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Sonegação e grandes lucros de acionistas causam desigualdade, aponta ONG

Do UOL, em São Paulo

16/01/2017 15h00

Paraísos fiscais, sonegação de impostos e o aumento do lucro de acionistas de empresas são alguns dos fatores apontados pela ONG britânica Oxfam como causas da desigualdade social no planeta.

Segundo a Oxfam, nos últimos 25 anos, o 1% mais rico da população mundial teve uma renda mais alta que os 50% mais pobres. A organização, que atua em assistência social e combate à pobreza em 94 países, divulgou um relatório nesta segunda-feira (16), em que cita sete causas para a desigualdade.

Alguns especialistas que defendem a economia de mercado, porém, contestam a interpretação da ONG, ainda que digam que os números apontados no relatório estejam corretos.

Veja quais são as causas listadas pela ONG:

Empresas trabalham pelos mais ricos

Para a Oxfam, as grandes empresas "estão cada vez mais trabalhando para os ricos". Ela cita que os lucros das grandes companhias foram altos entre 2015 e 2016, e que as dez maiores companhias do mundo tiveram receita maior do que 180 países juntos.

"Nos seus esforços para oferecer retornos elevados aos mais ricos, as empresas pressionam ainda mais seus trabalhadores e fornecedores a acompanhá-las nesse objetivos - e a evitar impostos que beneficiariam a todos, particularmente aos mais afetados pela pobreza", afirma a ONG, em seu relatório.

Menos dinheiro para trabalhadores

A renda dos altos executivos das empresas tem aumentado "vertiginosamente", mas os salários de trabalhadores comuns e a receita dos fornecedores praticamente não mudaram, ou até diminuíram, em alguns casos, segundo o relatório.

"Em todo o mundo, empresas estão implacavelmente empenhadas em reduzir seus custos com mão de obra – e em garantir que os trabalhadores e fornecedores da sua cadeia de abastecimento fiquem com uma fatia cada vez menor do bolo econômico", afirma a ONG.

Paraísos fiscais

Para aumentar os lucros, muitas empresas pagam o menos possível de impostos, diz a Oxfam. Para isso, algumas usam paraísos fiscais ou fazem com que países concorram uns com os outros na oferta de incentivos e isenções de impostos, segundo o relatório, que também cita a "sonegação fiscal generalizada" como outro fator.

"As pessoas mais afetadas pela pobreza são as que mais perdem, já que são as mais dependentes dos serviços públicos que esses bilhões não arrecadados poderiam financiar", afirma.

Lucros dos acionistas

Para a ONG, grande parte das empresas está cada vez mais buscando aumentar os lucros dos acionistas, o que também contribui com a desigualdade, porque a maioria desses acionistas são as pessoas mais ricas da sociedade.

"Cada dólar de lucro passado aos acionistas de empresas é um dólar que poderia ter sido usado para garantir uma remuneração mais alta a produtores ou trabalhadores, pagar mais impostos ou investir em infraestrutura ou inovação", afirma o relatório.

"Capitalismo da camaradagem"

Grandes empresas de diversos setores usam seu poder e influência para garantir que leis e políticas as ajudem a aumentar os lucros, segundo a Oxfam. Ela chama isso de "capitalismo da camaradagem".

"O capitalismo da camaradagem beneficia os ricos, pessoas que são titulares e diretores dessas empresas em detrimento do bem comum e da redução da pobreza", afirma a ONG. "Empresas de menor porte precisam lutar para competir e pessoas comuns acabam pagando mais por produtos e serviços controlados por cartéis, pelo poder monopolista de empresas e por pessoas que mantêm estreitas relações com o governo."

"Super-ricos"

A Oxfam afirma que estamos na "era dos super-ricos" --pessoas com um patrimônio de pelo menos US$ 1 bilhão. Os 1.810 bilionários da lista da Forbes de 2016 têm um patrimônio de US$ 6,5 trilhões, a mesma riqueza dos 70% mais pobres da humanidade, de acordo com a ONG.

"Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da Oxfam para esse grupo indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo", afirma o relatório.

Sonegação e influência

Muitos super-ricos usam a estratégia de pagar o mínimo possível de impostos, usando uma "uma rede global secreta de paraísos fiscais ativamente, como revelado pelos chamados Panama Papers e outras fontes", afirma a Oxfam.

Muitos bilionários também usam seu poder, influência e relações para garantir que as leis e regras os favoreçam, de acordo com o relatório.

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