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'Consequências do fique em casa', diz Bolsonaro sobre alta da cesta básica

10.mar.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante cerimônia em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters
10.mar.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante cerimônia em Brasília Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, em São Paulo*

24/08/2021 09h17Atualizada em 24/08/2021 09h43

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) rebateu hoje o comentário de um internauta que pedia para o atual mandatário diminuir o preço da cesta básica e culpabilizou as políticas de restrição da circulação — em razão da pandemia da covid-19 — pela alta.

Um levantamento mensal feito pelo Núcleo de Inteligência e Pesquisas do Procon-SP em convênio com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) mostrou que em julho o custo da cesta básica paulistana, para uma família de quatro pessoas, chegou a R$ 1.064,79, quase empatando com o salário mínimo (R$ 1.100).

Ainda segundo o Dieese, o preço da cesta básica subiu em 15 das 17 capitais pesquisadas na comparação entre julho e junho. A pesquisa apontou que as maiores altas foram registradas em Fortaleza (3,92%), Campo Grande (3,89%), Aracaju (3,71%), Belo Horizonte (3,29%) e Salvador (3,27%).

"Bom dia presidente! Dá um jeito de baixar o preço da cesta básica porque tá ficando difícil", escreveu o homem no Facebook. Em resposta, Bolsonaro declarou que a alta ocorre em razão das restrições de circulação.

"Reconheço a alta, contudo estamos vivendo as consequências do "FIQUE EM CASA QUE A ECONOMIA A GENTE VÊ DEPOIS", disse Bolsonaro.

Jair Bolsonaro responde internauta que reclamou do preço da cesta básica - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Jair Bolsonaro responde internauta que pediu a diminuição do preço da cesta básica
Imagem: Reprodução/Facebook

Não é a primeira vez que o chefe do Executivo culpabiliza as políticas de restrições de circulação e os governadores dos estados pela alta de preços.

No mês passado, Bolsonaro criticou os governadores pelo peso do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é um imposto estadual, sobre o preço dos combustíveis, e os culpou pelos efeitos danosos na economia com o fechamento no âmbito das medidas restritivas decorrentes da covid-19, que já matou mais de 574.944 pessoas desde o início da pandemia no país.

À época, o presidente declarou que "cresceu a arrecadação de ICMS em cima de uma ganância".

A alta da cesta básica

O levantamento mensal feito pelo Núcleo de Inteligência e Pesquisas do Procon-SP é preocupante porque a cesta básica inclui gastos apenas para compra de 39 produtos, entre alimentos e itens de higiene pessoal e limpeza doméstica. Ficam de fora itens tão importantes quanto a alimentação, como despesas com moradia, transporte e medicamentos, por exemplo.

A alta registrada para a cesta no mês de julho foi de 0,44% em relação a junho, de 5,65% no ano e de 22,18% em 12 meses. Em 12 meses até julho, a inflação oficial medida pelo IPCA avançou 8,99%.

No entanto, o que mais chama a atenção na pesquisa é que o valor da cesta de julho quase encostou no salário mínimo de R$ 1,1 mil. A diferença de R$ 35,21 entre o custo da cesta básica e do salário mínimo é a menor desde dezembro do ano passado (R$ 37,11). Com o "troco" dá para fazer muito pouco. É insuficiente, por exemplo, para levar para casa um quilo de carne de segunda. No mês passado, a produto era encontrado no varejo paulistano pelo preço mínimo de R$ 36,10.

"O quadro é grave. Estamos chegando ao patamar do 'elas por elas', com os gastos com alimentação, higiene e limpeza empatando com o salário mínimo", afirma Marcus Vinicius Pujol, diretor da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon-SP, responsável pela pesquisa.

Ele diz que o que atenuou a situação foi o auxílio emergencial do governo federal e os programas estaduais de distribuição de renda. Segundo ele, porém, nenhum desses atenuantes reduzem a gravidade da situação, argumenta. Ele ressalta que o desemprego em alta agrava o estrago provocado pelo aumento da inflação.

Essa também é a avaliação do coordenador de índices de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Braz. "O desemprego piora o impacto da inflação no orçamento", afirma. Uma coisa, diz ele, é ter dinheiro e os produtos e serviços irem ficando mais caros. "As famílias vão dando um jeito, compram menos, trocam de produto." Outra coisa é quando não se tem dinheiro e os produtos encarecem, argumenta. "Nesse caso, a sensação de que a inflação é muito maior é flagrante, é uma situação de impotência."

Enquanto a comida em geral acumula alta na faixa de 12% em 12 meses, os preços dos alimentos essenciais da cesta básica subiram cerca de 25%, observa Braz. Ele lembra que a expectativa era de que os preços dos alimentos recuassem um pouco mais rápido. No entanto, isso não ocorreu por causa dos problemas climáticos: falta de chuvas e geadas que castigaram as safras de vários produtos.

Na avaliação do economista da FGV, esse quadro da inflação pode se agravar ainda mais com a crise hídrica castigando a produção. Pujol, do Procon-SP, faz uma avaliação semelhante. A perspectiva, diz ele, é que a cesta básica continue pressionada nos próximos meses. "Acredito que o cenário se agrave", afirma o diretor. Problemas climáticos, como seca e geadas que afetaram as safras de vários produtos nas últimas semanas, devem ter impactos nos preços da comida e a volta à normalidade deve demorar, diz.

A pesquisa coleta preços em 40 supermercados da capital e elabora uma cesta com as menores cotações encontradas de cada item. "É a cesta mais barata dentro do universo que pesquisamos." Essa cesta "ideal" em termos de custos, na maioria das vezes, acaba sendo inviável para o cidadão comum porque requer uma grande pesquisa de preços.

No mês passado, os vilões da cesta básica paulistana foram a carne de primeira, o café em pó, o frango resfriado inteiro, o leite de caixinha e o pão francês. De 39 itens pesquisados, mais da metade (21) teve aumento de preço.

*Com informações da Agência Brasil e do Estadão Conteúdo