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Quem é Júnior: de vendedor gago a fundador de empresa que fatura R$ 2 bi

José Seripieri Filho, Júnior, fundador da Qualicorp - Zanone Fraissat- 25.out.2013/Folhapress
José Seripieri Filho, Júnior, fundador da Qualicorp Imagem: Zanone Fraissat- 25.out.2013/Folhapress

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

21/07/2020 12h33

Resumo da notícia

  • Fundador da Qualicorp é investigado pela Polícia Federal em ação que envolve senador José Serra
  • Empresário criou novo modelo de comercialização de planos de saúde no fim dos anos 1990
  • História do empresário tem gagueira, queda de helicóptero e R$ 150 milhões para ficar focado

José Seripieri Filho, 52, o Júnior, empresário detido em operação da Polícia Federal nesta terça-feira (21), tornou-se bilionário depois de criar do zero a Qualicorp, em 1997, hoje uma das líderes no Brasil na administração, gestão e vendas de planos de saúde coletivos. Com menos de 25 anos, ele liderou um grupo que hoje emprega 1.900 funcionários, atende 2,5 milhões de beneficiários no segmento adesão e fatura R$ 2 bilhões por ano.

O empresário teve um começo bem modesto. Depois de fracassar na primeira tentativa de passar no vestibular, com 18 anos, começou a atuar como vendedor de produtos comprados do Paraguai, enquanto fazia cursinho para tentar o curso de Medicina. Para dar uma força, um amigo dos pais, Milton Afonso, dono da Golden Cross, uma das maiores empresas de planos de saúde nos anos 1980, deu um emprego de vendedor ao jovem.

Gagueira e venda de porta em porta

Junior começou oferecendo o produto por telefone, mas havia um problema: era gago. O barulho do escritório não o deixava se concentrar na venda. A saída foi começar a vender o produto na rua, de porta em porta. Ali, ele conseguiu vencer a gagueira e liderou o avanço das receitas do escritório da Golden Cross em que atuava.

Ideia de um novo negócio

A ideia da Qualicorp surgiu quando Seripieri Junior fechou uma venda grande, de uma só vez, para uma entidade de classe: a Associação de Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. Ali ele teve a ideia de oferecer contratos amplos para associações e entidades de classe. Como o pacote atendia muitos beneficiários, o valor final de cada plano por cliente ficava mais em conta que o serviço comercializado individualmente.

Em 1997, ele lançava a Qualicorp, que então se apresentava de forma inovadora no mercado. O modelo deu certo, especialmente na medida em que avançava a demanda por serviços médicos no país, não apenas na classe média, mas também entre as famílias das classes C, D e E.

O avanço da Qualicorp, inclusive entre associações e entidades de classe, logo aproximou o empresário dos círculos políticos.

Queda de helicóptero com filho de Alckmin

O relacionamento com políticos do PSDB é dos anos 2000. Dessa aproximação, inclusive ocorre uma tragédia.

Foi em um acidente envolvendo um helicóptero da sua empresa Seripatri Participações, em 2015, que morreu Thomaz Rodrigues Alckmin, filho do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Foram cinco vítimas fatais que estavam na aeronave, que acabara de passar por manutenção.

Deixou a Qualicorp

O empresário deixou a Qualicorp, sua criação, depois de algumas polêmicas.

Na penúltima, envolvendo R$ 150 milhões, Seripieri Junior queria começar novas empreitadas, criando novas empresas fora da Qualicorp. Àquela altura, a Qualicorp já tinha outros acionistas —era cotada em Bolsa desde 2011. E os minoritários queriam do empresário dedicação total ao negócio. Para seguir focado na companhia, a empresa topou pagar a Seripieri Junior R$ 150 milhões.

O conselho aprovou a bolada, mas acionistas minoritários foram reclamar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Diante da reação negativa, Júnior se ofereceu para reinvestir os R$ 150 milhões na Qualicorp.

Novo negócio

Em 2019, o empresário vendeu metade das ações que ainda tinha da Qualicorp para a Rede D'Or, ficando com 9,9% do capital da companhia que fundou. Ele, então, deixou os cargos que tinha: diretor presidente e do conselho de administração.

Hoje, Seripieri Junior não tem mais nenhuma relação executiva com a Qualicorp, nem faz parte do conselho. Ele é dono de outra empresa, a QSaúde, que aliás comprou da própria Qualicorp, por R$ 75 milhões. É uma consultoria que promete reduzir ineficiências do sistema de saúde para permitir a venda de planos de saúde a preços mais baixos usando dados e inteligência artificial.