Investidores de outras regiões superam eixo Rio-SP pela 1ª vez na Bolsa
Resumo da notícia
- Participação de pessoas físicas de outros estados na Bolsa bate a soma de Rio-SP e chega a 50,9%
- Empresas financeiras aumentam presença nas outras capitais para ganhar mercado
- Movimento vai acelerar com desenvolvimento do mercado de investimentos no Brasil, dizem executivos
Pela primeira vez, os investidores de fora do eixo Rio-São Paulo são maioria na Bolsa. Isso está estimulando o movimento de empresas financeiras em busca de mercados fora das duas capitais que tradicionalmente dominam a clientela de aplicadores.
Apesar de os investimentos poderem ser feitos todos pela internet, a abertura desses escritórios em outros estados dá mais segurança ao investidor novato. Executivos das instituições financeiras e profissionais de mercado afirmam que o avanço da tecnologia de fato facilita em muito o acesso. Mas afirmam que, fora dos grandes centros, a presença física dos profissionais é muitas vezes decisiva.
Os clientes têm mais informação e confiança para migrar recursos de aplicações tradicionais de renda fixa em bancos, por exemplo, para produtos de renda variável, como Bolsa e fundos imobiliários oferecidos por novas gestoras de recursos e corretoras.
Temos observado nos últimos anos uma mudança estrutural no mercado de capitais brasileiro com o avanço da entrada do investidor pessoa física em renda variável. Sem dúvida, parte desse movimento pode ser atribuída à maior capilarização dos distribuidores e à chegada de novos modelos de negócio em investimentos como os agentes Autônomos de Investimentos e Corretoras que estão investindo em diferentes atuações de acordo com a realidade de cada região do país.
Vinicius Brancher - superintendente de relacionamento com pessoa física da B3
Rio-São Paulo não é mais maioria
Segundo a Bolsa, a participação dos investidores residentes fora de São Paulo e Rio de Janeiro saltou de 40,9%, em 2017, para 50,7% no fim de 2020, representando agora mais da metade do universo de aplicadores na B3 pela primeira vez. Neste ano, a evolução continua e os outros estados já representam 50,9% das contas na Bolsa brasileira.
Esse movimento de interiorização dos investidores brasileiros ajuda a alimentar o crescimento da carteira de aplicadores na Bolsa, que aumentou seis vezes entre 2017 e 2020, de 564 mil para 3,3 milhões de contas na B3. Ainda que o número de investidores seja predominante na região Sudeste do Brasil, o avanço nas outras regiões é espetacular, como, por exemplo, no Rio Grande do Sul, que avançou quase 270%, em dois anos (2018 a 2020) ou, ainda, a Bahia, que cresceu quase 370% no mesmo período, destaca o superintendente de relacionamento com pessoa física da B3, Vinicius Brancher.
Primeira onda é a dos agentes autônomos
Entre 2017 e 2020, o número total de empresas financeiras mais tradicionais - bancos, corretoras e gestoras de recursos - praticamente não se alterou. Mas as aberturas, ainda que poucas, ocorreram fora do Sudeste.
Já o avanço da presença dos agentes autônomos foi mais forte. Eles atingiram neste ano 12 mil profissionais em todo o Brasil, ou cerca de 80% a mais que em 2017, sendo que cerca de um terço desse aumento ocorreu fora de São Paulo e Rio de Janeiro, segundo a Associação Brasileira dos Agentes Autônomos de Investimentos (Abaai). Foi essa parte do mercado que primeiro desbravou o interior brasileiro nesse movimento.
De fato, a distribuição de produtos financeiros por intermédio dos escritórios de assessores de investimentos vem aumentando a capilaridade para o interior dos grandes estados brasileiros. A desbancarização ainda é grande de modo geral, e os assessores vêm exercendo um papel bastante importante ao levar a esses outros centros a educação financeira.
Francisco Amarante, superintendente da Abaai (Associação Brasileira De Agentes Autônomos)
Esse é o caso, por exemplo, da Acqua-Vero Investimentos, resultado da fusão de duas das maiores operações que surgiram ligadas à plataforma XP -e que está migrando para o rival BTG. Desde 2020, a firma inaugurou operações em praças como Vitória e Curitiba. E agora quer abrir mais dez novas unidades até o fim do ano.
Com o acesso ao mercado financeiro cada vez mais democratizado, temos acompanhado a rápida transformação pela qual passam as assessorias de investimentos, e a Acqua-Vero está em franca expansão. Recentemente inauguramos operações em praças estratégicas como Vitória e Curitiba, e a meta é abrir mais 10 novas unidades em grandes centros urbanos, com foco nas regiões Sul e Sudeste, até o final do ano.
Eduardo Siqueira, um dos sócios-fundadores da Acqua-Vero
Esse também é o caso da Fatorial Investimentos, que começou a atuação no eixo Rio-São Paulo, mas que está buscando novos clientes em outras praças.
