Com Copom dividido, Ibovespa cai 1%, aos 128,1 mil pontos

Descolados do dia positivo no exterior, os ativos domésticos tiveram uma quinta-feira de ajuste à confirmação do racha no Copom entre hawks em relativo fim de mandato e doves indicados pelo governo, com efeito sobre a percepção do mercado quanto à direção futura do Banco Central, uma vez que terminem os mandatos de dirigentes mais alinhados à visão do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que deixará a instituição no fechamento de 2024.

Na B3, a perda do Ibovespa não foi mais aguda devido à contribuição positiva de Vale (ON +0,81%) e Petrobras (ON +1,76%, PN +0,97%), três das mais pesadas ações na composição do índice.

Assim, no encerramento do dia, o Ibovespa mostrava queda de 1,00%, aos 128.188,34 pontos, tendo operado no negativo desde a abertura, aos 129.467,87 pontos - na mínima, foi aos 127.375,91 pontos. O giro financeiro nesta quinta-feira posterior à apertada decisão do Copom subiu para R$ 25,7 bilhões. Na semana, o Ibovespa passa a acumular perda de 0,25%, ainda avançando 1,80% no mês - no ano, o índice da B3 recua 4,47%.

Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, observa que o corte de 0,25 ponto porcentual - e não de meio ponto como defenderam na noite da quarta-feira quatro diretores indicados pelo presidente Lula - era a decisão considerada mais provável pelo mercado. E, apesar da dissidência desses quatro diretores com relação à maioria de cinco que optou por ajuste menor na Selic - reduzida de 10,75% para 10,50% ao ano -, o Copom afirmou, no comunicado, que "a extensão e a adequação dos ajustes serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta", destaca Lohmann.

Tal compromisso, reiterado no comunicado do Copom, foi lido como um sinal de firmeza com relação ao combate à inflação e à necessidade de manter a Selic ainda em nível restritivo - ou seja, uma vitória da ala do maior rigor, os hawks, sem que houvesse, no texto, qualquer menção aos fundamentos para a ala dissidente, dove, ter optado na quarta pela manutenção do ritmo de cortes em meio ponto porcentual. "Vamos aguardar a ata para uma análise mais completa e aprofundada", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, ao destacar que a "novidade" - a dissidência no Copom - não se fez acompanhar por explicações no comunicado.

De qualquer forma, ainda que reflita visão majoritária por estreita margem na atual composição do Comitê de Política Monetária, entre o rigor e a flexibilização, o olhar do mercado se voltou desde a noite da quarta ao que tende a prevalecer quando o colegiado for renovado ao fim dos atuais mandatos, a começar por Campos Neto, que pode ser substituído, em 2025, por Gabriel Galípolo - diretor de Política Monetária do BC e ex-secretário-executivo de Fernando Haddad no ministério da Fazenda -, que na quarta votou com os 'doves'.

"No ano que vem, o governo passará a ter sete membros indicados para o Copom. Com a mudança na presidência da autarquia, na virada para 2025, o temor é de que se tenha então um BC muito mais expansivo, inclinado a cortes de juros independentemente, talvez, de dados que mostrem confiança quanto à inflação", diz Pedro Moreira, sócio da One Investimentos.

Rogério Mori, economista-chefe da Davos Investimentos, destaca que a redução do ritmo de corte da Selic, na noite da quarta, foi uma decisão mais alinhada com cenário que se deteriorou nos últimos 45 dias, em meio à perspectiva de que as taxas de juros nos Estados Unidos permaneçam altas por mais tempo.

No caso do Brasil, há fatores agravantes, lembra Mori, como o "quadro fiscal", que também se deteriorou após a revisão de metas oficiais para os próximos anos. "Tornou-se evidente que o esforço fiscal do governo será menor do que inicialmente projetado", acrescenta o economista, chamando atenção para os efeitos da catástrofe natural no Rio Grande do Sul, que deve afetar a oferta de produtos, especialmente agropecuários, "o que exercerá pressão adicional sobre os preços".

Nesse contexto de maior incerteza com relação a juros e inflação, Vale e Petrobras - papéis que guardam correlação com preços e demanda externa - foram as estrelas solitárias da sessão na B3, em que as ações de bancos e de empresas associadas ao ciclo doméstico estiveram entre as maiores perdedoras.

Entre os grandes bancos, a queda desta quinta-feira ficou entre 2,02% (Santander Unit) e 4,37% (BB ON), passando por perda de 3,00% em Itaú PN, e de 2,61% (ON) e de 2,54% (PN) nas ações do Bradesco. Na ponta negativa do Ibovespa, 3R Petroleum (-6,67%), Lojas Renner (-6,47%) e Ultrapar (-6,34%). No lado oposto, Locaweb (+4,06%), Minerva (+2,63%), Rede D'Or (+2,54%) e BRF (+2,16%).

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