'Plenamente de acordo' com AI-5: qual a ligação de Delfim Netto e ditadura?

Delfim Netto morreu hoje aos 96 anos em São Paulo, depois de uma semana internado no Hospital Israelita Albert Einstein. Professor, economista, político e diplomata, ele foi ministro da Fazenda durante boa parte da ditadura militar no Brasil.

Delfim e a ditadura

Ministro da Fazenda. Em 1967, Delfim Netto se tornou ministro da Fazenda do mandado do general Costa e Silva. Antes, ele ocupava a Secretaria da Fazenda de São Paulo na gestão de Laudo Natel.

Signatário do AI-5. Delfim foi um dos signatários do Ato Institucional Nº 5, de dezembro de 1968, que endureceu o regime militar e permitiu a perseguição a rivais políticos do governo. O período ficou conhecido como o mais sangrento da ditadura militar no Brasil.

Durante a reunião, admitiu-se que o regime seria ditatorial. "Eu também confesso, como o vice-presidente da República, que realmente com este ato nós estamos instituindo uma ditadura. E acho que se ela é necessária, devemos tomar a responsabilidade de fazê-la", disse Magalhães Pinto, então Ministro das Relações Exteriores.

Ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, foi além: "Eu seria menos cauteloso do que o próprio ministro das Relações Exteriores, quando diz que não sabe se o que restou caracterizaria a nossa ordem jurídica como não sendo ditatorial, eu admitiria que ela é ditatorial. Mas, às favas, senhor presidente, neste momento, todos, todos os escrúpulos de consciência. Delfim Netto, então, apoiou a decisão - e deixou no ar que ainda a considerava branda.

Estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no conselho. E, se você excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente
Delfim Netto, na reunião que instituiu o AI-5

Implementou medidas que desencadearam o "milagre econômico". No período, a facilidade de empréstimos impulsionou o consumo e a produção de bens duráveis em território nacional, especialmente eletrodomésticos e automóveis.

Economia cresceu, concentração de renda também. As medidas adotadas por Delfim Netto fizeram a economia brasileira crescer cerca de 11% ao ano, mas o período também ficou marcado pelo aumento da concentração de renda no Brasil.

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Frase famosa. Delfim é o autor da célebre frase de que é preciso "fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo", defendendo que primeiro era necessário impulsionar o PIB para depois dividir a riqueza entre a população. Esta última etapa não aconteceu.

Saída da Fazenda para ir à França. Delfim Netto permaneceu como ministro da Fazenda durante o mandato de Emílio Médici, e deixou o cargo na gestão de Ernesto Geisel para ser embaixador do Brasil na França, entre 1974 e 1978.

Assumiu Agricultura e Planejamento. Quando retornou ao Brasil, o período de grande crescimento econômico e inflação baixa já tinha perdido o fôlego, e ele assumiu o Ministério da Agricultura por cinco meses, seguido do Ministério da Secretaria do Planejamento da Presidência do Brasil em condições econômicas menos favoráveis.

Contribuição na negociação de dívida externa. Nessa última passagem, Delfim contribuiu para a negociação da dívida externa elevada com os credores estrangeiros e com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com quem conseguiu empréstimo de US$ 6,5 bilhões.

Ida para a política. Após o período militar, Delfim Netto se tornou deputado federal por São Paulo, cargo que exerceu por 20 anos, entre 1987 e 2007.

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