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JBS recebeu R$ 8,1 bilhões do BNDES e sofre investigações da PF

Rodrigo Fonseca/AFP Photo
Imagem: Rodrigo Fonseca/AFP Photo

Do UOL, em São Paulo

17/05/2017 22h06

O frigorífico JBS, maior processador de carne bovina do mundo, dono de marcas como Friboi, e centro das denúncias contra o presidente Michel Temer, é investigado em diferentes operações da Polícia Federal realizadas nos últimos oito meses.

A empresa é dos irmãos Joesley e Wesley Batista, que incluem em sua lista marcas como Vigor, Alpargatas, Banco Original, Âmbar (energia térmica e eólica) e Flora (limpeza e cosméticos, como sabão Minuano e xampu Neutrox).

Uma das operações da PF, a Greenfield, foi deflagrada em setembro do ano passado para investigar suspeita de fraude nos fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Postalis (dos Correios) e Funcef (da Caixa Econômica Federal). A investigação começou por causa de dez casos de deficits bilionários apresentados pelos fundos.

As irregularidades envolveriam a produtora de celulose Eldorado Brasil, uma empresa da holding J&F, que controla os negócios da família Batista.

A Justiça impediu Wesley Batista de exercer cargos executivos, por causa da operação Greenfield. Ainda em setembro do ano passado, a JBS anunciou a troca de comando. José Batista Júnior assumiu a presidência da empresa em caráter interino.

"O Sr. Wesley Batista está temporariamente suspenso do exercício de seus cargos de diretor presidente e de vice-presidente do Conselho de Administração da companhia e o Sr. Joesley Batista está temporariamente suspenso do exercício de seu cargo de presidente do Conselho de Administração da Companhia", afirmou a JBS em comunicado na época.

Carne Fraca e dinheiro do BNDES

Em março, a empresa foi envolvida em outra operação da PF, a Carne Fraca, que revelou esquema de pagamento de propina a fiscais agropecuários para liberar carnes sem fiscalização e venda de produtos com prazo de validade vencida. A operação foi contra vários frigoríficos, não são a JBS.

A outra operação da Polícia Federal, a Bullish, ocorreu na sexta-feira (12), uma operação para investigar fraudes e irregularidades em aportes concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da subsidiária BNDESPar, ao grupo JBS.

Entre os alvos da operação, estão o empresário Joesley Batista e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho.

Segundo a PF, R$ 8,1 bilhões teriam sido liberados com velocidade recorde, por meio de influência no governo. A liberação do dinheiro ocorreu a partir de junho de 2007, para que o grupo comprasse empresas do ramo frigorífico, inclusive no exterior.

De acordo com a Polícia Federal, as transações foram executadas sem a exigência de garantias e com a dispensa indevida de prêmio contratualmente previsto, gerando um prejuízo de aproximadamente R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos.

O dinheiro teria permitido à empresa se tornar uma das gigantes mundiais de processamento de carne.

Por causa das investigações, os donos da JBS estão impedidos de fazer mudanças societárias na empresa, além de não poder criar outras companhias no Brasil e no exterior.

O BNDES e a empresa não haviam se pronunciado sobre as acções.

Empresa virou gigante com ajuda do BNDES

A família Batista comprou a Smithfield Beef Group Inc. em 2008 e transformou a JBS em um império alimentar global -e isso foi com ajuda do BNDES.

Em 2014, a JBS passou a Vale e chegou a assumir o posto de maior empresa do Brasil depois da Petrobras.

Após realizar mais de US$ 17 bilhões em aquisições, a JBS tem operações em cinco continentes e em 21 Estados brasileiros. Tem mais de 300 unidades de produção e atua nas áreas de carne bovina, suína, aves e ovinos.

Em 2015, último dado disponível, faturou R$ 163 bilhões. Vende para mais de 150 países e tem 230 mil colaboradores no mundo.

Seus movimentos de expansão foram acompanhados com aportes do BNDES.

O BNDES aprovou R$ 287 milhões em empréstimos para a empresa de José Batista Sobrinho antes de a companhia comprar as operações da Swift Co. na Argentina, em 2005.

Quando a JBS vendeu ações em uma oferta pública, em 2007, o braço de investimentos do banco aprovou uma participação de R$ 1,1 bilhão para ajudar a adquirir a Swift, na época a terceira maior empresa de carne bovina e suína dos EUA. De propriedade do Tesouro brasileiro, o BNDES anunciava a criação de uma "multinacional brasileira".

Mais aquisições vieram na sequência, entre elas a da Pilgrim's Pride, com sede em Pittsburgh, EUA, a da canadense XL Foods e a de quatro processadoras de carne brasileiras.

A JBS adquiriu a empresa de lácteos Vigor em 2009 como parte da aquisição do Grupo Bertin SA. O banco converteu R$ 3,5 bilhões de títulos locais da JBS em ações em 2011. O BNDES aprovou R$ 6 bilhões em ações e R$ 2,4 bilhões em empréstimos em uma década.

(Com Reuters e Bloomberg)