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Árvore da Amazônia derrubada como vassoura sobrevive e vira hidratante

Semente de ucuuba, da Amazônia, usada pela Natura para fabricar hidratantes - Divulgação/Natura
Semente de ucuuba, da Amazônia, usada pela Natura para fabricar hidratantes Imagem: Divulgação/Natura

Armando Pereira Filho

Do UOL, em Abaetetuba (PA)

05/09/2016 06h00

A ucuubeira ("árvore da manteiga") está sob risco de extinção na Amazônia porque é muito procurada para fazer cabo de vassoura, batente de porta, viga de telhado e carvão vegetal (a madeira é queimada).

Uma nova linha da empresa brasileira de cosméticos Natura, lançada no ano passado, ajuda a dar maior valor econômico para a árvore e a preserva de ser derrubada.

A empresa usa a ucuuba, fruto da árvore, cuja semente é fonte de uma manteiga leve com alto poder hidratante. Com isso, são produzidos cremes mais eficientes: conseguem hidratar bastante sem deixar a pele engordurada, segundo a Natura.

Moradores ganham três vezes mais

Os moradores na região de floresta no interior do Pará, ao lado de rios, derrubam as árvores para vender às madeireiras. Com o projeto da Natura, eles são estimulados a manter as árvores vivas, colhendo apenas os frutos.

A empresa diz que os moradores ganham três vezes mais do que conseguiriam vendendo a madeira. Além disso, a árvore fica em pé e vai render de novo, por uns dez anos.

Ucuubeira, árvore amazônica, cujo fruto (ucuuba) é usado na produção de hidratantes da Natura - Divulgação/Natura - Divulgação/Natura
Esta é a ucuubeira, árvore da ucuuba, que vira hidratantes
Imagem: Divulgação/Natura

Açaí e murumuru viram perfume e xampu

A linha Ekos da Natura já existe há 16 anos e usa sementes e frutos da Amazônia, como açaí, murumuru, andiroba, buriti, cumaru e a própria ucuuba.

Sementes de murumuru, árvore amazônica, e xampu da Natura feito com o ingrediente - Armando Pereira Filho/UOL - Armando Pereira Filho/UOL
Sementes de murumuru e xampu feito com o ingrediente
Imagem: Armando Pereira Filho/UOL

Trabalhadores viajam horas em barquinhos

Esses ingredientes são colhidos por comunidades ribeirinhas, que têm de navegar horas em barquinhos em rios do Pará e do Amazonas para entregar sua produção.
 
Comunidade ribeirinha no Pará, de onde a Natura extrai sementes para seus cosméticos - Armando Pereira Filho/UOL - Armando Pereira Filho/UOL
Moradores do Pará usam barcos para levar sua colheita de sementes e frutos
Imagem: Armando Pereira Filho/UOL

Colheita de açaí rende até R$ 3.000 por mês

Na Amazônia, a Natura tem 24 comunidades fornecedoras, com cerca de 2.000 famílias. Segundo a empresa, o rendimento mensal dos ribeirinhos é de R$ 2.000 a R$ 3.000 na temporada do açaí, o produto mais valorizado. Isso dura por quatro meses no ano. Depois, eles têm de colher outras culturas.

Homem sobe em árvore para colheita de açaí em Abaetetuba (PA) para produção de cosméticos da Natura - Armando Pereira Filho/UOL - Armando Pereira Filho/UOL
Homem sobe em árvore para colheita de açaí em Abaetetuba (PA)
Imagem: Armando Pereira Filho/UOL

Cooperativa industrializa sementes, e ganhos sobem 7 vezes

Vender só as sementes e os frutos não rende tanto dinheiro. Por isso a Coofruta, cooperativa dos trabalhadores de Abaetetuba (PA), criou uma pequena indústria com apoio da Natura para produzir lá mesmo óleos e manteigas que são matéria-prima dos cosméticos.

Segundo Cláudio Brito, diretor da Coofruta, o rendimento com a industrialização pode aumentar sete vezes. O quilo da semente do murumuru (usado para xampus e condicionadores) estava em torno de R$ 3,80 no fim de agosto. O quilo da manteiga de murumuru era vendido por R$ 27,50 (os valores flutuam conforme a colheita).

Sementes de murumuru secam em estufa antes de serem processadas em cooperativa de Abaetetuba (PA); são usadas pela Natura para produzir xampus e condicionadores - Armando Pereira Filho/UOL - Armando Pereira Filho/UOL
Sementes de murumuru secam em estufa; elas valem 7 vezes mais após industrialização
Imagem: Armando Pereira Filho/UOL

Explorar a floresta sem matá-la

A Natura tem um projeto para explorar a floresta sem derrubar as árvores.

"O Programa Amazônia foi lançado em 2011 com o objetivo de manter a floresta em pé, dando valor para a produção de sementes, óleos e manteigas de árvores da Amazônia", diz Renata Puchala, gerente de Sustentabilidade da Natuara.

O projeto estimula pesquisa científica para descobrir que sementes podem virar cosméticos e produzir riqueza.

As propostas da empresa estão na sua "Visão de Sustentabilidade 2050", em que defende que suas marcas ajudem a formar consciência ecológica, buscando tecnologias inovadoras e com impacto positivo na sociedade. O projeto na íntegra está no site www.natura.com.br/e/sustentabilidade.

5 de setembro é o Dia da Amazônia

No dia 5 de setembro, é comemorado o Dia da Amazônia. A floresta tem cerca de 5,5 milhões e meio de quilômetros e abrange nove países. De seu território no Brasil, apenas 26% são protegidos (leia mais sobre a Amazônia aqui).

Amazônia - Reprodução/grayline - Reprodução/grayline
Desmatamento é um dos problemas enfrentados na floresta amazônica
Imagem: Reprodução/grayline

(O jornalista viajou a convite da Natura)