Fintechs triplicam crédito em 2020 e projetam dobrar carteira em 2021
Resumo da notícia
- Crédito concedido por bancos digitais e fintechs triplicou em 2020, mas de forma desigual por causa da crise do coronavírus
- Para representantes desse setor, oferta de crédito digital este ano pode chegar a R$ 20 bilhões se não houver solavancos como os de 2020
- Veja cenários da Associação Brasileira de Crédito Digital e da Associação Brasileira de Fintechs
Na profunda crise de 2020, quando pessoas precisaram de mais dinheiro e empréstimos, as concessões de crédito no país cresceram apenas 5,9%, segundo o Banco Central, mas entre os bancos digitais e fintechs de crédito, os empréstimos triplicaram, segundo estimativas de duas entidades desse segmento - a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD) e a ABFintehcs (Associação Brasileira de Fintechs).
Segundo executivos dessas associações, esse segmento fechou 2020 com um volume de crédito concedido da ordem de R$ 10 bilhões, ante R$ 3 bilhões em 2019. E o cenário para 2021 é que essas operações possam chegar a R$ 20 bilhões.
Participação de fintechs ainda é pequena, mas cresce
Em uma economia que tem R$ 4 trilhões de saldo de crédito, a participação das fintechs nos empréstimos ainda é muito baixa. Mas vem crescendo - já que as concessões eram de apenas R$ 1,8 bilhão em 2018.
As estatísticas de política monetária e crédito do Banco Central apontam que no acumulado do ano, em relação ao mesmo período de 2019, as concessões totais cresceram 5,9%, com elevações de 12,6% nas operações com empresas e de 0,3% com famílias. Em 12 meses, o Banco Central aponta que as concessões tiveram crescimento de 7,1%, sendo 2% para pessoas físicas e 13% no caso do crédito para as empresas.
Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), em 2021 o saldo total da carteira de crédito deve crescer cerca de 7% ante 2020, numa expansão puxada pelo segmento livre de crédito — que deve registrar avanço de 9,9% para pessoas físicas e de 9,2% nas concessões para as empresas.
Crise atrapalhou expansão
Como a base de operações de fintechs e bancos digitais é muito menor que a das instituições financeiras bancárias tradicionais, o avanço percentual do segmento digital também acaba sendo muito mais mais intenso. De qualquer forma, esses dados mostram que o ritmo de expansão do crédito digital é forte.
E o crescimento dos empréstimos intermediados por essas empresas digitais para pessoas físicas e jurídicas poderia ter sido ainda maior se não fosse a crise econômica provocada pelo novo coronavírus, que provocou incertezas no mercado e atrapalhou o andamento de muitos negócios, diz Rafael Pereira, presidente da ABCD.
No começo da pandemia, os investidores de mercados de capitais ficaram muito avessos a risco, o que afetou as fintechs, porque secou o funding por 3 a 4 meses. Isso foi um cavalo de pau, um freio de mão foi puxado. Por outro lado, aconteceu uma digitalização muito acelerada em nossa sociedade. Muito mais pessoas se digitalizaram e isso ampliou a demanda pelos serviços financeiros digitais de maneira geral, que acabou transbordando para o crédito digital de maneira mais forte no último trimestre.
Rafael Pereira, presidente da ABCD
Para Renan Schaefer, diretor-executivo da ABFintechs, a tendência para 2021 é a de que prevaleça o ritmo de expansão verificado no último trimestre do ano, quando as operações de crédito foram retomadas com mais força.
Primeiro trimestre começou com expectativa muito positiva, com crescimento acelerado, quando veio a pandemia. O segundo e terceiro trimestres foram para entendimento do que seriam os impactos da pandemia em termos de riscos e inadimplência. No último trimestre, tivemos a influência das medidas de governo e parcerias entre bancos e fintechs, que voltaram a acelerar o crescimento.
Renan Schaefer, diretor-executivo da ABFintechs
A expectativa para 2021 é a de que as empresas financeiras de tecnologia sigam ganhando espaço no bolo total de crédito do país. Veja abaixo trechos das conversas do UOL com a ABCD e ABFintechs.
UOL: Em um ano desafiador como foi 2020, como se comportou o setor do crédito digital? Teve crescimento ante 2019?
Renan Schaefer: Primeiro trimestre começou com expectativa muito positiva, com crescimento acelerado, quando veio a pandemia. O segundo e terceiro trimestres foram para entendimento do que seriam os impactos da pandemia em termos de riscos e inadimplência.
No último trimestre tivemos a influência das medidas de governo e parcerias entre bancos e fintechs, que voltaram a acelerar o crescimento.
