Itaú passa a prever recessão para o ano que vem, com queda de 0,5% no PIB
"Taxas de juros mais altas levarão a uma atividade econômica mais fraca, e agora vemos recuo moderado de 0,5% do PIB em 2022 (nossa projeção era de crescimento de 0,5% anteriormente)", diz o relatório.
De acordo com o Itaú, o aumento da incerteza fiscal implica em um risco país mais alto, maior depreciação do real, piores perspectivas para a inflação e, em última instância, uma taxa de juros neutra mais alta.
Neste cenário, o banco elevou sua projeção para a Selic. "Entendemos que o Copom entrará em regime de contenção de danos e aumentará a taxa Selic em 1,5 ponto porcentual, para 7,75% ao ano em sua próxima reunião (nesta quarta-feira, 27), seguido de outro aumento de 1,5 ponto na reunião de dezembro, e encerrará o ciclo com duas altas adicionais de 1,0 ponto porcentual, a 11,25% ao ano", afirma o relatório assinado pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita.
A MB Associados também reduziu sua projeção para o PIB. A consultoria reduziu a projeção de expansão da atividade no ano que vem de 0,4% para 0,0% - já um cenário de estagflação. "Com juros mais elevados e mais incerteza, o PIB deverá crescer menos do que já esperávamos", afirma o economista-chefe da MB, Sergio Vale.
Pelo lado da oferta, a MB estima crescimento de 3,5% do PIB da agropecuária e de 0,3% dos serviços no ano que vem, mitigados por uma contração de 1,8% da indústria. Na demanda, a consultoria calcula contração de 5,1% da formação bruta de capital fixo (FBCF) e de 0,3% do consumo do governo, contra expansão de 0,4% do consumo das famílias, de 8,0% das exportações e de 1,5% das importações.
Para a Selic, a MB elevou sua estimativa de aumento de 1 ponto porcentual para 1,5 ponto porcentual na próxima reunião. A consultoria agora espera mais um aumento de 1,5 ponto porcentual dos juros em dezembro, que levaria a Selic a 9,25% no fim deste ano. Em 2022, Vale espera continuidade do ciclo de aperto, com juros de 10,5% ao fim do ano que vem.
Gastos do governo
Conforme o banco, notícias sobre o aumento dos gastos fiscais aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável. "Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do banco central de manter a inflação na meta se torna mais difícil", afirma.
A instituição ressalta que os mercados reagiram de forma bastante negativa às notícias sobre as prováveis mudanças no arcabouço de política fiscal do Brasil, indicando que sua credibilidade pode ter sido prejudicada.
Segundo o Itaú, a proposta de emenda constitucional 23/21 (PEC 23/21), que tramita no Congresso Nacional, altera retroativamente o mecanismo de reajuste anual do teto de gastos, que passará a ser baseado na inflação do ano até dezembro, e não até junho, como no cálculo original adotado em 2016. Além disso, limita as despesas anuais com precatórios.
Teto 'furado'
Como resultado dessas mudanças, acrescenta o Itaú, o governo poderá aumentar as despesas em até R$ 75 bilhões (0,8% do PIB) sem furar este teto de gastos expandido. "Consequentemente, esperamos agora que o déficit primário aumente de 0,8% do PIB em 2021 para 1,5% do PIB em 2022 (ante um déficit de 0,7% do PIB no último cenário)", diz o relatório do banco.
Com um déficit primário maior, crescimento mais fraco do PIB e taxas de juros mais altas, a dívida bruta do setor público, que cairá para 82,1% do PIB em 2021 (de 89% no fim de 2020), voltará a subir, para 86% do PIB em 2022, conforme o banco.
Já a MB estima que o espaço para despesas aberto pela PEC dos precatórios cria espaço para um déficit primário em torno de R$ 130 bilhões em 2022, com uma dívida pública de 85,3% do PIB. "Caso não haja mudança radical na trajetória fiscal em 2023, a dívida poderá chegar a 88% [do PIB], nas estimativas muito preliminares ainda", diz o texto.
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