Número de armas deve triplicar em 4 anos, e país pode atrair marcas de fora
Com o decreto que facilita a posse de armas, o mercado brasileiro do setor, estimado em R$ 1 bilhão por ano, pode ser invadido por empresas estrangeiras. O temor é de especialistas em violência ouvidos pelo UOL. Eles avaliam que o número de armas legalizadas no país deve triplicar de 7 milhões para 21 milhões em três ou quatro anos. O aumento preocupa por episódios como o massacre de estudantes em escola de Suzano (SP) ontem.
No momento, o mercado nacional é disputado apenas pela Taurus e por poucas marcas estrangeiras, como Glock, Beretta, SIG Sauer e Iwi. Essas e outras marcas, como Smith & Wesson, Barrett e Ruag Ammotec já confirmaram presença numa feira internacional do setor no Rio de Janeiro, em abril. A LAAD Defence & Security 2019 é a maior feira de defesa e segurança da América Latina. São esperadas pelo menos 450 marcas nacionais e internacionais.
"A feira, num momento como este, é uma sinalização clara da tentativa de abrir o mercado brasileiro. É um retrocesso no campo da segurança pública porque não tem como separar posse de armas da violência", disse Luís Sapori, professor de mestrado e doutorado em Ciências Sociais na PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) e especialista em segurança pública.
Movimentação estimada em R$ 1 bilhão
Não existem números exatos de quanto o mercado de armas e munições movimenta por ano no Brasil. A Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (Aniam) informou, por meio de sua assessoria, não ter esses dados, e não costuma fazer previsões sobre o comportamento do mercado ou sobre o impacto do decreto.
Mas levando em conta que a Taurus Armas, principal fabricante no Brasil, detém grande parte do mercado brasileiro e faturou R$ 623,5 milhões nos primeiros nove meses de 2018, a estimativa dos especialistas não é de menos de R$ 1 bilhão por ano (pouco mais de US$ 260 milhões). Montante ainda pequeno se comparado ao mercado mundial legal de armas, que se aproxima de US$ 70 bilhões.
A indústria de armas e de munições e outros segmentos relacionados, como clubes de tiro (que também oferecem capacitação), segurança privada, fabricantes de coletes à prova de bala e empresas de blindagem, entre outros, devem ser os maiores beneficiados pela nova legislação, segundo Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz.
Aumento de pedidos de registro de armas
Especialistas e organizações como Sou da Paz informam que, mesmo antes de o decreto ser assinado, já vinham observando um aumento significativo nos pedidos de registro.
No ano passado, esse número chegou a 48,5 mil, em comparação com 45,5 mil em 2017, de acordo com dados da Polícia Federal. Entre 2014 e 2018, o número de registros autorizados passou de 1,2 milhão. Os especialistas apontam ainda a existência de pelo menos 15 milhões de armamentos ilegais.
"Imaginar que em poucos anos teremos quase 40 milhões de armas, entre legais e ilegais, circulando entre os brasileiros me faz pensar muito em uma situação de alto risco para a segurança do país", disse Sapori.
Financiamento facilitado pode ampliar compra de armas
Em tese, pelo menos 135 milhões de brasileiros maiores de 25 anos (dados autuais do IBGE) poderiam comprar armas de fogo.
Mas o número real deve ser bem menor. Segundo o IBGE, 92,5 milhões de brasileiros ganham R$ 2.270 em média por mês. Uma pistola simples não sai por menos de R$ 4.000 em lojas de São Paulo.
No entanto, a facilitação no financiamento, a possibilidade de abertura do mercado e o aumento da concorrência ajudariam muita gente a ter acesso às armas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.