Nos fundos de crédito tivemos aumento de 30% desses recursos. Já o dinheiro de funding público, como o do BNDES, demorou um pouco para chegar. Mas quando mudou a estrutura das garantias, os bancos conseguiram colocar mais dinheiro junto aos clientes por meio das fintechs.
Dos R$ 100 bilhões que foram disponibilizados por meio de grandes bancos para os programas de auxílio e apoio na pandemia, cerca de 10% foram emprestados por meio das fintechs e bancos digitais, o que representa cerca de R$ 10 bilhões de crédito intermediado pelas fintechs e bancos digitais em 2021 pelo menos.
Rafael Pereira: Minha leitura é que o setor cresceu em relação aos R$ 3 bilhões de 2019, mas não consigo dizer se chegamos a R$ 9 bilhões ou R$ 12 bilhões. Tivemos muitos novos players chegando e empresas ampliando a atuação. De bancos que começaram a dar crédito, de empresas que passaram a atuar em nicho. E como 2020 foi um ano de crise, quem passou por esse ciclo saiu mais forte.
UOL: É possível apontar os fatores que foram importantes para que o crédito digital tenha crescido em 2020?
Renan Schaefer: As fintechs mostraram que podem levar recursos a quem precisa durante a pandemia. A gente viu uma transformação digital meio que forçada. A própria inovação das fintechs automatizou muitos processos, levando o crédito a mais gente de forma mais rápida.
Rafael Pereira: Houve dois movimentos importantes em 2020 que se contrabalançaram. No começo da pandemia, os investidores de mercados de capitais ficaram muito avessos a risco, o que afetou as fintechs, porque secou o funding por 3 a 4 meses. Isso foi um cavalo de pau, um freio de mão foi puxado.
Por outro lado, aconteceu uma digitalização muito acelerada em nossa sociedade. Muito mais pessoas se digitalizaram e isso ampliou a demanda pelos serviços financeiros digitais de maneira geral, que acabou transbordando para o crédito digital de maneira mais forte no último trimestre.
De um lado, havia mais gente buscando crédito, mas com menos funding. Até isso acomodar, isso levou algum tempo. Os barcos que conseguiram navegar nesse mar se beneficiaram da volta do mercado a partir de setembro. O último trimestre do ano foi de crescimento muito forte. Olhando o ano como um todo, foram vários anos dentro de um. Hoje as coisa parecem ter se acomodado.
UOL: A participação do crédito digital no bolo total do crédito o Brasil ainda é baixo, mas vem crescendo de forma mais acelerada que o agregado. Essa tendência deve continuar ganhando corpo em 2021?
Renan Schaefer: Sem dúvida alguma. Em 2018, as fintechs colocaram cerca de R$ 1,2 bilhão de crédito na economia. Em 2020, esse número já foi bem maior. Isso mostra que a participação das fintechs está crescendo, seja pela desburocratização, seja por novas formas de garantias, são fatores que vão fazer com que as fintechs ganhem mercado e possam gerar mais oportunidades
Rafael Pereira: Não há dúvida. Podemos ter um crescimento exponencial. Como está crescendo sobre uma base pequena, parece pouco, mas vem subindo muito fortemente. Ainda é um crescimento diferente por setores. No geral, vimos que algumas companhias crescendo cerca de 100% no primeiro trimestre, para estagnar por dois trimestres, voltando a crescer na reta final do ano a um ritmo intenso novamente.
UOL: O que poderia haver para acelerar o crescimento do setor?
Renan Schaefer: Preciso destacar que o Banco Central já fez uma grande interação com as fintechs e bancos digitais para aumentar a participação desse setor na oferta de emprésrtimos. As coisas do setor com o BC estão caminhando, com a busca por uma maior interação com o ecossistema, com a agenda que tem processos importantes como o open banking e o cadastro positivo.
Rafael Pereira: O auxílio emergencial mostrou que há muita demanda por serviços financeiros digitais, ao atender um público que precisa do auxílio. O governo conseguiu agir de forma muito rápida para dar ferramentas ao setor bancário tradicional, mas não havia muitas ferramentas para as fintechs atuarem. Isso foi vindo aos poucos. Vimos a liberação de linhas, como pelo BNDES, para as maquininhas, para pequenas e médias empresas, mas de forma geral, muito ficou para 2021. Faltou ferramentas, mas a digitalização veio pra ficar e isso abre espaço para as fintechs este ano.
Olhando tudo que é online, de entregas, restaurantes, tudo, é um movimento que cresceu muito e deve permanecer. O que representa uma oportunidade enorme para os entrantes no mercado.
Há espaço para tirar coisas que atravancam o sistema como um todo, como excesso de normas. Mas 2021 é o ano do open banking. Então vemos espaço para que tenhamos mais espaço para competitividade e inovação.
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