JBS é investigada em várias operações; entenda suspeitas contra a empresa
A JBS se tornou o centro de denúncias contra Michel Temer, após notícia de que um de seus donos, Joesley Batista, teria gravado o presidente dando aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A empresa faz parte do grupo J&F, que controla os negócios da família Batista e inclui em sua lista marcas como Vigor, Alpargatas, Banco Original, Âmbar (energia térmica e eólica) e Flora (limpeza e cosméticos, como sabão Minuano e xampu Neutrox).
Joesley e seu irmão, Wesley Batista, fizeram um acordo que prevê que os dois não serão denunciados criminalmente pelo Ministério Público Federal, segundo informações do jornal "O Estado de S. Paulo". Eles não correm risco de serem presos ou usar tornozeleira eletrônica, e poderão continuar à frente de suas empresas.
O grupo é alvo de operações da Polícia Federal (PF) desde o ano passado. Entenda as suspeitas levantadas nesse período.
Sépsis
Em julho de 2016, Joesley Batista foi um dos alvos da operação Sépsis, da PF, desdobramento da Lava Jato.
As investigações relacionadas à Caixa Econômica Federal se basearam na delação premiada de um ex-vice-presidente do banco, Fábio Cleto, afilhado político de Eduardo Cunha.
Cleto disse que recebeu R$ 680 mil em troca de um aporte de R$ 940 milhões do FI-FGTS (Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) na produtora de celulose Eldorado Brasil, que faz parte do grupo J&F.
Na época, a Eldorado afirmou por meio de nota que captou recursos do FI-FGTS "para financiar obras de logística, saneamento e infraestrutura de sua primeira linha produtiva em Três Lagoas (MS), inaugurada em 2012".
"O financiamento foi realizado por meio de uma emissão de debêntures integralmente subscrita pelo FI-FGTS, com registro na CVM. Todo o procedimento seguiu estritamente as regras do FI-FGTS", disse na nota.
Afirmou ainda que "sempre atuou de forma transparente e todas as suas atividades são realizadas dentro da legalidade".
Greenfield
A PF deflagrou a operação Greenfield em setembro do ano passado para investigar suspeita de fraude nos fundos de pensão Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Postalis (dos Correios) e Funcef (da Caixa Econômica Federal). A investigação começou por causa de dez casos de deficits bilionários apresentados pelos fundos.
As irregularidades envolveriam a Eldorado Brasil Celulose, que faz parte do grupo J&F.
Por causa da operação, a Justiça bloqueou bens e afastou Joesley e Wesley Batista de atividades empresariais do grupo.
Ainda em setembro, os irmãos fecharam acordo com a força tarefa da Greenfield para que pudessem retornar ao comando do grupo e tivessem os bens desbloqueados. Em troca, os empresários se comprometeram a depositar em juízo um total de R$ 1,51 bilhão em seguro-garantia ou em títulos públicos federais.
Em março deste ano, a Justiça acolheu manifestação do Ministério Público Federal, que afirmava que o executivo descumpriu o acordo.
Na época, Joesley afirmou que "não descumpriu o termo de ciência e compromisso anteriormente firmado" com o MPF e homologado pelo juiz.
A J&F afirmou que Joesley iria "cumprir as medidas cautelares requeridas pelo MPF [Ministério Público] e deferidas pelo juiz".
"O empresário tem o maior interesse no esclarecimento dos fatos e está, como sempre esteve, à disposição das autoridades. Joesley reforça ainda que usará todas as medidas cabíveis para exercer o seu direito de defesa", disse em nota.
Cui Bono?
Em janeiro deste ano a PF deflagrou a operação Cui Bono? (referência a uma expressão latina que significa "a quem beneficia?") para investigar suspeitas de que o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), e Eduardo Cunha teriam participado de esquema de fraude na liberação de recursos da Caixa em troca de "vantagens ilícitas".
Teriam sido liberados R$ 500 milhões para a J&F, segundo a PF.
As investigações sobre a atuação de Geddel em favor de empresas começaram a partir da apreensão de um telefone celular de Cunha durante a Operação Catilinárias, em dezembro de 2015. A PF encontrou mensagens de texto no celular do ex-presidente da Câmara referentes ao período em que Geddel foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa, entre 2011 e 2013.
