Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Método da Lava Jato destruiu empresas, diz ex-conselheiro da Camargo Corrêa

Funcionários na frente do prédio da construtora Camargo Corrêa, na Vila Olímpia, em São Paulo, em 2019 - Odival Reis/Agência Globo
Funcionários na frente do prédio da construtora Camargo Corrêa, na Vila Olímpia, em São Paulo, em 2019 Imagem: Odival Reis/Agência Globo

Do UOL, em São Paulo*

08/06/2022 12h00Atualizada em 08/06/2022 12h14

Carlos Pires Oliveira Dias, ex-conselheiro da administração da construtora Camargo Corrêa, declarou que o método usado nas condenações de empresas na Operação Lava "destruiu" as corporações. A Camargo Corrêa, que passou a se chamar Mover, foi uma das empresas citadas no escândalo de corrupção da força-tarefa, que investigou esquema de corrupção em contratos da Petrobras.

Desde 2014, quando a operação foi deflagrada pela Polícia Federal, foram revelados esquemas bilionários de pagamento de propina envolvendo dezenas de empresas, incluindo as principais empreiteiras do país, como a Camargo Corrêa, Odebrecht e OAS. A construtora Camargo Corrêa foi a primeira delas a assinar um acordo de leniência com o governo para colaborar com as investigações e acertar o pagamento de multas bilionárias para deixar a Lava Jato para trás o mais rápido possível.

"Aí você pode até me perguntar: 'Bom, mas como é que poderiam ser penalizados os malfeitos?' Eu não sei, mas o método utilizado destruiu essas empresas. Semana passada, saiu até nos jornais, uma grande empresa sofreu uma ação do governo americano, dos governos europeus, inclusive do brasileiro. Um acordo com esses governos pelos malfeitos praticados. Foram multados em mais de US$ 1 bilhão, o que deixou a empresa obviamente machucada. Mas não morreu, continua operando etc e tal. Talvez tenha faltado, antes, exatamente essa compreensão dos meios jurídicos", disse Dias à coluna 'Cenários', do jornal O Estado de São Paulo.

O ex-conselheiro também apontou que o conhecimento e trabalho das construtoras brasileiras foram "por água abaixo" após os acordos com a Lava Jato e irá demorar anos até isso poder ser revertido.

Para ele, as decisões foram "destruidoras" também para os acionistas e gerou danos em várias áreas dentro do setor de construção, visto por ele como "zerado" atualmente no país.

Sim, esse know-how se foi por água abaixo. E vai levar muito tempo para ver a recuperação. Não me refiro só à Camargo. Todas as empresas de construção afetadas por essa crise praticamente desapareceram. Era um patrimônio do Brasil, um reconhecimento internacional da nossa capacidade. Carlos Pires Oliveira Dias, ex-conselheiro da administração da construtora Camargo Corrêa

Ao ser questionado sobre as decisões e multas da justiça, que afetaram a geração e manutenção de empregos da construtora, Dias citou que no "auge" a Camargo Corrêa contava com 75 mil funcionários, durante a Lava Jato o número ficou em torno de 50 mil e hoje não ultrapassa nem os 10 mil trabalhadores.

Mudança de área

Citando os "traumas" dos acordos, o ex-conselheiro apontou que a Camargo deve sair do setor da construção e virar um polo gestor de investimentos.

"Em parte, é isso mesmo [a mudança], até pelo trauma criado. Hoje, existe de fato uma decisão da terceira geração, à qual está delegada a orientação estratégica do grupo, de não querer trabalhar para o governo. A ferida é gigante. Tudo bem, não quero dizer que nós não tenhamos tido culpa, mas nós fomos vítimas de um processo sistêmico."

E continuou: "(...) Era um fato inerente à cultura brasileira, vamos chamar assim. Agora, dizer que a gente estaria se sentindo confortável com isso, nada disso, é óbvio que não estávamos nos sentindo assim. Mas os jovens que hoje estão com a responsabilidade de estabelecer a estratégia do grupo têm muita resistência a entrar nisso e voltar a ser atuantes de maneira forte nesse setor. Eles estão se concentrando em obras privadas.

Dias também apontou que "seria ingenuidade" dizer que não existem empresas no mundo que não conseguiriam executar grandes construções no território nacional, mas afirmou que "elas nunca quiseram vir para o Brasil" e, por isso, o conhecimento das construtoras aqui, hoje afetadas, eram de suma importância.

*Com Estadão Conteúdo