Cachaça orgânica que troca ácido por limão é aposta no RN
Uma cachaçaria artesanal, que nasceu na cidade de Pureza, balneário no interior do Rio Grande do Norte, aposta na produção orgânica da bebida para se firmar nos mercados nacional e internacional.
Entre as medidas adotadas pela Agroindustrial Extrema para livrar o produto de substâncias químicas nocivas está a troca do ácido sintético, usado nas usinas de produção em grande escala, por suco de limão, que possui ácidos naturais, na fermentação da cachaça.
Ainda, os agrotóxicos foram banidos da plantação da cana-de-açúcar e de outras matérias-primas usadas na produção da bebida.
Alambique conseguiu certificado de produção orgânica
Com essas medidas, em 2010, a fábrica conseguiu certificação de que a bebida é totalmente livre de compostos químicos, pelo IBD (Instituto Biodinâmico). A empresa foi uma das primeiras a conseguir o selo no Estado, que começa a despontar como um polo produtor da bebida.
"Para ser orgânica, a empresa tem de comprovar até que o esterco usado no adubo veio de um gado alimentado com vegetais sem agrotóxicos. Como resultado, a cachaça sai com melhor qualidade", diz Anderson Faheina, diretor da Agroindustrial Extrema.
Cachaçaria distribui leite para crianças da região
A fábrica que tem sete anos não é conhecida apenas por sua produção artesanal. Na edição de 2011 do Prêmio MPE Brasil, promovido pela FNQ (Fundação Nacional da Qualidade) em parceria com o Sebrae e outras instituições, a Agroindustrial Extrema foi vencedora na categoria agronegócio e destaque em responsabilidade social.
Anderson Faheina, diretor da Agroindustrial Extrema, segura o troféu da categoria agronegócio do Prêmio MPE Brasil
Um dos projetos da empresa é a coleta e tratamento do esgoto de um bairro próximo à fazenda. O sistema instalado pelo empresário beneficia cerca de cem pessoas e a água tratada é reutilizada na irrigação da plantação de milho.
"Nenhuma casa em toda a cidade, que é famosa por suas águas límpidas e recursos hídricos, tinha saneamento básico. É um contraste muito grande e queríamos dar um exemplo de proteção ambiental", declara. O nome do município, Pureza, é originado justamente de suas águas puras e nascentes de rios.
O milho irrigado com a água tratada é utilizado para alimentar o gado. Daí, Faheina teve a ideia de implantar uma ação social em complemento ao projeto ambiental.
O leite gerado pelas vacas do rebanho é rotulado e entregue à Pastoral da Criança, instituição ligada à Igreja Católica, que o distribui para crianças com até quatro anos de idade e baixa renda familiar. Ao todo, 25 crianças são beneficiadas pelo programa.
"Toda empresa tem de causar impacto ambiental e social benéfico para a sua região e fazer algo além de sua atividade", afirma.
Ações ambientais e sociais criam empatia com o público
De acordo com o empreendedor, além de gerar empregos, a função de uma empresa é desenvolver o seu entorno. Com ações ambientais e sociais, ela deixa de ser uma ilha, cresce junto com a população local e cria uma empatia com o público.
"É também um marketing indireto. A empresa passa a ser encarada como uma marca amigável e será priorizada na hora do consumo."
Segundo ele, mesmo micro e pequenas empresas podem investir em projetos ambienatais ou sociais. Com um bom planejamento, é possível implantar ações simples sem comprometer o orçamento do negócio.
"Se a empresa tem pouco recurso, ela precisa montar um projeto que seja possível realizar com aquele capital. Para um dia ela fazer algo grande, tem de começar fazendo coisas pequenas."
Toda empresa gera algum tipo de resíduo que pode ter uma destinação mais adequada. Até mesmo um pequeno escritório gera papel que pode ser reciclado.
Para Faheina, todo negócio tem algum ponto ambiental ou social para ser melhorado, muitas vezes com ações simples.
"Um projeto pode parecer irrisório frente ao de uma grande empresa, mas isso é um mero detalhe. Cada empresa tem de fazer a sua parte. Se todos fizessem um pouco, o mundo seria outro."
Empresa espera aumento das exportações
Cerca de 20% da produção da Agroindustrial Extrema é destinada à exportação. A cachaça vai para os Estados Unidos e para a Europa e, com a notícia de que a cachaça será reconhecida como produto genuinamente brasileiro pelos norteamericanos, o número pode aumentar.
Segundo Faheina, a bebida, que era comercializada com outros nomes no Estados Unidos, terá agora uma identidade própria por lá. Com isso, a demanda para exportação deve crescer no Brasil e a empresa já está atenta. "Podemos exportar mais se produzirmos mais. Não vamos diminuir o consumo interno para abastecer outros países."
"O consumidor do bom vinho quer saber qual a origem do produto, como foi feito e quais matérias-primas foram utilizadas. Com a cachaça brasileira será a mesma coisa, as pessoas de lá terão acesso maior a estas informações. Parece simples, mas é uma mudança cultural", afirma.
A fábrica tem capacidade para produzir 200 mil litros por ano de cachaça e licores artesanais e orgânicos, sendo que 80 mil litros são de cachaça envelhecida. O faturamento anual da empresa chega a R$ 680 mil.
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