'Sinais de desespero e frustração', diz Meirelles sobre ataques de Guedes
O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou hoje que as críticas que tem recebido do ministro da Economia, Paulo Guedes, são sinais de "frustração e desespero" por não ter conseguido realizar todas as reformas que abarcavam as promessas de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) num momento em que o mandatário aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto.
"Paulo Guedes é um ministro que, de baixo do falatório enorme, simplesmente não faz tudo aquilo que anuncia. Não é uma questão de prestar atenção ao que é dito, porque ele mostra incompreensão básica da realidade e, evidentemente, parte para o desespero. Isso mostra o desespero de quem passou a vida inteira esperando um cargo e, de repente, fracassa nessa função", afirmou, em entrevista à CNN Brasil.
Mais cedo, o ministro da Economia disse que Meirelles nem economista é. As críticas ocorreram quando Guedes falava sobre o teto de gastos, regra que limita o crescimento de despesas à inflação implementada quando Meirelles comandava o Ministério da Fazenda, durante o governo Michel Temer (MDB). O ministro bolsonarista disse que a medida foi mal construída, e por isso o teto foi furado durante a atual gestão.
"Nós furamos o teto porque é um teto muito mal construído", afirmou. "É tão mal construído que o economista, não é nem economista, o ministro que estão falando que vai ser do Lula, o Meirelles, nem economista é", acrescentou, em meio a aplausos da plateia durante evento na Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais).
Guedes também debochou da forma como Meirelles fala. "Ele fez um teto, passou anos falando 'oh, porque estão furando meu teto' [imitando a pronúncia do ex-ministro]. Ele fala empolado, né?", afirmou, em meio a risadas dos presentes. "Já anunciou que vai entrar furando", disse.
Ontem, o ex-ministro defendeu a continuidade do Auxílio Brasil no valor de R$ 600 e afirmou que superar "excepcionalmente" o teto de gastos seria uma alternativa para bancar benefício social.
"Criar, primeiro, a excepcionalidade para 2023, aquilo que o mercado chama de waiver [licença temporária das atuais regras fiscais]. Criar uma excepcionalidade dizendo o seguinte: 'Em 2023, nós vamos excepcionalmente superar o teto 'em tanto' e cumprir aquilo'", afirmou Meirelles.
Segundo Meirelles, que também presidiu o BC (Banco Central) durante o governo de Lula, a diferença de R$ 200 do Auxílio Brasil —de R$ 400 para R$ 600— provocaria custo de R$ 53 bilhões aos cofres públicos.
"Nós temos que definir os gastos que já estão definidos e aqueles que ainda não estão definidos, mas que precisam continuar, como o Auxílio Brasil de R$ 600. Não é possível chegar para a família que precisa dos R$ 600 para comer e dizer que, a partir de agora, são só R$ 400. Não dá, pelo menos durante um bom tempo, até o país ter condições de criar emprego, renda", afirmou.
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