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Empresários chineses se irritam com E. Bolsonaro: falas "queimam pontes"

O deputado Eduardo Bolsonaro - Cleia Viana/Câmara dos Deputados
O deputado Eduardo Bolsonaro Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Vinícius Pereira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/03/2020 15h13

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) acusou ontem a China, sem apresentar provas, de ter omitido informações sobre a pandemia do novo coronavírus. A embaixada da China no Brasil respondeu de imediato, cobrando um pedido de desculpas do deputado e afirmando que ele contraiu "vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos".

Além de gerar um atrito diplomático, as afirmações do filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também irritaram empresários chineses que mantém relações comerciais com o Brasil. A China é o principal parceiro comercial do país. Os empresários definiram as declarações como desrespeitosas e afirmaram que elas podem desestabilizar a relação entre os dois países, dada a influência de Eduardo Bolsonaro no governo.

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, criticou a posição da embaixada chinesa e pediu uma retratação pelas críticas a Eduardo Bolsonaro.

Filhos do presidente "queimam pontes"

Dois empresários chineses disseram que o governo Bolsonaro, por meio de seus filhos, queima pontes com o empresariado em um momento inoportuno. Eles pediram para não ser identificados porque temem represálias.

"Ficamos perplexos com tal atitude xenófoba. Obviamente, não falamos sobre encerrar qualquer comércio entre os dois países. Mas, com certeza, qualquer atitude discriminatória como essa afeta as relações que mantemos", disse um dos empresários, do ramo de tecnologia.

Outro empresário destacou que as declarações de Eduardo Bolsonaro também queimam pontes entre os empreendedores dos dois países e pode afastar investimentos.

"A China e o Brasil são parceiros de longa data. Qualquer investimento a ser realizado no Brasil passa por um estudo criterioso. As mensagens do filho do presidente não ajudam em nada a nossa relação, principalmente em um momento de pânico como este", disse ele, que possui fábricas nos dois países. "Isso vai queimando as pontes aos poucos", afirmou.

"Está todo mundo revoltado"

Charles Andrew Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China (CCIBC), disse que as declarações de Eduardo Bolsonaro não foram bem recebidas. "Ninguém gostou, obviamente. Está todo mundo revoltado, não só os chineses, mas os brasileiros também", afirmou.

De acordo com ele, para além de um possível impacto na relação comercial entre os dois países, o mais grave é o ataque, em si, em dias em que a solidariedade se faz necessária.

"Eu lamento que algumas pessoas falem sem se basear em fatos. Falo das pessoas em geral. Lamento que façam isso em vez de tentar unir o mundo, inclusive, de tentar obter ajuda ou colaboração da China, com equipamentos de teste e experiência, dado que a batalha foi vitoriosa lá. As pessoas tentam atacar quem tenta ajudar", disse Tang.

O presidente da câmara de comércio ainda se mostrou cético em relação a um possível pedido de desculpas de quem ofende a China.

"Pessoas que pensam assim dificilmente vão se desculpar. Pessoas que fazem acusações infundadas —e não estou me referindo ao Eduardo Bolsonaro, especificamente, mas a todas as pessoas que pensam dessa maneira— dificilmente se desculpam", afirmou.

Na madrugada desta quinta-feira (19), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) pediu desculpas pelas "palavras irrefletidas do deputado Eduardo Bolsonaro".

Deputado "coloca álcool no fogo" da pandemia

Para José Ricardo dos Santos Luz Júnior, CEO do Lide China, associação que reúne empresas dos dois países, as declarações de Eduardo jogam "álcool no fogo".

"Sem dúvida alguma [pode afetar as relações comerciais]. Estamos em uma pandemia, com o Brasil incendiado com todos esses desafios, com os ministérios anunciando pacotes para conter [os efeitos da crise] e vem alguém para jogar álcool nesse fogo", disse ele.

Segundo ele, ainda falta um pedido de desculpas de outras autoridades. "As autoridades precisam se manifestar sobre essa expressão do deputado federal, que não é algo do governo, é individual. Como o [Rodrigo] Maia fez. Creio que há a necessidade de outros Poderes também se manifestarem", disse.

Por meio do vice-presidente, Everton Gabriel Monezzi, o Lide China enviou cartas à embaixada e aos consulados da China no Brasil.

No documento, o órgão declara "absoluto repúdio à imprópria manifestação do deputado federal Eduardo Bolsonaro nas redes sociais, ao atacar de forma xenófoba, infundada e criminosa a República Popular da China e o seu povo, amigo do Brasil".

China é principal parceiro comercial do Brasil

A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Segundo dados do Ministério da Economia, no ano passado a China importou US$ 63,4 bilhões em produtos do Brasil, o que representa 28% de todas as exportações brasileiras.

O principal produto continua a ser a soja, com uma participação de 32% de tudo o que é exportado, seguida por óleos brutos de petróleo (24%) e minério de ferro (21%).

Já o Brasil importou US$ 35,2 bilhões da China em 2019, com destaque para equipamentos de telecomunicações (12% do total) e plataformas e embarcações flutuantes (6%).

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