"Uma empresa privada não faria o que a Petrobras fez", diz ex-diretor
SÃO PAULO - A Petrobras cumpriu sua missão na transformação do Brasil em um país independente, com autonomia em energia, fertilizantes e petroquímicos. Essa é a avaliação de Guilherme Estrella, ex-diretor de Exploração e Produção da estatal, que comandou a equipe que descobriu o pré-sal.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", ele defendeu o trabalho da estatal na área e ressaltou sua hegemonia no mercado brasileiro. "Vai no Alto Amazonas. Não tem a Shell lá, tem a BR. Essas empresas só vêm para o filé mignon", disse. "Uma empresa privada não faria o que a Petrobras fez".
Durante a conversa com os jornalistas Antonio Pita e Fernanda Nunes, Estrella manifestou preferência pelo possível veto da presidente Dilma Rousseff ao projeto que acaba de ser aprovado no Senado, que acaba com a obrigatoriedade de a petrolífera brasileira participar de todos os blocos do pré-sal.
Segundo ele, há uma pressão constante sobre os trabalhos da companhia, sobretudo desde a descoberta de petróleo em águas profundas. "O cônsul geral norte-americano no Rio parabenizou o trabalho, mas, falando em nome de empresas estrangeiras, questionou a operação única, fazendo o trabalho dele de forma absolutamente legítima.
A descoberta mais importante dos últimos 50 anos na indústria petrolífera mundial e os caras ficarem de fora?", contou o ex-diretor.
Com o atual nível de preços na casa dos US$ 40 o barril, ele questionou a abertura de novas licitações de modo apressado no atual momento, se a operação nessas condições não é interessante.
"O país tem uma situação confortabilíssima de soberania energética. Isso não pode ser medido monetariamente. É um valor de sustentação do país", disse.
Para ele, desistir da política de prioridade de conteúdo nacional seria "o fim da picada". "Temos uma riqueza, descoberta em território nacional por empresa nacional. Chega na hora de gerar empregos, você vai levar para fora?".
Quando questionado sobre a saída para a Petrobras ele defende o alongamento do perfil da dívida e os avanços nas operações com a China.
"Dinheiro existe. A solução é mais política. Nossa base de sustentação está no mercado interno. Partir para a venda de ativos onde somos hegemônicos é precipitado. Não dá para decidir muita coisa em cima de uma crise", complementou.
Para ele, uma empresa petrolífera não pode "ser gerenciada como um banco", uma vez que banqueiro tem aversão absoluta ao risco, ao contrário da Petrobras na avaliação do ex-diretor, que não teria aversão nenhuma ao risco exploratório -- fator que teria sido decisivo para a descoberta do pré-sal.
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