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Economistas avaliam como enfrentar a ameaça de uma estagflação no país

Carteira vazia, inflação, dinheiro -  Emil Kalibradov/Unsplash
Carteira vazia, inflação, dinheiro Imagem: Emil Kalibradov/Unsplash

Vinicius Neder e Bruno Villas Bôas

Do Estadão Conteúdo, no Rio

11/09/2021 18h15

Com a economia estagnada e a inflação disparando, o fantasma da estagflação volta a ameaçar o dia a dia dos brasileiros. Causado por efeitos inerentes à pandemia de covid-19, que afetam todas as economias do mundo de forma inédita, o cenário é agravado no Brasil pela estiagem e pela crise política.

Segundo economistas ouvidos pelo Estadão, para fugir da armadilha, no curto prazo, a elevação dos juros ajudará a arrefecer a inflação a partir de 2022, mas com uma freada na atividade econômica e o desemprego elevado como efeitos colaterais. No longo prazo, a saída passa por estabilizar a crise política e avançar na agenda de reformas, dizem os especialistas.

Indicadores recentes já apontam para a combinação de estagnação econômica e inflação. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% no segundo trimestre, ante os três primeiros meses do ano. Projeções sugerem que o PIB ficará no zero a zero no terceiro trimestre. Ao mesmo tempo, o IPCA (o índice oficial de inflação, calculado pelo IBGE) acumulado em 12 meses chegou a 9,68% em agosto.

Para o chefe de pesquisa macroeconômica do banco Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, é possível que o quadro "de inflação alta e crescimento baixo" se mantenha por "mais alguns trimestres", mas a duração total dependeria do grau de incertezas políticas até as eleições de 2022. "Quando essa energia da recuperação da atividade reprimida começar a se exaurir, tenho quase certeza de que vamos voltar ao crescimento medíocre de antes", afirma.

Acelerar o crescimento passa por fazer reformas, na visão do economista-chefe da agência de risco Austin Rating, Alex Agostini. Sem melhorar o sistema tributário e retirar tarifas de importação que dificultam a competitividade, os negócios ficam travados.

As reformas poderiam atacar também a indexação de contratos, principalmente dos serviços públicos, como a eletricidade, que pioram a "estrutura da inflação". Os contratos de prestadores de serviços públicos têm reajustes baseados nos IGPs, índices muito influenciados pelo atacado e pelo dólar. Assim, a inflação passada contamina a futura, mesmo que a demanda esteja fraca, com a economia estagnada ou em queda. "Isso vai gerando uma perda de eficiência do poder de compra do consumidor", diz Agostini.

Especialista em inflação e professor da PUC-Rio, Luiz Roberto Cunha ressalta que, após o controle de hiperinflação, nos anos 1990, a economia do País entrou num estágio de baixo crescimento com inflação mais elevada do que em outros lugares. O problema, ressalta, é que o Plano Real ficou incompleto, não avançou nas reformas fiscal, tributária e administrativa.