"O problema do Brasil foi achar que o petróleo era nosso, quando deveria ser dos outros"
SÃO PAULO - A descoberta do Pré-Sal em 2007 marcou um momento importante para a economia brasileira, no qual novas estratégias foram idealizadas e a tão sonhada autossuficiência no abastecimento caminhava para ser realidade em um futuro menos distante. A dimensão que se deu aos novos campos, em detrimento às dificuldades de se explorar a matéria-prima em águas tão profundas, pode ter feito o país tomar decisões erradas sobre como desfrutar da melhor maneira o presente recém-encontrado. Essa é a opinião do economista e professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia e Administração da USP.
Para ele, o Brasil perdeu uma oportunidade enorme de aproveitar o boom das commodities e melhor explorar o pré-sal. Hoje, com a commodity negociada abaixo dos US$ 30 o barril -- quando se fala que o preço mínimo para a Petrobras (PETR3; PETR4) seria na casa dos US$ 50 --, ele não espera momentos de bonança no futuro. O professor da USP acredita que a era do petróleo está com os dias contatos muito por conta da redução do consumo, grande elevação na oferta, das novas posições com relação aos efeitos colaterais nocivos do uso da commodity sobre o meio ambiente, além do desenvolvimento de fontes alternativas sustentáveis.
"Pra quê continuar no pré-sal se sabemos que o preço do barril está na casa dos US$ 30? Por que não se abre a exploração do pré-sal às empresas estrangeiras?", questiona Feldmann. Para ele, o tempo que o país perdeu desenvolvendo tecnologia e pensando nas regras para a exploração dos campos inviabilizou o melhor aproveitamento das reservas. "O problema do Brasil foi achar que o petróleo era nosso. Com os preços atuais, o petróleo está deixando de ser estratégico. Agora, ele tem que ser dos outros, de quem consegue operar com maior eficiência", argumentou.
Na avaliação de Feldmann, a estatal deveria abrir totalmente o pré-sal para a exploração das empresas estrangeiras, na medida em que não se espera recuperação dos preços. Para ele, a descoberta foi uma ilusão. "Tem gente que dizia que o pré-sal era uma temeridade, pela tendência de queda do preço do petróleo ao longo dos anos". Esse cenário aliado à "demora para se explorar" a região complicou mais os potenciais ganhos. "Mesmo naquela época já dava para prever que o petróleo não teria sobrevivência", complementou.
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