Bolsa e dólar: real já desvalorizou quase 4% em seis dias

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou o pregão desta quarta-feira (24) em baixa. Depois de muito vai e vem, terminou o dia no negativo, caindo 0,13%, a 126.424,17 pontos, conforme dados preliminares. O dólar finalizou o dia em alta de 1,27%, indo a R$ 5,656.

O que aconteceu?

Há seis dias (úteis) consecutivos o dólar sobe. Desde 16 de julho, a moeda acumula alta de 3,82%, considerando a Ptax para venda, segundo a Elos Ayta. A PTax é a taxa de referência média diária, calculada pelo Banco Central ao meio-dia. Dos 18 dias úteis de julho, o dólar caiu em seis e subiu em 12, diz a consultoria.

A explicação da alta da divisa está na queda das commodities. Produtos básicos como minério de ferro estão com preço caindo. Como o Brasil é exportador desses produtos — principalmente para a China —, entram menos dólares no país por conta disso. "Existe uma expectativa de crescimento menor da China", explica Sergio Brotto, diretor executivo da Dascam Corretora de Câmbio.

E há problemas vindos também do Japão. O banco central japonês vem valorizando o iene, a moeda local. "Então, quem tomou recursos nessa moeda para aplicações está retornando a investir no Japão", explica Brotto. Isso prejudica principalmente moedas emergentes, como o real.

A preocupação com a política fiscal brasileira também conta. "Ela está entre os pontos mais significativos para a elevação do dólar frente o real", diz o especialista. A equipe econômica decidiu fazer uma coletiva de imprensa na próxima semana para detalhar os cortes de gastos nos orçamentos de 2024 e 2025. Foi o que disse ontem a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.

A alta do dólar puxa muitos preços para cima, como o dos combustíveis. Então, as perspectivas de uma inflação mais próxima da meta do Banco Central, de 2%, ficam mais complicadas.

"Por isso acredito que o Banco Central vai manter a taxa de juros inalterada na reunião da semana que vem", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. O Comitê de Política Monetária fará sua próxima reunião nos dias 30 e 31 de julho, terça e quarta-feira da semana que vem.

E a Bolsa?

O Ibovespa ficou o dia todo entre o campo positivo e o negativo. Isso porque o petróleo teve uma leve recuperação de preços internacionalmente. Esse fator acabou puxando a Bolsa para o positivo. Mas, por outro, os resultados ruins das duas primeiras Big Techs a divulgar balanços do segundo trimestre, influenciaram negativamente o índice com mais vigor.

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A fabricante de carros elétricos Tesla (TSLA34) e a Alphabet (GOGL34), dona do Google, decepcionaram. A Tesla teve a pior margem de lucro da empresa em mais de cinco anos. A montadora cortou o preço dos seus veículos para aumentar a demanda e investiu em projetos de inteligência artificial, o que explica a queda. O lucro encolheu 45% de abril a junho, indo para US$ 1,48 bilhão.

Já o Google não foi tão mal. Mas o mercado esperava números brilhantes, por isso a frustração. As vendas de publicidade, a principal fonte de receita da empresa, aumentaram 11%, para US$ 64,6 bilhões no segundo trimestre, impulsionadas por eventos como as Olimpíadas de Paris e eleições em vários países, incluindo os Estados Unidos.

Na outra ponta, que forçava o Ibovespa para cima, o petróleo teve alta e interrompeu a sequência de perdas. O tipo Brent encerrou o dia em em alta de 0,85%, a US$ 81,71 o barril. Um relatório do setor indicou queda dos estoques nos Estados Unidos pela quarta semana. A baixa foi de 3,741 milhões de barris na semana passada, bem acima da expectativa do mercado, que era de 1,2 milhão de barris.

Tanto que as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) respondem a isso. PETR3 terminou o dia em alta de 1,21% indo para R$ 40,99 e PETR4 valorizou 0,91%, chegando a R$ 37,77, conforme dados preliminares.

Mas o minério de ferro seguiu caindo. Na China, maior mercado do ferro brasileiro, mesmo com o corte de juros feito pelo governo, a economia não está engrenando. Por isso, as influências externas acabaram vencendo e Bolsa fechou em queda.

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