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Redes criticam fala de Lula sobre teto de gastos, diz pesquisa

Do UOL, em São Paulo

12/11/2022 13h43Atualizada em 12/11/2022 14h03

As rede sociais seguiram o mau humor do mercado financeiro e também condenaram as críticas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao teto de gastos, que estabelece um limite para despesas públicas.

Quase metade das postagens no Twitter, no Facebook e no Instagram relacionando Lula a termos como "mercado", "bolsa" e "dólar" foram negativas ao petista, segundo a Vox Radar, empresa especializada na análise das redes sociais que mediu as interações nas redes com exclusividade para o UOL.

A fala de Lula ocorreu na quinta-feira (10), durante um discurso no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília para a equipe que cuida da transição de governo.

"Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse país?", questionou Lula. "Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste país?"

Primeiro o mercado, depois as redes. Os investidores reagiram imediatamente ao discurso. Às 11h55, ainda durante a fala de Lula, o Ibovespa caía 2,63%, após ceder 3,42%.

Nas redes sociais, a fala também não pegou bem. "Foram cerca de 220 mil conteúdos (entre posts e compartilhamentos) citando o petista em contexto associado à declaração e à repercussão econômica atrelada a ela, totalizando 1,3 milhão de interações no Twitter, Facebook e Instagram, entre a quinta e 10h da sexta-feira (11)", afirma a Vox Radar.

Avaliação negativa. Apenas a relação entre Lula e o termo "mercado" somaram 80 mil publicações, com 502 mil interações. As menções ao presidente eleito e a palavra "dólar" e "bolsa" também foram destaque.

"A maioria das postagens estiveram em contexto negativo ao petista", diz a plataforma:

  • "Lula" e "mercado": 46% das menções foram negativas, 45% neutras e 9% foram positivas;
  • "Lula" e "teto de gastos": 52% negativas, 41% neutras e 7% foram positivas;
  • "Lula" e "responsabilidade fiscal" e "equilíbrio fiscal": 42% negativas, 50% neutras e 8% positivas.

"Em um contexto mais amplo, o termo 'economia' —presente em mais de 4 mil postagens que citaram Lula— contou com 50% dessas publicações em cenário negativo ao presidente eleito, com 43% neutras e 7% positivas", diz a Vox Radar.

Como Lula quer "furar o teto"? A fala criticada de Lula se referia à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da transição, a forma legal que o governo eleito encontrou para abrir espaço no orçamento federal para aumentar o salário mínimo acima da inflação e manter o Auxílio Brasil —que deve voltar a ser chamado de Bolsa Família— em R$ 600 no ano que vem.

Se a proposta for aprovada no Congresso, Lula conseguiria "furar o teto de gastos" porque estaria autorizado a conceder aumentos acima da inflação, justamente o limite imposto pela regra do teto de gastos.

Após o sobe e desce na Bolsa, o vice-presidente eleito e coordenador da equipe de transição, Geraldo Alckmin (PSB), minimizou a reação do mercado financeiro ao dizer que fatores externos influenciaram no comportamento das ações. Em seguida, ele também defendeu a necessidade de combater a fome no Brasil.

"Isso [retenção de gastos públicos] não é incompatível com a questão social", disse. "O que precisa é a economia crescer, esse é o fator relevante."

Como o mercado reagiu? Na quinta-feira, a Bolsa caiu 3,35% e o dólar disparou 4,14%. Já na sexta-feira, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em alta de 2,26%, impulsionado principalmente por questões externas e pela reabertura da economia da China, enquanto o dólar caiu 1,17%.

O que acalmou o mercado foi a informação que a PEC de Transição foi adiada para a semana que vem, o que poderia dar mais tempo para que o congresso lesse o texto e sugerisse alterações.

Mesmo assim, a pressão dos analistas sobre a transição irá continuar. "A incerteza vai permanecer nos próximos dias", diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos. "O mercado achou que a equipe de transição seria mais moderada, mas está avaliando a equipe como mais agressiva", diz ele.