Na época, a J&F disse que todas as relações entre as empresas que fazem parte do grupo com a Caixa "são feitas sempre de forma profissional e na mesma forma de concorrência e tratamento com instituições privadas".
Carne Fraca
Em março deste ano, o grupo foi envolvido em outra operação da PF, a Carne Fraca, que mirou empresas de alimentos e frigoríficos.
Segundo as denúncias, foram praticadas irregularidades como venda de certificados sanitários e pagamento de propina a fiscais e agentes de inspeção para que algumas empresas continuassem atuando ilegalmente.
A operação investigou vários frigoríficos. Na lista da PF apareciam 50 empresas. A JBS aparece por meio de duas subsidiárias, a Seara e a Big Frango.
A JBS chegou a dar férias coletivas aos funcionários de 10 de suas 36 unidades de abate de bovinos no Brasil para ajustar a capacidade da empresa, após restrições ao setor por causa da Carne Fraca.
Após a operação, a JBS divulgou nota onde afirma que "o ministro da Agricultura, Blairo Maggi esteve na única instalação da JBS citada na investigação e constatou o rigor nos processos industriais". A empresa disse que "nenhuma das unidades da companhia foi interditada e não foi identificado nenhum problema em seus produtos".
"A JBS ressalta que não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará todas as medidas cabíveis", afirmou em nota.
Bullish
A outra operação da Polícia Federal, a Bullish, ocorreu na sexta-feira (12), uma ação para investigar fraudes e irregularidades em aportes concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da subsidiária BNDESPar, ao grupo JBS.
Entre os alvos da operação, estão o empresário Joesley Batista e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho.
Segundo a PF, R$ 8,1 bilhões teriam sido liberados com velocidade recorde, por meio de influência no governo. A liberação do dinheiro ocorreu a partir de junho de 2007, para que o grupo comprasse empresas do ramo frigorífico, inclusive no exterior.
De acordo com a Polícia Federal, as transações foram executadas sem a exigência de garantias e com a dispensa indevida de prêmio contratualmente previsto, gerando um prejuízo de aproximadamente R$ 1,2 bilhão aos cofres públicos.
O dinheiro teria permitido à empresa se tornar uma das gigantes mundiais de processamento de carne.
Por causa das investigações, os donos da JBS estão impedidos de fazer mudanças societárias na empresa, além de não poder criar outras companhias no Brasil e no exterior.
O BNDES e a empresa não havia se pronunciado sobre as ações.
Empresa virou gigante com ajuda do BNDES
A família Batista comprou a Smithfield Beef Group Inc. em 2008 e transformou a JBS em um império alimentar global -e isso foi com ajuda do BNDES.
Em 2014, a JBS passou a Vale e chegou a assumir o posto de maior empresa do Brasil depois da Petrobras.
Após realizar mais de US$ 17 bilhões em aquisições, a JBS tem operações em cinco continentes e em 21 Estados brasileiros. Tem mais de 300 unidades de produção e atua nas áreas de carne bovina, suína, aves e ovinos.
Em 2015, último dado disponível, faturou R$ 163 bilhões. Vende para mais de 150 países e tem 230 mil colaboradores no mundo.
Seus movimentos de expansão foram acompanhados com aportes do BNDES.
O BNDES aprovou R$ 287 milhões em empréstimos para a empresa antes de a companhia comprar as operações da Swift Co. na Argentina, em 2005.
Quando a JBS vendeu ações em uma oferta pública, em 2007, o braço de investimentos do banco aprovou uma participação de R$ 1,1 bilhão para ajudar a adquirir a Swift, na época a terceira maior empresa de carne bovina e suína dos EUA. De propriedade do Tesouro brasileiro, o BNDES anunciava a criação de uma "multinacional brasileira".
Mais aquisições vieram na sequência, entre elas a da Pilgrim's Pride, com sede em Pittsburgh, EUA, a da canadense XL Foods e a de quatro processadoras de carne brasileiras.
A JBS adquiriu a empresa de lácteos Vigor em 2009 como parte da aquisição do Grupo Bertin SA. O banco converteu R$ 3,5 bilhões de títulos locais da JBS em ações em 2011. O BNDES aprovou R$ 6 bilhões em ações e R$ 2,4 bilhões em empréstimos em uma década.
(Com Reuters e Bloomberg)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.