrias tiveram de reduzir a produção e o PIB, que havia crescido 4,4% em 2000, desacelerou para 1,4% em 2001. O efeito da crise agora, portanto, seria recessivo e poderia contribuir para diminuir as pressões sobre a inflação.
Na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pelo BC na terça-feira, a crise hídrica foi mencionada de maneira superficial. Na avaliação da autoridade monetária, a persistência das pressões inflacionárias se revelou maior do que o esperado, sobretudo entre os bens industriais - a energia é um dos principais insumos do setor.
"Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real", diz a ata, ressaltando que o Copom "segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários".
Procurado pela reportagem, o BC não se manifestou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.