A gente tinha operação no Rio e São Paulo, mas clientes que abriam filiais no Paraná pediram para que atendêssemos lá. E então vimos que há uma demanda crescente. Os escritórios de investimentos têm maior agilidade para chegar ao interior. Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos
Outros casos que ilustram esse movimento são os da Alphaways, com sede no Maranhão, que abriu no segundo semestre escritórios em Rio Grande do Norte e Paraíba; da Apollo Investimentos, de Ponta Grossa, que está abrindo novas bases em lugares como Balneário Camboriú; da Ável Investimentos, que abriu 50 vagas em Porto Alegre neste ano e quer quadruplicar esse time até fim de 2021; ou ainda da VLG, que nasceu em Brasília, já tem presença em Feira de Santana (BA) e Fortaleza (CE) e, até o final deste ano, pretende abrir filiais e escritórios em outras cidades da Bahia, Unaí (MG); Campo Grande (MS); Goiânia (GO) e Recife (PE).
De olho nesse movimento, mesmo grupos já consolidados estão se mexendo para ampliar a presença fora do eixo Rio-São Paulo. O BTG Pactual, por exemplo, lançou neste mês o projeto BTG Perto de Você, para contratar assessores de investimento em diferentes estados do País, começando com 20 posições em três capitais: Curitiba, Brasília e Goiânia.
Ao longo de 2021, o BTG Pactual digital contratará mais de 80 profissionais em diferentes localidades. A expectativa é ter presença em todas as regiões do Brasil até o final do ano.
Rogério Karp, Head de B2C do BTG Pactual digital
Queda de juros, tecnologia e plataformas
Segundo executivos de mercado, a queda dos juros lançou sementes para fazer crescer o universo de investidores pessoas físicas no Brasil. Sem os elevados rendimentos garantidos nas aplicações sem risco -como poupança, Tesouro Selic e fundos DI- as pessoas passaram a procurar alternativas de investimentos.
Junto com a queda de juros, surgiram e cresceram no Brasil as plataformas de investimentos, amparadas por fortes gastos em tecnologia, em movimento liderado pela XP Investimentos.
Esse processo ganhou então a participação dos agentes autônomos, que conhecem os mercados regionais, e passaram a atender esses investidores fora das duas maiores capitais do país.
Antes, o banqueiro de São Paulo ou do Rio, de terno e gravata, pegava avião e visitava clientes do interior, no Norte e Nordeste ou Centro-Sul, para captar recursos dos clientes. Com o advento dos escritórios entrando pelo interior, quem passa a prospectar esses clientes é o profissional que já está lá, no interior, que conhece o investidor pessoalmente e tem a confiança dele.
João Beck, sócio da BRA Investimentos
Segunda onda rumo ao interior
Segundo executivos do mercado financeiro, esse movimento vai continuar se espalhando, agora com o reforço de outras empresas financeiras, como gestores de recursos e plataformas de investimentos, que vão se juntar aos times de escritórios de agentes autônomos.
Esse foi é o caso da 051 Capital, uma gestora de patrimônio focada em clientes de alta renda que foi fundada por dois gaúchos e um piauiense. A empresa nasceu ligada à plataforma da XP Investimentos, em 2008, no Rio de Janeiro, lugar em que os profissionais moravam. Mas logo aos sócios decidiram buscar oportunidades em terras natais, abrindo duas novas bases -uma em Porto Alegre e outra em Teresina.
No eixo Rio-São Paulo tem uma briga de foice pelos clientes alta renda, com disputa entre grandes instituições financeiras nacionais e estrangeiras. Decidimos não gastar energia nesses mercados mais disputados porque a gente acha que pode fazer um diferencial nas regiões em que as pessoas já nos conhecem, em regiões que os investidores ainda são um pouco desassistidos. E vemos mais oportunidades em regiões fora de Rio-São Paulo, como aquelas cidades ligadas ao agronegócio. Queremos por isso buscar novas fronteiras.
Rossano Oltromari, sócio e estrategista da 051 Capital
A busca de clientela fora do eixo Rio-São Paulo também faz parte da estratégia da plataforma de investimentos sim;paul. A empresa, que foi formada a partir da corretora gaúcha Solidus, tem planos de ampliar a presença em mercados no Sul e Centro-Oeste do país.
Existe um mercado fomentado pela queda de juros que tem levado o investidor a buscar oportunidades de investimentos. E nesse processo, o investidor encontrou nos profissionais das assessorias financeiras uma forma de acessar informação e orientação. A gente vê isso como oportunidade. Vemos um crescimento de escritórios das regiões Sul e Centro-Oeste plugados na nossa plataforma.
Eduardo Fedato, diretor comercial da plataforma de investimentos sim;paul
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