De pioneira a dinossauro: Kodak mudou a fotografia, mas sucumbiu ao celular

A geração que cresceu no século 21 vivenciou a revolução digital e a popularização dos smartphones, que permitiu a quem tem um celular tirar fotos nos mais diversos cenários do planeta. Mas para chegar aqui, foram preciso invenções pioneiras do passado, e a Kodak teve papel essencial na primeira popularização das câmeras fotográficas — aquelas analógicas, com rolos de filmes para revelação que as crianças de hoje podem nunca ter visto.

No distante ano de 1888, o inventor e empreendedor norte-americano George Eastman fundou a Kodak e revolucionou a forma como as pessoas registravam seus momentos.

Em uma época em que as fotos eram tiradas em placas de vidro, a Kodak foi pioneira ao lançar em 1900 a primeira câmera de filme e do primeiro filme em rolo flexível, revolucionando a fotografia.

Goerge Eastman e Thomas Edison
Goerge Eastman e Thomas Edison Imagem: Reprodução/Picryl

Criações popularizam a fotografia

Ao longo do século 20, a marca dominou o mercado, com câmeras icônicas e design elegante. Durante esse período, a Kodak deixou sua marca com uma série de produtos para o setor. Um deles foi a primeira câmera de bolso, conhecida como Pocket Kodak, que trouxe a fotografia para um formato mais portátil e acessível.

Além disso, a Kodak foi responsável pelo desenvolvimento do primeiro filme a cores, o Kodachrome, em 1935.

A empresa também inovou ao criar a primeira câmera fotográfica com controle de exposição automático e oito velocidades no obturador, a Super Six-20, lançada em 1938.

A invenção permitiu que os diversos novos fotógrafos ajustassem automaticamente a exposição da câmera, de acordo com as condições de luz, proporcionando maior flexibilidade e precisão na captura de imagens.

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A Kodak simplificou a fotografia, tornando-a acessível a todos, independentemente de sua experiência ou conhecimento técnico. Seu lendário slogan "Você aperta o botão, nós fazemos o resto" refletia esse compromisso — em um momento em que só se via o resultado dos cliques ao mandar o filme revelar.

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Em 1975, a Kodak deu um passo pioneiro e inconsciente quanto às consequências futuras para a empresa. Naquele ano, o engenheiro da empresa Steve Sasson desenvolveu uma câmera digital que tirava fotos com uma resolução de 0,1 megapixel. O produto, porém, não chegou a ser comercializado, mas abriu caminho para outras tentativas digitais, como em 1986, quando a empresa lançou uma câmera de 1 megapixel.

Já em 1991, a Kodak lançou a DCS (Digital Camera System), a primeira câmera digital baseada em uma câmera SLR (Single Lens Reflex), permitindo ao usuário visualizar exatamente o que seria capturado na hora de tirar a fotografia.

Poucos anos depois, a Kodak teve papel fundamental na parceria com a Apple para o lançamento, em 1994, da QuickTake, uma das primeiras câmeras digitais realmente voltadas ao consumidor comum.

Avanços na saúde

A Kodak também deixou um legado significativo em outros setores. Seu compromisso com a pesquisa e desenvolvimento levou a avanços na indústria da saúde, com a criação de equipamentos médicos de imagem.

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Além disso, a empresa também contribuiu para a história da indústria cinematográfica, por meio da Kodak Motion Picture Film.

No setor, a Kodak forneceu diferentes tipos de filmes, desde negativos em preto e branco até coloridos e de alta sensibilidade, atendendo às necessidades diversificadas do cinema.

De pioneira a dinossauro

De empresa inovadora no século 20, a Kodak aos poucos foi se tornando um dinossauro na nova época digital. A companhia, que até então dominava o mercado de filmes fotográficos, não conseguiu acompanhar a acelerada evolução da tecnologia digital.

A Kodak bem que tentou se ajustar ao lançar suas próprias câmeras digitais e investir em pesquisa e desenvolvimento na área. Porém, as investidas não foram bem sucedidas o suficiente para manter sua posição de liderança.

Um dos grandes desafios da Kodak na nova era foi a concorrência acirrada de novas empresas no setor. Enquanto lutava para se adaptar à era digital, Canon, Nikon e Sony ganharam destaque e conquistaram uma fatia significativa do mercado de câmeras digitais.

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Para piorar, a popularização dos smartphones, que incorporavam câmeras cada vez mais avançadas, também impactou negativamente as vendas de câmeras tradicionais.

Falência e venda de patentes

Em 2012, depois de 124 anos de sua fundação, a Kodak declarou falência. A empresa não deixou de existir, mas passou por uma reestruturação e concentrou seus esforços em áreas como impressão comercial e tecnologias relacionadas à imagem.

Durante o processo de recuperação, a Kodak vendeu suas patentes para um consórcio composto por gigantes como Google, Apple e outras empresas influentes. A venda foi avaliada em US$ 525 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões), montante que auxiliou em sua reestruturação e recuperação.

Além dos setores de impressão e tecnologia, a empresa buscou outras frentes de atuação. No local onde antes produzia materiais voltados para fotografia, por exemplo, o Eastman Business Park, em Nova York, a companhia passou a abrigar um aglomerado para outras empresas que fabricam desde embalagens até molho de tomate.

A diversificação permitiu à empresa aproveitar os recursos disponíveis para novas oportunidades de negócio.

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Em 2020, em resposta às necessidades criadas pela pandemia de covid-19, a Kodak se lançou no setor farmacêutico. A companhia obteve um empréstimo de US$ 765 milhões (aproximadamente R$ 3,7 bilhões) do governo dos Estados Unidos, por meio da Corporação Internacional de Financiamento ao Desenvolvimento dos Estados Unidos (DFC), para o financiamento da Kodak Pharmaceuticals, uma nova divisão especializada na produção de componentes farmacêuticos.

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