Por desemprego ou queda na renda, jovens voltam a morar com pais na crise

A designer gráfica Letícia Andare, 30, visitava sua família em Pouso Alegre (MG), a 200 quilômetros de São Paulo, duas vezes por mês desde 2018. Com a pandemia de coronavírus, ela foi demitida do emprego e teve que entregar o apartamento, onde morava de aluguel com duas amigas, na região do Paraíso, bairro de classe média na capital paulista. Voltou a morar com sua mãe e o irmão.
"Quando eu soube da demissão, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: 'preciso economizar o máximo possível'. O apartamento era meu maior gasto", afirmou ela, que tinha uma despesa mensal de R$ 1.700.
Andare chegou a receber um desconto de 50% na locação, o que considerou ainda assim inviável, por ter que pagar para manter os cômodos vazios. À distância, tenta resolver há três meses os entraves burocráticos de vistoria e reparos com a dona do imóvel e a imobiliária. Sem emprego formal, ela chegou a desembolsar R$ 1.500 entre pintura, pequenos consertos e mudança.
Um levantamento da Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios (Aabic) revela um aumento no percentual de imóveis disponíveis para aluguel no estado de São Paulo. Em julho, esse índice chegou a 24%. Antes da pandemia de covid-19, era de 18%. Desse total, 70% dos imóveis vagos são residenciais.
Tendência do coronavírus
A rotina da corretora de imóveis Daiane Gonçalves, 28, mudou completamente nos últimos meses. A jornada dupla de trabalho, no seu emprego atual e no bar inaugurado por ela e pelo marido em novembro de 2019, foi interrompida pelo coronavírus. Moradores de Atibaia (SP), eles devolveram as chaves do apartamento alugado e foram acolhidos pelos pais dela, também na mesma cidade. A economia mensal chegou a R$ 2.000, considerando aluguel, condomínio e contas.
A renda do casal caiu drasticamente de março para cá, com a perda da receita bruta de R$ 12 mil por semana do bar. Mesmo com a reabertura gradual do empreendimento depois de mais de três meses, a estadia na casa com o pai e a mãe de Daiane será prolongada possivelmente até o fim da pandemia.
Ironicamente, o que ela observa em seu emprego é o interesse de pessoas em comprar casas de médio e alto padrão em Atibaia, numa tentativa de distanciarem-se da capital paulista.
"Minha situação ficou confortável porque tenho comida fresquinha e não preciso me preocupar em fazer nada. Mas não é confortável para mim, é a casa dela. Tenho que respeitar. Não tem cobrança, mas estou ali de passagem. Não posso deixar a louça suja para o dia seguinte, porque ela vai acordar, ver a pia cheia e lavar", conta ela.
Eu voltei, mas não é para ficar
O captador de recursos de uma ONG Guilherme Cechet, 22, acreditava que a pandemia duraria poucas semanas. Ele conseguiu segurar as pontas até o começo de maio, quando deixou o apartamento alugado com duas amigas no Butantã, zona oeste de São Paulo, para morar com a família, em Santos (SP).
A decisão foi motivada, principalmente, pela redução de sua renda para um salário mínimo e meio, pois ele se dedicava a um segundo ofício para complementar seus ganhos: a venda na rua de produtos personalizados de papelaria, suspensa desde a instauração da quarentena no estado.
"Trabalhar para mim sempre esteve muito voltado a pagar aluguel. E o resto a gente vê depois", disse.
Confinado na casa com mãe e irmã, Cechet conta que o convívio é marcado pela parceria, o que facilita as relações no dia a dia em um momento inédito até então. Entretanto, seu plano é retornar a São Paulo assim que possível.
"Eu acho que em 2020 ainda vai ser complicado. Mas quero estar de volta em 2021. Antes disso eu aceito ficar nessa situação mais difícil e incerta. Quero ter novamente essa sensação de que estou construindo algo que é meu, e que minha vida está andando", afirmou Cechet.
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