Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Marca de doce e chocolate tem de se explicar por ter nome de frigorífico

Comunicado da Peccin S/A publicado no site da fabricante de chocolates - Reprodução
Comunicado da Peccin S/A publicado no site da fabricante de chocolates Imagem: Reprodução

Flávio Ilha

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

26/03/2017 04h00

O fim de semana passado foi atípico para o departamento de marketing da Peccin S/A: uma pequena força-tarefa de funcionários e estagiários se revezou monitorando as redes sociais da empresa para responder "prontamente" às reclamações de clientes que vinculavam a marca aos resultados da Operação Carne Fraca. A operação da Polícia Federal revelou suspeitas de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e frigoríficos.

Estabelecida há 61 anos na cidade de Erechim, 377 quilômetros ao norte de Porto Alegre, a fabricante de doces e chocolates Peccin foi vítima de uma “infeliz coincidência”, na visão de seu gerente de marketing: ser confundida com a Peccin Agroindustrial Ltda, com sede em Curitiba (PR) e alvo da operação desencadeada na sexta-feira (17) pela Polícia Federal.

“Nossa ação teve de ser rápida e proativa, para evitar prejuízos maiores. Apesar dos problemas que nos causou, o fato acabou revelando que a nossa marca tem muitos advogados de defesa entre os consumidores. O saldo foi positivo”, avaliou o gerente de marketing da empresa gaúcha, Carlos Speltri.

A reação da Peccin S/A aos primeiros comentários negativos nas suas redes sociais foi rápida: às 14h47 da sexta-feira a empresa publicou um comunicado desfazendo a confusão e afirmando que não possuía “qualquer relação comercial ou societária” com a homônima do Paraná, acusada de utilizar matéria-prima estragada para a confecção de salsichas e linguiças e utilizar aditivos acima do limite ou proibidos, entre outras acusações.

Mesmo assim, mais de 500 interações foram registradas na página da empresa em uma rede social – boa parte delas cobrando um posicionamento enérgico em relação à Operação Carne Fraca.

A confusão entre as duas empresas já rendeu uma disputa judicial, há quatro anos, que resultou em acordo. Só que a semelhança não foi inteiramente desfeita: a Peccin paranaense passou a usar uma marca fantasia diferente – a Italli Alimentos – mas não alterou sua razão social, o que na prática permite que as duas empresas continuem a ser consideradas, eventualmente, como uma só.

“Estamos estudando se é cabível, juridicamente, uma nova ação, desta vez contra a razão social da nossa homônima. Mas não posso adiantar uma decisão, isso está sendo analisado”, disse Speltri.

A pedido da marca gaúcha, a Peccin Agroindustrial Ltda também ressaltou, no seu comunicado sobre a operação da Polícia Federal, que não tem vínculos com a fabricante de doces de Erechim. A empresa lamentou o que classifica como “divulgação precipitada de inverdades sobre seu sistema de produção” e afirmou que os fatos foram modificados “no afã de justificar os motivos da Operação Carne Fraca”. Contatada pela reportagem do UOL, a indústria não quis se manifestar.

A Peccin S/A foi fundada pelos irmãos Pezzin em 1956 e figura, atualmente, no ranking das seis maiores produtoras de doces e chocolates do país. O carro-chefe é a barra de chocolate Trento, vendida em todo o Brasil.

“Muitos consumidores desavisados cobraram coerência de nossa parte, já que temos a qualidade entre um de nossos valores essenciais. Mas, com a confusão desfeita, passaram a difundir também nossas explicações”, informou Speltri. Tanto que a nota oficial da empresa advertindo o mercado sobre a confusão teve mais de 600 compartilhamentos na página de sua principal rede social.

Multicarnes

A investigação da Polícia Federal também revelou confusão com a marca Multicarnes, muito usada por operações comerciais envolvendo alimentos de origem animal em todo o país.

A empresa que é alvo da Carne Fraca é a Multicarnes Representações Comerciais Ltda. Tem sede em Curitiba (PR), no bairro Fazendinha, e é uma sociedade limitada entre Roberto Borba Coelho Júnior e sua mulher, Joceleia Vieira Coelho. A empresa funciona desde agosto de 2014 com o CNPJ 20944373/0001-28.

Roberto teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal de Curitiba acusado de pagar propina à chefe do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Ministério da Agricultura no Paraná, Maria do Rocio Nascimento – apontada pela Polícia Federal como uma das líderes do esquema fraudulento.

O grupo Multifoods, com sede em São Paulo e detentor da marca Multicarnes, informou que utilizava a razão social Multicarnes Comércio de Alimentos Ltda até outubro de 2016, quando mudou de denominação. Em nota, o grupo afirmou que “desconhece totalmente” a empresa com sede no Paraná e que “jamais autorizou, cedeu ou permitiu que qualquer outra empresa pudesse se utilizar de sua marca ou denominação”. A Multifoods ingressou com ação judicial para impedir a utilização da marca.

O nome Multicarnes também aparece em uma empresa na cidade de Colombo (PR), que atua como Multicarnes Comércio de Alimentos Ltda, e em frigoríficos em Canoas (RS), Salvado (BA), São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG), que utilizam a mesma denominação. A reportagem também identificou uma marca Multicarnes vinculada ao grupo cearense Edson Queiroz, dono de negócios nas áreas de abastecimento de gás, comunicação, água mineral, refrigerantes, químicos e comércio varejista.

Saiba como escolher uma carne livre de riscos à saúde

TV Jornal