Estrangeiros saem, e dólar e Bolsa sofrem, dizem analistas sobre Lula
A anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), determinada pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), já mexeu com os mercados nesta segunda-feira (8) e deve continuar provocando efeitos nos próximos dias. Segundo especialistas, é provável que Bolsa e dólar continuem sofrendo, o mercado vai repensar a situação e investidores estrangeiros devem fugir.
Os efeitos devem persistir porque a decisão acrescenta mais um ingrediente de incerteza em um ambiente já contaminado por insegurança. Hoje já há dúvidas relacionadas à pandemia de covid-19 e à situação financeira do governo federal.
Bolsa, dólar e juros
Para Virene Matesco, professora de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o aumento da incerteza deve se traduzir em mais instabilidade na Bolsa, no dólar mais alto e em juros futuros também mais elevados.
O sistema econômico é como se fosse uma esponja. Ele absorve todas essas incertezas. O mercado precifica as expectativas, ou seja, os agentes econômicos dão um preço ao amanhã. Isso deverá ter uma repercussão no mercado de mais incerteza do que já temos hoje. Queiramos ou não, Lula é um candidato realmente forte. O país deve ficar ainda mais dividido.
Virene Matesco, professora de economia da FGV
Lula raivoso ou Lula paz e amor?
Na opinião de Antônio Carlos Santos, professor de Economia da PUC-SP, "o cenário está totalmente aberto", já que os desdobramentos da decisão de Fachin dependem de articulações políticas.
Ninguém esperava essa decisão. Então é normal que o mercado tenha esse choque inicial. Mudou tudo e, quando isso acontece, o mercado precisa repensar [suas expectativas]. Por exemplo, se o Lula for mesmo candidato, qual Lula vai vir? O Lula mais raivoso, na visão do mercado, ou o Lula paz e amor?
Antônio Carlos Santos, professor da PUC-SP
Para ele, a possibilidade de Lula ser candidato deve, também, pressionar a equipe econômica e o próprio presidente Bolsonaro a repensar suas prioridades, tendo em vista possíveis repercussões eleitorais.
Fuga de investidores estrangeiros
Carlos Magno Bittencourt, economista e conselheiro federal suplente do Conselho Federal de Economia, aponta outro desdobramento da incerteza: a fuga de investidores.
Segundo ele, a decisão de Fachin pode gerar insegurança jurídica no país, porque "as regras são alteradas enquanto o jogo está em andamento".
Esse é mais um elemento de incerteza em meio a uma série de indicadores ruins e à própria pandemia. Há dúvidas sobre quando o país vai sair do buraco. Isso tudo com certeza afugenta investidores internacionais.
Carlos Magno Bittencourt, economista
Juliana Inhasz, professora do Insper, afirma que o receio dos investidores tem relação com a política de aumento dos gastos públicos que ocorreu durante os mandatos de Lula e Dilma Rousseff (PT).
Existe um grande risco político dentro dessa história. O investidor vai começar a olhar o Brasil com outros olhos. O mercado tem medo de políticas de gastos excessivos para tentar fazer com que a economia pegue no tranco, o que pode criar uma sensação de que o Brasil não é um lugar seguro pra se investir.
Juliana Inhasz, professora do Insper
Entenda a decisão de Fachin
O ministro Edson Fachin, do STF, anulou as condenações do ex-presidente Lula determinadas pela Justiça Federal do Paraná, todas no âmbito da Operação Lava Jato.
A decisão de Fachin ainda será analisada pelo plenário do STF. Se a anulação for mantida, Lula volta a ser elegível, e fica apto a disputar as eleições de 2022.
De acordo com o ministro Edson Fachin, a 13ª Vara Federal de Curitiba, origem da Lava Jato, não tem competência para julgar os processos do tríplex do Guarujá (SP), do sítio de Atibaia (SP) e do Instituto Lula. Isso porque as ações de que tratam esses processos não se relacionam a desvios na Petrobras.
Se a decisão for confirmada, os processos deverão ser apreciados pela Justiça Federal do Distrito Federal.
Assessores do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, confirmaram que a PGR (Procuradoria-Geral da República) vai recorrer da decisão.
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