Após 'um ano para esquecer', startups devem receber investimentos em 2024

As startups devem receber mais investimento em 2024 com quedas de juros e equilíbrio no preço de oferta das empresas no mercado. As startups que oferecerem soluções ligadas à inteligência artificial devem se destacar na corrida pelo dinheiro dos investidores ao longo do ano, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

O que aconteceu

2023 foi um ano "para esquecer". Amure Pinho, fundador e presidente do Investidores.vc, plataforma de investimento em startups, afirma que o ano passado fez com que empresas reavaliassem suas operações, já que não havia tanto dinheiro disponível no mercado.

O ano passado serviu para reequilibrar os valuations das empresas, ou seja, quanto aquela empresa vale para receber investimento. Estes valores ficaram muito altos em 2020 e 2021, quando as startups entregaram diversas soluções necessárias para o momento pandêmico.

O volume de investimentos em startups tem tudo para ser maior em 2024. 2023 foi marcado pela escassez de dinheiro e juros altos. Pinho afirma que, em cenários de juros altos, os investidores preferem colocar o dinheiro em ativos menos arriscados e com altos rendimentos do que apostar em inovação, que é um investimento bastante arriscado. Com a queda dos juros, o cenário começa a ficar mais atrativo novamente.

Rodadas de investimento devem ser mais fortes no segundo semestre, para Pinho. Ele diz que as empresas devem deixar para abrir rodas de investimento a partir de abril, o que pode trazer uma "enxurrada das startups buscando dinheiro", para Pinho.

As startups tiveram um boom no começo de 2020 a 2021 com a pandemia. Em 2022, começou o "inverno das startups". Depois do excesso de dinheiro no mercado, esses valores pararam de ir para o setor à medida que a economia reabria e voltava ao normal no pós-pandemia. Pinho diz que o investidor começou a pagar mais caro pelas empresas. Desde 2022 houve um movimento de correção destes valores, que seguiu em 2023.

As empresas precisaram focar em eficiência em 2023. Andre Szapiro, head da gestora de fundos de investimento SRM Ventures, afirma que 2023 foi um ano difícil e as startups precisaram se adaptar com o dinheiro que tinham disponível.

Em 2021 tinha muito capital. O mercado estava muito aquecido, com muitos negócios bons. Em 2023, com a seca de dinheiro de venture capital, precisaram melhorar margem, diminuir custo, e vimos empresas se reinventando. Andre Szapiro, head da SRM Ventures

Inteligência artificial

Negócios ligados a inteligência artificial devem receber mais investimento ao longo do ano. Outros setores de destaque para os especialistas ouvidos pelo UOL são startups de saúde, agronegócio, indústria, logística e alimentação.

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A inteligência artificial começou a se desenvolver de forma mais expressiva no ano passado. Para Leonardo Cyreno, diretor de eficiência comercial e growth da AGR Consultores, 2024 será o ano em que as empresas vão explorar como a IA pode ser aplicada em seus processos para melhorar a empresa e, quem tiver a melhor solução com menor custo, receberá mais investimento do mercado.

Todas as empresas querem algo com IA. Ela é rápida, não envolve muitas pessoas, não precisa de grande infraestrutura. O que você precisa é de uma boa ideia com uma boa ferramenta de IA que potencializa resultados [das empresas].
Leonardo Cyreno, diretor de eficiência comercial e growth da AGR Consultores

Os fundos vão buscar startups com alto potencial de escalar o negócio com baixo nível de custo, diz Cyreno. Ao mesmo tempo que o cenário favorece as startups de IA, a concorrência deve ser alta. Como o assunto é uma das tendências, diversas empresas vão querer entrar no nicho, o que aumenta a concorrência e pode dificultar a atração de investimentos — caso várias empresas ofereçam a mesma solução, por exemplo.

Acho que vamos ver muitos negócios usando marketing com IA e algumas soluções que trazem eficiência com a tecnologia. Setores como inteligência artificial, BIs [business inteligence, que é inteligência de negócios, em português], data inteligence, analytics, são muito quentes.
Amure Pinho

Oportunidades e desafios

Há dinheiro disponível no mercado. Szapiro diz que fundos estão com dinheiro em caixa, pelo cenário de menos investimento em 2023, e o mercado continua corrigindo os valores de mercado das empresas, deixando os preços mais justos. A queda nos juros faz com que investimentos mais arriscados, como as startups, voltem a ser mais interessantes.

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Concorrência será um desafio. Mais startups devem buscar investimentos a partir de abril deste ano. Em janeiro muitos investidores estão de férias e fevereiro é mês de Carnaval, o que faz com que as empresas deixem para depois as rodadas de investimento. Pinho afirma que a disputa pelo dinheiro dos investidores será acirrada, principalmente pelo fato de 2023 ter sido um ano mais difícil de investimento.

Conseguir crédito com bancos ainda é um desafio para as startups. O risco dos negócios faz com que, muitas vezes, os empreendedores só consigam crédito por suas contas pessoais, sem acesso à linha de créditos empresariais, segundo Fabricio Paulo, CFO da Abstartups (Associação Brasileira de Startups).

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