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'Ganho R$ 7.000, mas vivo com R$ 10 mil': vale usar cheque especial assim?

O bancário Bruno Henrique Oliveira Campos diz que usa o cheque especial para ter um padrão de vida melhor - Acervo pessoal
O bancário Bruno Henrique Oliveira Campos diz que usa o cheque especial para ter um padrão de vida melhor Imagem: Acervo pessoal

Do UOL, em São Paulo

13/10/2022 04h00

O bancário Bruno Henrique Oliveira Campos, 27, usa o cheque especial todos os meses há cerca de cinco anos. Hoje a modalidade de crédito é uma extensão da sua renda, que permite que ele tenha um padrão de vida mais alto do que teria com seu salário.

Campos tem uma renda mensal de cerca de R$ 7.000 e um custo de vida de R$ 10 mil. Essa diferença é paga pelo cheque especial.

"Todas as minhas contas estão em débito automático, como cartão de crédito, contas de luz e água. Quando o salário acaba, pago tudo no cheque especial", afirma Campos.

Juros valem a pena para bancário: Apesar de saber que o cheque especial tem juros altos, Campos diz que vale a pena pagar esse adicional para ter um padrão de vida mais alto. Hoje ele diz que "não viveria sem" o crédito.

Sem o cheque especial, eu não viajaria de férias, não compraria várias coisas e não teria o padrão de vida que eu tenho hoje. O meu custo de vida que o salário não cobre é bancado pelo cheque especial.
Bruno Henrique Oliveira Campos, bancário

Cheque especial não pode ser extensão da renda: Apesar de Oliveira usar o cheque especial como um complemento de renda, o planejador financeiro pela Planejar (Associação Financeira de Planejamento Financeiro) Carlos Castro afirma que ninguém deveria fazer isso no dia a dia, já que os juros altos levam muitos brasileiros ao endividamento (veja a simulação abaixo).

Caixa de loja usa cheque especial para comprar comida

Dandara Loraine Miller de Oliveira, 22, cheque especial - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Dandara Oliveira usa o cheque especial para comprar comida
Imagem: Acervo pessoal

A caixa de loja e estudante Dandara Loraine Miller de Oliveira, 22, trabalha como caixa em uma loja de shopping no Rio de Janeiro. Como trabalha por escala, ou seja, de acordo com a demanda do local, só recebe pelos dias trabalhados.

Oliveira diz que o valor máximo que recebeu foi cerca de R$ 1.000 ao longo dos quatro meses em que trabalha no local.

"Eu abri uma conta assim que comecei a trabalhar e agora tenho limite de crédito. Como o salário nunca é suficiente para me manter, eu sempre acabo usando [o cheque especial]. Uso mais do meio para o final do mês para poder comprar comida", afirma Oliveira.

Cheque especial é um problema, mas falta de crédito também: Oliveira está no oitavo semestre de psicologia e faz estágio não remunerado, além de trabalhar na loja. O estágio é pré-requisito para que ela consiga o diploma. O curso tem duração de dez semestres (cinco anos).

Oliveira diz que não gosta de usar o cheque especial, mas que muitas vezes a possibilidade de ter crédito disponível faz falta.

"Neste mês, gastei R$ 150 no cheque especial. É ruim usar, mas também é muito difícil ter pouco limite. Não vou conseguir aumentar, porque meu salário é baixo. Também não tenho cartão de crédito, que seria uma mão na roda", afirma Oliveira.

Como é o uso do cheque especial no Brasil? Oliveira e Campos fazem parte da estatística. De acordo com o BC (Banco Central), o uso do cheque especial bateu recorde em agosto e atingiu o maior valor em 11 anos, desde março de 2011, ano em que o BC começou a acompanhar o dado.

Em agosto, foram concedidos R$ 38,5 bilhões no cheque especial. O problema é que a taxa de juros desse tipo de empréstimo é alta, justamente pela facilidade para contratar. A taxa ficou em 128,6% ao ano em agosto deste ano.

Quanto fica uma dívida no cheque especial? O UOL pediu à Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) uma simulação considerando um empréstimo de R$ 5.000 em um prazo de um ano. As taxas usadas são as divulgadas pelo BC para cada modalidade de crédito.

A dívida no cheque especial de R$ 5.000, com juros a 7,13% ao mês, vira R$ 7.606,56, considerando que o consumidor esteja pagando as parcelas mensais. Em um crédito pessoal nas mesmas condições, com taxa de 5,28% ao mês, a dívida vira R$ 6.876,84.

A mesma dívida em um empréstimo consignado para trabalhadores do setor privado, com juros de 2,68% ao mês, ficaria em R$ 5.913,12. O consignado é descontado em automaticamente da folha de pagamento do consumidor. Por isso as taxas costumam ser mais baixas, já que o banco tem a garantia de que a dívida será paga.

Como sair das dívidas no cheque especial? Castro diz que o primeiro passo é identificar os gastos mensais. Como o cheque especial é fácil e automático em muitas contas, Castro diz que muitas pessoas começam a usar o empréstimo sem nem saberem.

Se o cheque especial está habilitado na conta, assim que o saldo acaba, os gastos começam a contar no cheque especial.

Depois de entender o tamanho da dívida, o próximo passo é negociar com o banco para diminuir o valor devido. Outra opção é trocar a dívida no cheque especial por outra mais barata, como um crédito pessoal ou consignado, para quem tem um emprego com carteira assinada.

Como ficam as contas de quem não tem salário fixo? Para quem não consegue comprovar renda para trocar a dívida por outra mais barata, a alternativa segundo Castro é buscar fintechs, que normalmente oferecem crédito com taxas mais baixas e com mais facilidades mesmo para quem tem score de crédito baixo.

O score é uma pontuação de zero a 1.000 que mostra quais as chances de determinada pessoa pagar as contas em dia nos próximos 12 meses. Castro diz ainda que o crédito pessoal está disponível para qualquer pessoa, desde que ela seja aprovada na análise de crédito do banco.

Dívidas altas demais têm solução: Castro diz que quem está devendo valores muito altos pode acionar a lei dos superendividados. Ela vale quando a dívida já está tão alta que dificilmente seria possível pagar apenas com uma reorganização nas finanças.

O que é a lei do superendividamento? O Código de Defesa do Consumidor define superendividamento como a situação de uma pessoa que tem uma dívida que não seria paga sem afetar o que é essencial para viver.

Em julho deste ano, o presidente Jair Bolsonaro editou um decreto que determina que esse valor mínimo seja de R$ 303.

A lei inclui empréstimos (como o cheque especial), compras a prazo e serviços de prestação continuada. Agora empréstimos que tenham algum bem como garantia, como o financiamento imobiliário e o de automóveis, não podem ser renegociados dentro das regras da lei de superendividamento.

O cheque especial é mais caro, porque ele é fácil e representa um risco maior ao banco. Para tomar créditos mais baratos, o processo é mais burocrático para o consumidor.
Carlos Castro, planejador financeiro da Planejar

O que fazer depois de pagar as dívidas? É hora de construir uma reserva de emergência, de acordo com Castro, que é um montante de dinheiro que serve para qualquer tipo de gasto inesperado que o consumidor tenha.