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Bar em favela do Rio vende cerveja artesanal e petisco chique a gringo

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

27/05/2013 06h00

De olho na Copa das Confederações e na Copa do Mundo, donos de botecos nas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro (RJ) apostam em produtos sofisticados para atrair turistas, principalmente estrangeiros, e até mesmo moradores locais.

É o caso do bistrô Estação R&R, no Complexo do Alemão, que vende cervejas artesanais, importadas e nacionais. Já no Bar do David, no morro Chapéu Mangueira, o carro-chefe são os petiscos elaborados com ingredientes nobres, como camarão, polvo, lula e mexilhões.

As duas comunidades contam com uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

Marcelo Ramos, 38, abriu o bistrô Estação R&R há cinco meses, quando a UPP já estava instalada no Alemão. Foram necessários nove meses e R$ 30 mil para transformar a garagem desocupada do sogro em um espaço comercial.

No início, Ramos comercializava apenas 20 rótulos de cervejas. Hoje, segundo ele, a empresa vende cerca de 150 marcas. Os valores variam de R$ 5, para uma Ravache de 300 ml, à R$ 250, para uma garrafa de 750 ml da cerveja belga Deus.

Apesar de não divulgar o faturamento, o empresário diz que por semana –o bistrô funciona apenas de quinta-feira a sábado– são vendidas, em média, 400 cervejas. Ramos quer consolidar o negócio antes de abandonar o seu emprego de técnico de telecomunicações e começar a abrir o bar todos os dias.

“Metade dos meus clientes é morador da comunidade e a outra metade é turista. Minha proposta é mostrar que o morador da favela também pode consumir cerveja artesanal e ter bom gosto”, afirma.

Para a Copa das Confederações, que começa no dia 15 de junho, Ramos pretende abrir o estabelecimento também às quartas-feiras. Até a Copa do Mundo, no próximo ano, ele pretende funcionar todos os dias.

“Tenho parceria com empresas de turismo que trazem um tradutor quando fecham pacotes para estrangeiros. Nas Olimpíadas de 2016 já quero ter a segunda loja em funcionamento”, declara.

Bar já recebeu prefeito de Nova York

No Chapéu Mangueira, o empresário David Vieira Bispo, 41, comanda o Bar do David desde 2010, quando já havia uma UPP na comunidade. Bispo diz que investiu R$ 10 mil para abrir o negócio, mas precisou gastar mais R$ 30 mil no início deste ano para melhorar a estrutura do espaço, visando os eventos esportivos.

O carro-chefe do negócio são os petiscos com ingredientes nobres. Os mais pedidos são o croquete e a feijoada de frutos do mar, que custam R$ 21,90 e R$ 19, respectivamente.

Este ano, o empresário lançou mais um aperitivo: o Favela Chic, linguiças empanadas com molhos cheddar e chimichurri. O preço é R$ 22,90. O faturamento não foi divulgado.

A fama dos petiscos do Bar do David já atraiu políticos e músicos ao estabelecimento. O mais ilustre foi o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, no ano passado, durante a Rio+20, conferência das Nações Unidas sobre sustentabilidade.

“Já sabia que ele viria quase uma semana antes, teve todo um esquema de segurança. Foi uma visita rápida, mas foi importante para valorizar nossa comunidade”, declara.

Segundo Bispo, nos finais de semana e feriados, são atendidos cerca de 200 clientes em um dia. No entanto, durante os dias úteis, o movimento cai em torno de 60%.

UPPs incentivam formalização de negócios

De acordo com a coordenadora de empreendedorismo em comunidades pacificadas do Sebrae-RJ (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas do Rio de Janeiro), Carla Teixeira, a instalação das UPPs nas favelas cariocas ajudaram no processo de formalização de negócios nestas regiões.

Desde 2010, cerca de 3.000 empresas se formalizaram com auxílio direto do Sebrae nas comunidades pacificadas, segundo Teixeira. No entanto, o número real de formalizações é ainda maior porque é possível formalizar um negócio diretamente no portal do empreendedor ou em escritórios de contabilidade.

“A formalização está ligada ao contexto social. Se a água e a luz são informais, o comércio também será informal. Mas, se esses serviços passam a ser formais, as empresas tendem a fazer o mesmo”, diz.

Apesar desse cenário, Teixeira afirma que há muito a ser feito. Em cada dez empresas nas favelas cariocas, oito ainda são informais, segundo estudo do Sebrae-RJ.

“Muitas dessas empresas ficam em regiões íngremes e com ruas estreitas, o que dificulta a chegada e a saída de mercadorias. Além disso, há falta de mão de obra qualificada e dificuldade em acessar novas tecnologias”, declara.

Empresas precisam se adaptar para receber turistas

De acordo com a coordenadora do Sebrae-RJ, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo vão levar um grande número de turistas às comunidades pacificadas, que já se tornaram atrações turísticas.

As maiores oportunidades são para guias turísticos, intérpretes, bares, restaurantes, hostes e artesanato.

Para aproveitar o movimento de turistas estrangeiros nestas comunidades, a coordenadora administrativa do Iarj (Instituto de Administração do Rio de Janeiro), Amanda Dias, afirma que os estabelecimentos precisam fazer adaptações na forma de comunicação com o público.

Segundo Dias, os empresários podem providenciar cardápios, cartazes e avisos em inglês e, se possível, também em espanhol, pois haverá um grande movimento de turistas latino-americanos durante os eventos esportivos.

“Os empresários podem, ainda, formar grupos para contratar intérpretes. É importante que os estabelecimentos tenham condições de atender os clientes que não dominam o português”, declara.