Delfim Netto, morto aos 96 anos, doou 250 mil livros para biblioteca na USP
O ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento Antônio Delfim Netto, que morreu na madrugada desta segunda-feira (12), aos 96 anos, doou sua biblioteca à USP (Universidade de São Paulo), instituição onde estudou e deu aulas por vários anos.
O que aconteceu
Com 250 mil livros, a coleção era uma das maiores bibliotecas privadas do Brasil. Seu gosto por garimpar livros em sebos e livrarias o fez montar o acervo.
"Eu estou ficando velho, e a USP vai continuar", disse ele em 2011 à Folha ao justificar a doação. Ele ingressou na FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária) da universidade em 1948, e logo depois de formado tornou-se professor assistente na mesma instituição. "Estou devolvendo para a FEA tudo aquilo que ela me deu", afirmou Delfim à época.
A faculdade precisou construir um espaço para abrigar o acervo, inaugurado em 2014. Constituída em sua maioria por títulos de economia, como a primeira edição da obra de John Keynes "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", de 1936, e a primeira edição de "A riqueza das nações", de Adam Smith, de 1776. Mas também há livros e documentos de história, geografia, filosofia, ciência política e matemática.
Junto com a sua biblioteca, Delfim Netto doou também todo o mobiliário. Segundo o jornal da USP, há um espaço que reproduz a sua sala, com uma escrivaninha de imbuia, com um tampo revestido em couro. Há ainda cadeiras estofadas e uma pequena máquina de escrever portátil.
Dellfim tornou-se professor catedrático da USP em 1958, cargo mais alto em uma carreira docente universitária. Ele foi o primeiro ex-aluno da faculdade após a regulamentação da profissão de economista a conquistar o cargo.
Uma das figuras mais influentes da ditadura militar, Delfim estava internado havia uma semana no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele implementou medidas que desencadearam o "milagre econômico" —período de amplo crescimento econômico nacional, que focaram na atração de capital externo e avanços do PIB (Produto Interno Bruto).
Ele ficou marcado também por ter sido um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), de dezembro de 1968, que endureceu o regime militar e permitiu a perseguição a rivais políticos do governo. Após o fim do regime ditatorial no Brasil, Delfim foi deputado federal por São Paulo por 20 anos.
Delfim Netto deixa filha e neto. Não haverá velório aberto, e seu enterro será restrito à família.
Deixe seu comentário