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Quadrilha que movimentou R$ 61 bilhões em criptoativos é alvo de operação da PF

Investigações apontam que traficantes de drogas, doleiros e contrabandistas adquiriram milhões de reais em criptoativos com o objetivo de remeter valores para fora do Brasil - Reprodução
Investigações apontam que traficantes de drogas, doleiros e contrabandistas adquiriram milhões de reais em criptoativos com o objetivo de remeter valores para fora do Brasil Imagem: Reprodução

São Paulo

22/09/2022 14h23Atualizada em 22/09/2022 14h23

A Polícia Federal e a Receita realizam na manhã desta quinta-feira, 22, uma ofensiva contra uma quadrilha especializada em supostos crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e associação criminosa envolvendo a negociação de criptoativos. De acordo com os investigadores, o grupo alvo da operação 'Colossus' opera desde 2017, tendo movimentado R$ 61 bilhões por mais de 40 instituições financeiras nos últimos quatro anos.

Agentes cumprem dois mandados de prisão preventiva e vasculham 37 endereços - 22 deles de investigados e 15 de empresas sob suspeita. Dentre as companhias alvo das diligências, a PF cita seis exchanges - plataformas em que se compra e vende criptomoedas - , quatro instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central a operar no mercado de câmbio e três escritórios de contabilidade. Ao todo, 170 policiais e servidores do Fisco participam das diligências.

As ordens foram expedidas pela 6ª Vara Criminal de São Paulo, que ainda bloqueou R$ 1.247.770.199,05 dos investigados. O juízo ainda determinou o sequestro de ativos virtuais de investigados que eventualmente estejam na posse de 28 exchanges.

Ao longo das investigações, a PF ligou a quadrilha alvo da 'Colossus' com ao menos sete inquéritos com fases ostensivas já abertas - Planum, Rekt, Valeta, Sucessão, Mardof, Kryptos e Betka. Tais apurações se debruçaram sobre crimes de tráfico internacional de drogas, organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional, pirâmides financeiras e lavagem de dinheiro.

Segundo os investigadores, há indícios de compra direta de criptoativos por traficantes de drogas, doleiros e contrabandistas. A PF diz que os investigados nas citadas ofensivas adquiriram milhões de reais em criptoativos com o objetivo de remeter valores para fora do País.

Arbitradores, exchanges e empresas de fachada

De acordo com a Polícia Federal, as investigações que culminaram na 'Colossus' tiveram início a partir de um relatório de Inteligência Financeira, produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras. O documento apontou movimentações bancárias suspeitas envolvendo a negociação de criptoativos.

A corporação diz que, em razão da 'complexidade e ao grandiosidade' das operações sob suspeita, os investigadores dividiram a quadrilha em grupos, a começar pelo dos 'arbitradores'.

Segundo a PF, tal núcleo comprava grandes quantidades ativos virtuais no exterior, em países como Estados Unidos, Cingapura e Hong Kong, e os vendia no Brasil. Foram identificadas remessas para o exterior na ordem de mais de R$ 18 bilhões.

As apurações indicaram que parte da documentação apresentada pelos investigados aos bancos contém indícios de desvio de finalidade. A PF diz que os papeis buscavam ocultar a origem nacional dos valores, uma vez que, conforme a apuração, exchanges dos EUA não aceitavam a compra de criptoativos com recursos do Brasil.

O segundo núcleo na mira da PF é descrito como o 'grupo das exchanges'. Ele era responsável pela compra dos ativos virtuais dos arbitradores e a sua revenda para pessoas e empresas 'com fortes indícios de envolvimento em ilícitos antecedentes', dizem os investigadores.

Já o terceiro grupo corresponde ao de empresas de fachada, que compravam os criptoativos das exchanges para lavar dinheiro. A PF diz que, entre os clientes de tais empresas, há pessoas mortas, beneficiários de programas assistenciais, idosos com mais de 90 anos de idade, doleiros, contrabandistas e comerciantes de bairros de comércio popular de diversas cidades do país, em especial do Brás e da 25 de Março, na capital paulista.

Os investigadores apuraram que um só contador era responsável por mais de 1,3 mil empresas - em sua maioria de fachada - sediadas nos citados locais de comércio popular de São Paulo. Durante o período investigado, tais companhias movimentaram cerca de R$ 1 bilhão com os arbitradores e as exchanges sob suspeita.

'Colossus'

De acordo com a PF, a ofensiva aberta nesta manhã foi 'gestada' no Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da Superintendência da corporação em São Paulo.

A unidade visa captar dados para auxiliar os órgãos de controle e regulação 'na melhoria do ambiente de negócios' e no 'desenvolvimento e aprimoramento de normas que viabilizem maior segurança aos atores que trabalham de forma lícita' no mercado de criptomoedas.

Segundo os investigadores, o nome da ofensiva, 'Colossus', faz referência a computador que foi desenvolvido durante a 2ª Guerra Mundial por criptoanalistas britânicos. A PF diz que o objetivo de tal equipamento 'era decifrar a comunicação codificada, permitindo aos aliados se anteciparem para neutralizar os movimentos inimigos'.

"Da mesma forma, essa operação policial tem como objetivo "levantar o véu do anonimato" que protege a lavagem de dinheiro por meio dos ativos virtuais, fornecendo aos órgãos de controle e regulação, subsídios para se anteciparem às ações ilícitas de lavagem, neutralizando, assim, esse tipo de prática", diz a corporação.