Viver com menos de R$ 500 por mês: família depende de quentinhas de creche
Daniele de Lima Costa, 34, moradora do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), vive com menos de R$ 500 por mês. Para ter comida em casa, depende de quentinhas distribuídas pela creche que um dos filhos frequenta. Responsável pelo sustento de dois dos quatro filhos, a dona de casa ganha R$ 400 do Auxílio Brasil e outros R$ 90 que consegue com a venda de reciclados. A renda média para cada um da família é R$ 163.
Ela é um exemplo concreto de uma situação apontada por pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o Mapa da Nova Pobreza. Segundo o levantamento, quase um terço da população do país (29,6%) vive com renda por mês de até R$ 497 para cada pessoa da família. Ao todo, são 62,9 milhões de pessoas que estão na linha da pobreza no Brasil.
Morte da mãe piorou situação
Ao UOL, Daniele contou que viu o orçamento familiar despencar em 2020, quando a mãe, que trabalhava com carteira assinada, morreu. Agora, ela espera o filho mais novo completar dois anos para enviá-lo para a creche e conseguir trabalhar.
Até lá, ela vai continuar contando com a ajuda da Associação Oficina de Vida, que além de funcionar como escola, garante as refeições das crianças e distribui quentinhas na comunidade.
"O meu mais velho [de seis anos] fica de 8h às 16h30 na escola e faz as principais refeições. Ele também leva quentinha para casa. Tem vezes que ganho até duas quentinhas, mas quando tem só uma, ele divide com o irmão pequeno".
A família vive à base de arroz, feijão, salsicha e ovo e mora numa casa invadida no interior da favela.
Renda de R$ 2.600 para 8 pessoas
Com casa própria e uma renda familiar de R$ 2.600, Suelen Silva dos Santos Esteves, 30, diz que tem fechado as contas no vermelho. É que o valor não tem sido suficiente para todas as despesas de uma família de dois adultos e seis crianças -de 1, 2, 6, 8, 12 e 14 anos.
Em entrevista ao UOL, a moradora do bairro do Moquetá, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, explicou que a maior parte da renda (R$ 2.000) vem do marido, que trabalha 15 dias por mês como embarcado (tarefas técnicas em barcos ou plataformas). O restante do dinheiro vem das faxinas que Suelen realiza.
A diarista contou ao UOL que o supermercado é a despesa que mais pesa no orçamento, já que as crianças estudam em escola pública.
"Com as coisas do jeito que estão, não tem como ter uma vida boa. Eu tenho comprado arroz, feijão e outras coisas de marcas mais baratas, mas às vezes acabam faltando as coisas".
Suelen conta que o marido tem procurado bicos como pintor para ocupar o restante dos dias em que não trabalha embarcado, mas tem sido raro conseguir esses extras. A renda média de cada pessoa da família é de R$ 325.
Aluguel pago por amigos
Desempregada desde o início da pandemia, Alessandra Gonçalves, 41, conta que tem precisado da ajuda de amigos para pagar o aluguel e a luz da quitinete onde mora, também em Nova Iguaçu.
Até ano passado, a ex-babá dividia um imóvel com o irmão e quatro crianças, mas precisou deixar a casa, após uma enchente. Hoje Alessandra divide o único quarto da casa com as duas filhas, de 6 e 9 anos.
Sem poder trabalhar, por não ter ninguém para ficar com as meninas, ela vive com R$ 450 do Auxílio Brasil e vale-gás oferecidos pelo governo federal. Para aumentar a renda, ela contou que tem trabalhado na confecção de caixas de lembranças e capas de tecidos para começar a vender.
"Conto com uma rede de apoio muito grande. As pessoas estão cuidando da gente. Tenho tudo escrito sobre o que posso comprar e nada pode ser fora disso. Aqui eu costumo comprar ovo, frango, pé de galinha, pescoço, essas coisas mais baratas."
As filhas de Alessandra estudam em escola pública. Elas também são beneficiadas por projetos sociais no bairro onde moram.
Mapa da Nova Pobreza
O Mapa da Nova Pobreza, elaborado pela FGV, aponta que 9,6 milhões de pessoas entraram na linha de pobreza em 2021 no Brasil. Com isso, o Brasil alcançou a marca de 62,9 brasileiros com renda mensal de até R$ 497 para cada pessoa da família.
Trata-se do maior patamar de pessoas em situação de pobreza desde o início da série histórica em 2012.
Segundo o estudo, a menor taxa de pobreza foi registrada em Santa Catarina (10,16%) e a maior taxa está no Maranhão (57,9%).
No Rio de Janeiro, onde vivem as famílias ouvidas pelo UOL, a taxa mais elevada está concentrada na região de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, (33,24%). Na capital do Rio, eram 16,68% vivendo nessa faixa.
Em São Paulo, a pior taxa está no Vale do Paraíba e Litoral Norte (21,69%). Na capital do Estado, são 17,46% da população.
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