Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Governo planeja nova reforma trabalhista; veja o que se sabe até agora

Rogério Marinho, secretário especial de Previdência e Trabalho - Renato Costa/Estadão Conteúdo
Rogério Marinho, secretário especial de Previdência e Trabalho Imagem: Renato Costa/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

06/09/2019 13h13Atualizada em 06/09/2019 14h57

Resumo da notícia

  • Dois anos após a reforma feita por Temer, o governo deve propor mais mudanças na legislação trabalhista
  • Um grupo de trabalho formado para estudar o tema deve apresentar propostas em 60 dias
  • Uma das mudanças deve ser o fim da unicidade sindical, que permite apenas um sindicato por categoria por município, região, estado ou país
  • O grupo também vai debater o formato das negociações coletivas e do registro sindical
  • Bolsonaro tentou dificultar a cobrança de contribuição sindical pelas entidades, mas a medida perdeu a validade
  • O governo também prepara a criação da "carteira de trabalho verde e amarela", com a qual o empregado terá menos direitos trabalhistas

O governo deve apresentar até a primeira semana de dezembro propostas para reformar mais uma vez as leis trabalhistas do país, dois anos após a ampla reforma feita pela gestão Michel Temer (MDB) mudar regras sobre férias, sindicatos e jornada de trabalho, dentre outros.

Ainda não há muitos detalhes sobre a proposta, mas um dos pontos em estudo envolve uma nova alteração sindical. Criticados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), os sindicatos já foram alvo do governo no início do ano, quando o presidente chegou a proibir o desconto da contribuição sindical diretamente do salário dos trabalhadores.

Para sugerir propostas, o governo criou ontem o Gaet (Grupo de Altos Estudos do Trabalho), dividido em quatro equipes temáticas: economia do trabalho, segurança jurídica, Previdência e liberdade sindical.

Segundo a portaria que instituiu o Gaet, o grupo vai "avaliar o mercado de trabalho brasileiro sob a ótica da modernização das relações trabalhistas" e apresentar um relatório em 60 dias. O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, adiantou alguns pontos que o governo pretende modificar. Marinho foi o relator da reforma trabalhista de Temer na Câmara, quando era deputado federal.

Fim da unicidade sindical

Atualmente, a lei permite para cada categoria profissional somente um sindicato por município, região, estado ou país. É a chamada "unicidade sindical", que será revista pelo Gaet.

O secretário defende que a unicidade é "um cartório sindical que distorceu de forma muito grave a relação de quem trabalha e quem empreende".

A unicidade sindical está prevista na Constituição. Portanto, o governo precisará propor uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para extingui-la. A aprovação de uma PEC depende do apoio de três quintos dos deputados e senadores em dois turnos de votação.

O grupo de estudo também vai debater o formato das negociações coletivas e do registro sindical, mas, por enquanto, não há mais detalhes sobre o que será feito.

A reforma trabalhista aprovada durante o governo Temer, em 2017, já havia acabado com o imposto sindical obrigatório. Antes, o valor era descontado do salário de todo trabalhador, geralmente do mês de março. Após a reforma, a contribuição passou a ser opcional, e o desconto exigia "autorização prévia e expressa" dos empregados.

'Modernização' da lei trabalhista

Marinho afirmou que um dos objetivos do governo é atualizar a legislação trabalhista para adequá-la às novidades nas relações de trabalho. Ele citou como exemplo os motoristas de aplicativos e as pessoas que trocam emprego formal por trabalho autônomo.

"Há números que dizem que 60% dos empregos formais que existem hoje não vão existir em 15 anos", disse o secretário. "Essa é uma tendência no mundo inteiro e precisamos nos adaptar a ela."

Bolsonaro tentou dificultar cobrança por sindicatos

No início deste ano, Bolsonaro alterou cinco artigos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) com a chamada "MP da contribuição sindical".

Ela proibia o desconto automático da contribuição sindical diretamente do salário do trabalhador, mesmo ele que tivesse autorizado a cobrança. O pagamento só seria permitido se fosse feito via boleto, o que dificultaria o recolhimento de receitas pelos sindicatos.

A MP acabou não sendo votada pelo Congresso e perdeu a validade em 28 de junho. O governo estuda insistir na mudança por meio de um projeto de lei.

'Minirreforma trabalhista'

Além dos estudos conduzidos pelo Gaet e da MP da contribuição sindical, o governo Bolsonaro tem trabalhado em outras frentes para alterar as leis trabalhistas.

Uma delas foi a MP da liberdade econômica, que chegou a ser chamada de "minirreforma trabalhista". Com ela, o governo e os deputados conseguiram flexibilizar regras sobre o registro de ponto dos empregados.

A MP também chegou a prever obrigatoriedade de o trabalhador folgar em apenas um domingo a cada sete semanas, autorização para trabalho aos sábados, domingos e feriados em caso de necessidade do agronegócio e fim do adicional de periculosidade de 30% para motoboys e mototaxistas. Essas alterações foram derrubadas pelo Congresso.

"Carteira verde e amarela"

Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro fala em criar uma "carteira de trabalho verde e amarela", com menos direitos trabalhistas. Ela seria opcional para o trabalhador e asseguraria somente os direitos previstos na Constituição: 13º salário, férias remuneradas e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O objetivo seria gerar empregos.

Marinho afirmou que o Gaet não vai discutir a criação desta nova carteira de trabalho porque o assunto já está avançado, aguardando iniciativa do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Guedes planeja articular a criação da "carteira verde e amarela", ou o "emprego verde e amarelo", como vem sendo chamado agora o projeto, com outras mudanças, fazendo de uma só vez reformas trabalhista, tributária e previdenciária.

A ideia seria que as empresas pagassem menos impostos sobre a folha de pagamento quando contratassem alguém no modelo da "carteira verde e amarela". Essa perda de arrecadação seria compensada pela criação de um imposto sobre transações pago por toda a sociedade, nos moldes da antiga CPMF. O modelo evoluiria para, em cerca de um ano, abrir espaço para a adoção da capitalização na Previdência.

Na capitação, o trabalhador poupa para a própria aposentadoria e só recebe o que juntar. É diferente do modelo atual, de repartição, no qual os trabalhadores na ativa pagam os benefícios dos aposentados.

O governo incluiu a capitalização na sua proposta de reforma da Previdência, mas ela foi rejeitada pela Câmara dos Deputados.

(Com informações da Reuters)

STJ diz que motoristas de Uber são trabalhadores autônomos

Band Notí­cias