Itapemirim: clientes sem voo tentam impedir embarques de outras companhias
Cerca de 100 passageiros da Itapemirim que estavam no Aeroporto de Guarulhos (SP) na noite de ontem, revoltados com a determinação da empresa de suspender por tempo indeterminado seus voos, tentaram impedir o embarque de clientes de outras companhias aéreas. Na manha de hoje, alguns passageiros chegaram a bloquear a entrada para o embarque doméstico do terminal para chamar a atenção para o problema e tentar remarcação de voos por outra companhia aérea. A polícia chegou a entrar em cena para acalmar os ânimos, e o bloqueio foi desmobilizado depois de cerca de dez minutos.
Nas redes sociais, circulam vídeos e publicações com reclamações por "desrespeito". Segundo informações de algumas pessoas que estavam no local, faltam até funcionários da empresa para fazer atendimento.
O grupo, conhecido por sua operação de transporte rodoviário, conseguiu colocar a operação em pé apesar de seu negócio principal, o de transporte rodoviário, estar em recuperação judicial e de muito receio do mercado como um todo.
O problema ficou na mão de passageiros como a encarregada de departamento pessoal Jeane Mendes, de 30 anos, que descobriu às 5h de hoje que não voaria mais de Guarulhos para Salvador. Ela é uma das pessoas que compraram uma passagem de ida pela ITA, que, segundo ela, custou R$ 491. "Isso é uma tragédia anunciada. Se sabiam que iam falir, por que remarcaram a passagem de uns e fizeram check in de outros?", questionou.
Já Raimundo Oliveira Gomes, de 44 anos, gastou R$ 1,5 mil em uma passagem de ida e volta para Fortaleza. "Eu ia curtir meus pais por 20 dias." Como a compra das passagens da ITA foi efetuada por meio de um site de viagens, ele recebeu um e-mail no dia anterior ao seu voo informando que ele precisaria ser reagendado. Então, a viagem, que supostamente seria feita às 9h de hoje foi antecipada para as 7h. Só que, chegado o momento, ele não conseguiu embarcar. No fim da manhã, ainda esperava uma solução para seu caso.
Famílias inteiras também ficaram esperando no saguão. Leone Barbosa, de 33 anos, havia comprado passagens por R$ 3 mil para viajar para Recife com o marido, a irmã, o cunhado e o sobrinho. No fim da manhã, ainda aguardava um desfecho para sua situação (havia chegado a Guarulhos às 6h). "Em nome de Jesus, espero que a gente voe hoje", disse ela, lembrando que já havia tido o prejuízo da viagem de Uber até o aeroporto desde a sua casa, no bairro do Itaim Paulista.
"Reestruturação interna", alega ITA
A ITA Transportes Aéreos, do Grupo Itapemirim, anunciou ontem a "suspensão temporária" de todas as suas operações, sem aviso prévio aos passageiros. Em nota, a empresa alegou que a decisão se deu para que seja realizada uma "reestruturação interna" e não informou quando serão retomadas as operações.
A Anac divulgou uma nota com orientações aos passageiros. Segundo eles, a recomendação é que os viajantes não se dirijam aos aeroportos antes de contatar a empresa aérea.
"Junto a isso, a agência determinou que a Itapemirim preste atendimento integral e comunique cada passageiro individualmente sobre cancelamentos de voos e reacomodações e a possibilidade de reembolso dos bilhetes", diz a nota.
Empresa aérea que opera há menos de seis meses no país, a ITA tinha 513 voos programados para decolagem entre ontem (17) e o dia 31 de dezembro, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
A empresa não informou o que os passageiros que têm voos marcados para as próximas horas devem fazer. Uma nota da Itapemirim disse apenas que aqueles que tiverem viagens programadas para os próximos dias devem entrar em contato pelo email falecomaita@voeita.com.br.
No Instagram, a Itapemirim informou que a suspensão foi tomada "por iniciativa própria" para que seja realizada "uma reestruturação interna". Segundo escreveu em nota, a decisão se deu "por necessidade de ajustes operacionais".
"A ITA lamenta os transtornos causados e afirma que irá continuar prestando toda assistência aos passageiros impactados. A companhia irá dedicar o máximo esforço para, em breve, retomar seus voos."
Reclamações
No site do Reclame Aqui, dezenas de clientes que compraram passagens pela Itapemirim disseram que foram surpreendidos pela determinação da companhia, que não tem respondido aos questionamentos e pedidos de estorno dos valores. Eles dizem se tratar de uma situação "constrangedora" e "revoltante", visto que em muitos casos já haviam adquirido as passagens para viagens de férias, estão com tudo programado, hotéis e roteiros pagos.
Um cliente diz que comprou passagens saindo de Teresina (Piauí) com destino para o Sul e São Paulo, mas com o cancelamento perdeu a viagem toda, com hospedagens, translado, aluguel de carro e passeios já pagos.
Não tenho condições de comprar passagens em outra empresa, pois está muito caro. Não tenho qualquer retorno da empresa"
Outro escreveu que recebeu a notícia do cancelamento dos voos na madrugada de hoje e que tinha uma viagem programada para o aniversário de 70 anos da mãe, porém, como não foi avisado previamente pela companhia, não conseguiu se programar para ir ao compromisso de outra forma.
"Se a empresa avisasse antes da suspensão, eu poderia ter escolhido outra forma de ir para meu compromisso familiar. Revoltante e triste como a empresa tratou os consumidores. Zero de consideração", publicou no site do Reclame Aqui.
Um passageiro da Bahia diz que adquiriu dois bilhetes no valor de R$ 920,84, alugou carro e hotel, mas ficou sabendo do cancelamento pelo Instagram.
Não recebi nenhuma notificação da Itapemirim. Faltam apenas quatro dias para a viagem e acontece isso. Um total descaso com o consumidor, busquei outras passagens em outras companhias e o valor é de R$ 1.100 cada passagem, por está em cima da hora. Já mandei e-mail e a empresa não responde, preciso do estorno com extrema urgência. Caso não retornem, irei tomar outras providências."
A companhia aérea vem enfrentando diversos problemas com atrasos e reclamações de fornecedores que não teriam recebido os pagamentos nos últimos meses. A ITA acumula reclamações de passageiros e também dos funcionários. A empresa já foi alvo de queixas por atrasos de salários e benefícios de funcionários, suspensão do plano de saúde dos trabalhadores, dívidas com fornecedores, descumprimento de horários, cancelamentos de voos e até envio de dados errados sobre número de passageiros para a Anac.
*Com informações do Estadão Conteúdo.
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