Para dirigente do FMI, inflação demora a voltar à meta no mundo e BCs devem manter compromisso
Gita Gopinath disse que a batalha contra a inflação "está em andamento", com queda no índice cheio da inflação, mas o núcleo se mostrando mais persistente. Uma "verdade inconveniente" é que a inflação está demorando "muito para voltar à meta", e com isso os bancos centrais precisam seguir comprometidos em lutar contra a inflação, "apesar dos riscos de um crescimento econômico mais fraco".
Segundo ela, outro fato "inconveniente" atual é que os estresses financeiros "poderiam gerar tensões entre os preços almejados e os objetivos de estabilidade financeira.
Caso a inflação persista e os bancos centrais tenham de apertar suas políticas bem mais que o mercado espera, as condições financeiras "modestamente apertadas" de hoje poderiam abrir caminho para uma rápida reprecificação de ativos e para um forte avanço nos spreads de crédito. "Temos visto no último ano como, sob certas circunstâncias, o aperto na política pode vir com estresses financeiros significativos, incluindo na Coreia do Sul, no Reino Unido e mais recentemente nos EUA", apontou.
A terceira "verdade incômoda" destacada por Gopinath em sua fala é que os bancos centrais devem enfrentar mais riscos de alta à inflação que antes da pandemia. Ela menciona questões como mudanças estruturais que afetam a oferta agregada, impulsionadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, e nota que esses fatores podem gerar "choques mais persistentes". A autoridade do FMI vê ainda "risco considerável que choques de oferta mais voláteis da época da pandemia persistam".
Gita Gopinath comenta que muitos países buscam concentrar cadeias em seu próprio território, mas diz que isso tende a elevar custos e, "ironicamente, torna os países menos resistentes e mais suscetíveis a choques do lado da oferta". Os riscos oriundos da mudança climática também devem amplificar flutuações de curto prazo na inflação e na produção, destaca ela.
Nesse contexto, Gita Gopinath defende cautela nas estratégias políticas de "olhar para além dos choques na oferta". Os bancos centrais podem ter de agir de modo mais duro, em caso de choques disseminados na oferta, recomenda.
Ela também nota que uma abordagem "preventiva" pode permitir um ritmo mais gradual no aperto, o que reduziria riscos à estabilidade financeira.
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