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Para 'Economist', o mistério é por que o rebaixamento do Brasil não aconteceu antes

Brendan McDermid/Reuters
Imagem: Brendan McDermid/Reuters

10/09/2015 12h35Atualizada em 11/09/2015 16h41

SÃO PAULO - A revista britânica "The Economist" destacou o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's para grau especulativo. Segundo a publicação, "o mistério é não ter acontecido antes".

A revista lembra que a presidente Dilma Rousseff apresentou o Orçamento do país com um deficit de 0,5% do PIB para 2016 na semana passada, o que causou desespero nos mercados.

"Era uma questão de tempo: os preocupados alertavam que tal descontrole fiscal custaria o grau de investimento soberano. Em 9 de setembro, a S&P, que foi a primeira agência a dar o grau de investimento em 2008, foi a primeira a rebaixar a nota de crédito do país de volta para o grau especulativo", diz a revista. 

A "Economist" destacou o cenário de aversão ao risco para a Bolsa brasileira e que alguma fuga de capitais é inevitável.

Como muitas pensões e fundos mútuos só podem investir em títulos com grau de investimento, pode haver uma grande saída de capital já se antecipando ao corte que deve vir de outras duas agências, a Fitch Ratings e a Moody's.

"Isso não vai paralisar o Brasil de hoje, com sua economia diversificada e altas reservas cambiais, que já teve dias mais caóticos. Mas os custos de empréstimos já elevados do governo vão subir ainda mais, aumentando o risco de outro rebaixamento. O capital também vai se tornar mais caro para as empresas. Nada disso vai ajudar o Brasil a afastar a recessão deflagrada no segundo trimestre", afirma.

Por outro lado, a forma como os políticos irão reagir é menos clara, segundo a publicação.

"O rebaixamento é certamente um tapa na cara para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que foi para o governo justamente para evitar isso. Para ser justo, muitas das medidas fiscais propostas, incluindo cortes modestos nos gastos de bem-estar, foram revistas por um Congresso rebelde sobre o qual Dilma - com sua popularidade na casa de um dígito e um enorme escândalo de corrupção que assola sua coalizão - não tem controle. Só o Congresso pode desbloquear cerca de 90% do Orçamento que está atualmente autonomizado e que poderia ser cortado", destaca a revista.

"A S&P pode ainda motivá-los a fazer o ajuste. Porém, congressistas e ministros (hostis ao aperto de cintos de Levy) podem concluir que uma maior austeridade é inútil. Não seria a primeira vez", afirmou a revista.

Rebaixamento da nota do Brasil pesa nos mercados europeus