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Milionários pela Humanidade: quem são e o que querem os ricaços pró-imposto

Abigail Disney e Marlene Engelhorn - UOL
Abigail Disney e Marlene Engelhorn Imagem: UOL

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

10/08/2022 13h00

Recentemente, a estudante de literatura em Viena, na Áustria, Marlene Engelhorn, 30, chamou atenção do mundo ao rejeitar uma herança de 4,2 bilhões de euros (R$ 21,9 bilhões), que irá receber quando a avó, Traudl Engelhorn-Vechiatto, morrer.

Engelhorn é descendente dos fundadores da Basf, empresa química multinacional com 78 bilhões de euros (R$ 407 bilhões) de faturamento anual.

"Essa não é uma questão de querer, mas uma questão de justiça. Eu não fiz nada para receber esta herança. Foi pura sorte na loteria do nascimento. Uma coincidência", disse Engelhorn ao canal austríaco ORF 2.

A estudante faz parte de um grupo formado por outros 91 homens e mulheres milionários de países da América do Norte, Europa e Oceania, que se reuniram em 2020 e fizeram um pedido: que os governos, ao redor do mundo, criassem políticas tributárias para taxá-los: são os Milionários pela Humanidade.

O grupo foi criado no início da pandemia de covid-19. Com o lockdown e a diminuição da atividade econômica, os ricaços pediram que fossem taxados em 1% sobre suas riquezas para que o recurso vindo deste imposto fosse usado para amenizar a crise sanitária.

Mas o grupo também quer que a verba seja usada para combater a pobreza e as mudanças climáticas, ajudando os governos a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

O grupo conta com pesos-pesados do sistema empresarial do mundo, como:

  • Tim e Abigail Disney (do grupo Walt Disney)
  • Morris Pearl (ex-diretor da empresa de investimentos BlackRock)
  • Djaffar Shalchi (empresário da Dinamarca e fundador da Human Act Foundation)
  • Jerry Greenfield (co-fundador da marca de sorvetes Ben and Jerry's)

Nenhum brasileiro assina a lista.

"Milionários como nós têm um papel fundamental a desempenhar na cura do nosso mundo. Não, não somos nós que cuidamos dos doentes nas enfermarias de terapia intensiva. Não estamos dirigindo as ambulâncias que levarão os doentes aos hospitais. Não estamos reabastecendo as prateleiras dos supermercados ou entregando comida de porta em porta. Mas temos dinheiro, muito. O dinheiro desesperadamente necessário agora continuará a ser necessário nos próximos anos, à medida que nosso mundo se recupera dessa crise", diz um trecho da carta, que pode ser encontrado no site do Milionários pela Humanidade.

Segundo o manifesto, cabe aos líderes governamentais assumir a responsabilidade de arrecadar os fundos necessários e gastá-los de forma justa —por isso o foco no aumento do imposto e não apenas na doação de recursos.

"Podemos garantir o financiamento adequado de nossos sistemas de saúde, escolas e segurança por meio de um aumento permanente de impostos sobre as pessoas mais ricas do planeta, pessoas como nós", diz a carta.

O grupo destaca a pesquisa da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que aponta que taxar os mais ricos em 1% viabilizaria o financiamento necessário para o mundo cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Críticas aos governos

Dois anos após a carta que anunciou a criação do grupo, o Milionários pela Humanidade redigiu um novo comunicado que foi lido em Davos, na Suíça, no Fórum Econômico Mundial, realizado em 2022.

O grupo disse que, mesmo com a pandemia, a taxação de grandes fortunas não avançou ao redor do mundo.

"A guerra na Ucrânia finalmente expôs o verdadeiro alcance da rede global corrompida que esconde a riqueza da elite, mina governos democraticamente eleitos e desestabiliza economias ao redor do mundo", diz um trecho da carta, que pode ser encontrada completa aqui.

O grupo diz que existe um "compromisso com o fracasso" dos governos ao redor do mundo, que pode ser visto pelo aumento "escandaloso" do custo de vida. "Não é um acidente infeliz", mas resultado de um "compromisso obstinado, de governos de todo o mundo, para preservar o poder e a riqueza de uma pequena minoria sobre as necessidades de seu público votante", alegam.

Tudo isso, afirma, coloca as democracias em xeque.

"As pessoas não confiam na democracia porque a oligarquia global prevalecente a está tornando sem sentido. Não importa quantas pessoas votem, se os governos continuarem a dar atenção à riqueza sobre o sentido, os votos e as vozes das pessoas comuns não são ouvidas", ressalta o texto.